Deu no GLOBO:
O empresário Eike Batista fez pagamentos para o casal João Santana e Mônica Moura, em contas do casal no exterior, segundo relato da mulher do marqueteiro do PT a procuradores, durante tentativa de fechar acordo de delação premiada. Os pagamentos estariam vinculados a campanhas políticas realizadas pelo casal, mas ela não esclareceu se os pagamentos são referentes a trabalhos realizados no Brasil ou no exterior.
As empresas do casal Santana prestaram serviços na campanha à reeleição de Lula, em 2006, e nas disputas vencidas por Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, além de campanhas municipais da legenda. Nas três eleições, eles receberam, em contas oficiais, cerca de R$ 110 milhões. O marqueteiro também atuou em Venezuela, Angola, República Dominicana e Panamá, mas não há registro de atividades das empresas de Eike nestes países que justificassem o apoio eleitoral por baixo dos panos.
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As empresas do casal Santana prestaram serviços na campanha à reeleição de Lula, em 2006, e nas disputas vencidas por Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, além de campanhas municipais da legenda. Nas três eleições, eles receberam, em contas oficiais, cerca de R$ 110 milhões. O marqueteiro também atuou em Venezuela, Angola, República Dominicana e Panamá, mas não há registro de atividades das empresas de Eike nestes países que justificassem o apoio eleitoral por baixo dos panos.
Eike Batista é o melhor exemplo do nosso “capitalismo de compadres”, uma espécie de socialismo que permite o lucro. O governo controla tanto a economia que basta a “amizade com o rei” para se dar bem, muito bem. O mais irônico é muita gente da esquerda não perceber que defende um modelo que beneficia justamente esse tipo de “empresário”. A ambição desmedida de Eike, o “empresário do PT”, já foi tema de coluna minha no GLOBO:
De forma irresponsável, Eike foi ignorando alertas ao longo do caminho, e abraçando cada vez mais empreitadas em diversos setores diferentes. Malu chama a história do grupo X de “a epítome de um período do capitalismo brasileiro”. De fato, foi isso mesmo. Já fiz um paralelo, aqui nesse espaço, entre Eike e Lula em suas respectivas áreas. Se um virou o Midas da economia, o outro foi alçado ao patamar de gênio da política, ignorando-se que perdeu três eleições seguidas, duas delas no primeiro turno para Fernando Henrique.
Tanto um como o outro são carismáticos e muito ambiciosos. Mas ambos eram apenas a pessoa certa na hora certa, surfando uma onda que fora produzida fora do país, pelo crescimento chinês somado ao baixo custo de capital no mundo desenvolvido. Criou-se o ambiente perfeito de “tsunami monetário” para um país como o Brasil, com recursos naturais abundantes. O ciclo favorável das commodities explica os “fenômenos” Eike e Lula mais do que qualquer mérito individual de cada um deles.
Outra coisa que a autora faz com maestria é desvendar em riqueza de detalhes aquilo que já sabíamos em termos gerais: a enorme simbiose entre Eike e o governo. O empresário ficou obstinado em se transformar num “empresário do PT”, ao perceber que tal parceria lhe seria extremamente vantajosa. Com o BNDES presidido por Luciano Coutinho, que desde a década de 1980 defendia o fomento de fortes grupos nacionais dirigidos pelo Estado, o casamento seria inevitável.
“Mais do que um empresário símbolo do novo capitalismo que emergia no Brasil, Eike Batista era agora alguém de confiança do BNDES — o mais poderoso banco de fomento da América Latina. Se havia tal coisa como um ‘empresário do PT’, ele sem dúvida era um deles”, escreve. Foram bilhões injetados no grupo X pelo banco estatal. Eike diria pouco depois que o BNDES era “o melhor banco do mundo”.
A promiscuidade entre grandes empresários e estado é que precisa acabar. E isso é exatamente o que pregam os liberais. Ao se reduzir o escopo do governo e acabar com o estado-empresário, o prêmio para os “amigos do rei” não será mais tão atraente assim. A meritocracia será predominante. No livre mercado, sobrevive o melhor, não o mais próximo do estado e dos políticos que o controlam.
Eike Batista é o símbolo de uma era lamentável do Brasil, de uma fase de euforia insustentável e sem lastro na realidade. É o ícone de um modelo ultrapassado que transformou o BNDES numa máquina ainda maior de transferência de recursos dos pobres para os ricos, com a seleção dos “campeões nacionais”. É a melhor ilustração do fenômeno lulopetista na economia. Sua ascensão foi tão meteórica quanto sua queda.
Rodrigo Constantino
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