Por Bourdin Burke, publicado pelo Instituto Liberal
Oscar Niemeyer nunca escondeu de ninguém sua (des)orientação ideológica: comunista de quatro costados, defensor de regimes homicidas, ateu militante, adepto da fantasia de que “não bastava criar uma cidade, era preciso mudar o sistema que apartava os trabalhadores de sua obra” (mais valia puro). Muito embora seja difícil de acreditar que ele não tenha cobrado nada para projetar a sede do Partido Comunista Francês, manteve sempre firme sua convicção de que o capital corrompe o seu humano. A todos aqueles que se sentiram órfãos com sua partida em 2012, anuncio boas novas: o museu que carrega seu nome, em Curitiba, parece ter resolvido, no mês de julho de 2016, encarnar o espírito do renomado arquiteto em suas exposições, exibindo obras carregadas de doutrina esquerdista. E não estou falando de mensagens subliminares, viu: é na cara dura mesmo!
Uma composição exposta no principal espaço do Museu do Olho ostenta o poema “Liberdade” do instrutor de terrorismo Carlos Marighella (liberdade e comunismo combinam tanto quanto fogo e água, por sinal); mais adiante, louva-se “La Revolución”; não muito longe, Stalin é enaltecido; a importância do desarmamento é preconizada alhures. E por aí vai: deferências a paladinos do comunismo espalham-se por todo canto, a ponto de não mais surpreender a partir da quinta galeria seguida encharcada de alusões à agenda “progressista”. Detalhe curioso: uma das mostras oferece ao público a oportunidade de conhecer algumas das obras apreendidas na Lava Jato, que estão sob a guarda do museu até decisão definitiva da Justiça. Bem que Luiz Inácio poderia contribuir com seus companheiros do Paraná doando peças de seu acervo “particular”.
É claro que, neste cenário, a beleza, esta opressora fascista da feiura, (quase) não tem vez. Uma única exposição reproduz arte realista, com pinturas em óleo dignas de serem admiradas e penduradas em casa ou no escritório para contemplar todo dia. Pululam, por outro lado, telões onde uma bunda rebola sem parar, fotos com pessoas (nuas) pulando, um boné de “mano” dentro de uma cúpula, dentre outras “excentricidades” que estimulam o visitante a acelerar o passo na direção da saída. Mas isso tão somente atesta minha ignorância artística, obviamente. Onde já se viu exigir que a arte agrade a visão (ou outro sentido)? Vai que os artistas incapazes de criar beleza sintam-se ofendidos, não é mesmo? Aliás, dentre as obras abaixo, tente identificar a “reacionária”. É tarefa hercúlea, hein:
Sabem o que salvou o dia? O simpático “parcão”, localizado atrás do museu. Trata-se simplesmente de um extenso gramado onde cidadãos podem levar seus cachorros para passear, inclusive sem coleira. Eis o que mais chama a atenção: não há necessidade de intervenção estatal (guardas municipais) para compelir os donos dos animais a recolherem os respectivos dejetos ou controlarem seu ímpeto de morder estranhos. Todos se responsabilizam pelas atitudes de seus bichos, e ninguém precisa bradar que “deveria ter uma lei para disciplinar estes cães e seus donos negligentes”, o que demandaria, claro, mais tributos para criar e manter todo um sistema para tutelar tais interesses públicos. Cada um faz sua parte e a disciplina consciente dispensa qualquer espécie de monitoramento ou gerência da administração pública, semelhante ao que ocorre nas “dog beaches” nos Estados Unidos. Irônico constatar tal situação ao lado de uma instituição vermelha da cabeça aos pés.
Mais irônico ainda é que, logo na saída, o visitante dá de cara com aquilo que permite ao ser humano realizar atividades lúdicas – como ir ao museu – em vez de levantar todo dia apenas para procurar comida (foi mal, Venezuela): as trocas voluntárias no (não tão livre) mercado, a cooperação mútua, o acúmulo de riqueza (poupança), o execrável capitalismo. Do que estou falando? Vários foods-trucks estacionados do outro lado da rua satisfazem as necessidades de consumidores, geram valor para a sociedade e aproximam pessoas que, em outras circunstâncias (como no comunismo) não veriam motivos para procurar agradar umas às outras. E mataram minha fome a um baixo custo, com certeza. Eis a incongruência ululante: a busca por maior produtividade – e lucros – levou ao desenvolvimento de novas tecnologias que economizam muito tempo das pessoas na atualidade, gerando mais tempo livre para atividades prazerosas, inclusive a produção artística.
Tenho certeza que a conjuntura constatada no Museu do Olho não é exclusividade deste. A contenda entre o governo federal provisório e grupos de artistas constantemente escolhidos pelo Estado para serem ricos (processo conhecido como Lei Rouanet e Lei do Audiovisual), deflagrada a partir de uma aventada fusão dos Ministérios da Cultura e da Educação, demonstrou com clareza o quanto estes sempre foram dependentes daquele. Não deve ser fácil mesmo inovar a cada instante, uma vez que, por melhor que seja a performance de um artista, ele precisa sempre renová-la, sob o risco de aborrecer o público e esvaziar seu bolso. Nada melhor, portanto, que pleitear que os pagadores de impostos assumam seus riscos, e ficar apenas com os louros – independente de seu trabalho redundar em sucesso ou fracasso.
Por falar na amálgama entre dinheiro “público” e arte, convém frisar que o Museu Oscar Niemeyer, muito embora mais pareça, por vezes, um diretório da UNE ou uma sala de reuniões da CUT, é gerido pelo estado do Paraná, por meio de delegação a uma organização social. Não creio que reste caracterizado o respeito aos princípios constitucionais da impessoalidade e da legalidade com a diretoria da instituição permitindo que certas exposições apresentem um viés tão à esquerda. Far-se-á necessário protocolar um projeto de Lei para o “museu sem partido”, tal qual Miguel Nagib foi levado a proceder em relação às escolas do Brasil? Se deixar neste ritmo, lá pelo final deste mês de agosto, estarão sendo penduradas faixas de “fora, Temer” e “fica, querida” no MON.
Mas nem tudo está perdido: logo na entrada do museu, há um mural para que os frequentadores possam desenhar a vontade, exercitando seus dotes artísticos. Praticamente uma ao lado da outra, surgem estas duas inscrições, sinal de que, desde 2013, como dizem as multidões convocadas às ruas para expulsar o PT da vida pública, “o povo acordou”:
Cidade agraciada com um grande número de trabalhos de Oscar Niemeyer, Brasília, um desatino dispendioso, dispensável e faraônico de Juscelino Kubitschek , que só prestou-se, na prática, a afastar a política nacional da vida dos cidadãos comuns e concentrar decisões que afetam cada rincão do Brasil nas mãos de meia dúzia de “clarividentes”, teve na sua construção um marco importante na relação promíscua entre Estado e empreiteiras. Desde lá, políticos e “campeões nacionais” escolhidos a dedo deitam e rolam no Tesouro Nacional. Felizmente, na mesma cidade onde está localizado o museu em comento, trabalha (e como trabalha) um Juiz Federal que vem ajudando a domar a corrupção desenfreada, para dissabor de determinados biltres estatizantes. E à medida que a população brasileira for deixando de ser idiota útil – assim espero – não haverá mais espaço para a cultura do Estado como o Deus que tudo resolve, desde que entreguemos a ele mais de metade do que produzimos e lhe autorizemos a tomar todas as decisões em nosso lugar.