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Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, foi ao Senado ontem e teve a coragem de afirmar que a meta de inflação perseguida pelo governo é mesmo de 4,5%. Ainda colocou a culpa no câmbio pelos “eventuais” desvios.

“Eu discordo da questão da mudança da matriz macroeconômica. O que nós fizemos foi operar estritamente dentro dos preceitos de meta de inflação, câmbio flutuante”, disse Tombini, negando que o tripé macroeconômico foi abandonado.

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Bem, vamos aos fatos: nossa inflação gira em torno de 6% nos últimos… 10 anos! E isso mesmo com todas as malandragens e preços congelados pelo governo. Haja pressão do câmbio para justificar um “desvio temporário” de uma década, não é mesmo?

Toda a torcida do Flamengo, do Corinthians e até aqueles marginais do Vasco (os de Joinville!) já sabem que a meta “oficial” do governo é entre 6 e 6,5% ao ano, patamar elevadíssimo para padrões internacionais, e ainda mais espantosos quando lembramos que nossa economia não cresce quase nada. Por que, então, Tombini insiste em negar o óbvio ululante?

Em sua coluna de hoje na Folha, outro Alexandre, o Schwartsman, expõe a realidade: estamos lidando com lunáticos, com seres de outra galáxia. Só pode ser! Nessa galáxia, reina os caras de pau, e se sobra “coragem” para mentir publicamente diante de todos, falta coragem para admitir os próprios erros e mudar. Diz o ex-diretor do BC:

Ocorre que, nos últimos dez anos, o desvio médio da inflação “cheia” relativamente aos “núcleos” foi da ordem de 0,02% (dois centésimos de 1%) por ano, jamais superior a 0,45%, ou inferior a 0,50% negativo. Na verdade, a inflação oficial nunca esteve distante dos núcleos e muito menos de forma persistente: em 5 dos 10 anos, a inflação ficou acima dos núcleos e, obviamente, abaixo deles nos outros 5.

Posto de outra forma, o histórico brasileiro sugere -ao menos para economistas que permaneceram na Via Láctea- que o uso de núcleos de inflação não seria a panaceia imaginada pelos exilados. Hoje em dia, aliás, em tese forçaria o BC a ser mais agressivo no que se refere ao aumento da taxa de juros.

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[…]

Em outras palavras, a persistência da inflação, que muitos atribuem apenas a fatores culturais (a tal “indexação”), também reflete a velocidade de convergência: quanto mais lenta, maior a persistência, comportamento desconhecido nas galáxias vizinhas.

A verdade é que os exilados tentam, de forma nada sutil, esconder que a política econômica dos últimos anos reflete exatamente suas propostas, sem guardar nenhum parentesco com o tripé macroeconômico, gerando os resultados lamentáveis descritos no primeiro parágrafo. O que lhes falta é apenas a coragem de assumir a paternidade do modelo fracassado.

É lamentável ver o presidente do Banco Central, que deveria ter autonomia para perseguir a meta de inflação imposta, fazer o jogo do governo e da presidente Dilma, caindo em total descrédito perante o mercado, e levando junto a credibilidade do Banco Central.