Espera-se dos militares uma postura mais neutra e imparcial, de representantes do estado, nunca de partidos. São valores republicanos, tão caros aos liberais e conservadores, e tão ignorados pela esquerda. Mas para tudo há limite. A paciência de militares, que também são cidadãos, pode acabar. E quando isso acontece, a liberdade de expressão é um direito constitucional a eles reservado também.
Que os militares estejam atentos aos acontecimentos políticos e preocupados com os efeitos sociais deles, isso é legítimo. Mas quando alguns resolvem se manifestar, a turma do governo não gosta. Passaram a vida cuspindo nas Forças Armadas, difamando-as, e agora exigem um silêncio acovardado. Mas, felizmente, alguns militares não aceitam essa postura e revelam publicamente suas opiniões.
Foi o que fez o general de Exército Antônio Hamilton Martins Mourão. Um dos slides de sua palestra informava que “a maioria dos políticos de hoje parecem privados de atributos intelectuais próprios e de ideologias, enquanto dominam a técnica de apresentar grandes ilusões que levam os eleitores a achar que aquelas são as reais necessidades da sociedade”. Foi o suficiente para despertar a fúria e a reação dos governantes.
O general foi afastado da função, alocado em outra mais burocrática. Mas hoje, em artigo publicado na Folha, o general da reserva do Exército, Augusto Heleno Pereira, saiu em sua defesa. Primeiro, explicou a formação intelectual rigorosa que é recebida pelos militares. Depois, mostrou como acabam fazendo inúmeras atividades extras em prol do país. Por fim, concluiu que, se os políticos não querem ser submetidos a tais críticas, que sejam mais probos:
Fica a dica: autoridades civis, que conduzem os destinos do Brasil (aquelas que enfiarem a carapuça), se querem evitar esse tipo de desconforto, comportem-se com um mínimo de dignidade, competência e probidade, evitando tantas mentiras, escândalos e roubalheiras. Não dá para engolir tudo.
Esquerdopatas, fiquem calmos. São outros tempos. As Forças Armadas seguirão apolíticas e apartidárias, mas, pelo que levam na alma, jamais serão bolivarianas.
Os castrenses não pensam em tomar o poder, nem pretendem violar as instituições do regime democrático em que vivemos, ainda que pleno de imperfeições.
No entanto, não somos robôs descerebrados e insensíveis. Guardamos, tanto quanto vocês, o direito e o dever de espernear contra tantos desmandos e falcatruas.
Brasil, acima de tudo!
Há controvérsias quanto aos intuitos dos castrenses, mas folgo em saber que os militares jamais serão bolivarianos. Acredito que não mesmo, pois, como mencionado, recebem boa formação intelectual. É preciso resistir a esses quadrilheiros disfarçados de salvadores dos pobres, que enxergam nossas instituições republicanas como instrumentos para seus projetos de perpetuação no poder.
Que os militares possam continuar como o último foco de resistência ao bolivarianismo, prontos para agir se necessário, ainda que não desejemos ou esperemos que o seja. E que, enquanto isso, alguns cidadãos, por acaso também militares, possam continuar fazendo críticas públicas aos que destruíram o Brasil. É seu direito inalienável.
Rodrigo Constantino