Em sua coluna de hoje na Folha, Marcelo Coelho defende a expropriação dos mais ricos em nome da igualdade. Sim, marxismo, só que com embalagem mais palatável, moderninha. E Coelho não defende tirar mais dos ricos por meio de impostos como uma questão moral, ainda que se sinta culpado pelo que tem (a elite culpada e ignorante em economia é um perigo); ele o faz com “argumento” econômico. Pura lógica racional, segundo o próprio:
Qual o problema, então, da desigualdade? Acho um problema gravíssimo. Não falo de um ponto de vista moral, embora eu tenha boas doses de sentimento de culpa nesse campo.
O problema, a meu ver, é principalmente econômico. Uso a própria frase de Ricardo Paes de Barros: “um real a mais para o pobre vale muito mais do que um real a mais para o rico”.
Por isso mesmo, torna-se importante tirar –insisto, tirar–dinheiro dos ricos, por meio de impostos mais pesados. Afinal, se um real a mais não tem importância alguma a eles, podemos dizer que um real a menos tampouco lhes fará diferença.
A vida de um rico não se altera significativamente se, em vez de passar 15 dias na Europa num hotel cinco estrelas, ele tiver de passar 12 dias num hotel quatro estrelas. Em vez de comprar um cachorro de raça por R$ 4.000, poderia adotar um vira-latas sem ficar especialmente infeliz por isso.
O número dos sapatos que tenho no armário poderia diminuir pela metade, fazendo com que uns cinco ou dez pobres aumentassem em 100% a quantidade de sapatos que possuem.
Ou seja, a mesma quantidade de bens pode produzir mais felicidade geral quando redistribuída. É menos uma questão de moral do que de racionalidade, a meu ver. Mas devo estar na minoria quanto a essa questão.
É o velho “argumento” surrado da esquerda retratado por Eduardo Dusek na conhecida música de meu tempo de garoto, “troque seu cachorro por uma criança pobre”. Por que você vai ter um cachorro de raça se há crianças famintas no mundo? Como você pode comprar um carro de luxo se tem gente sem ter o que comer? E por aí vai.
No limite dessa linha de “raciocínio” que incute culpa e alimenta apenas a ideologia da inveja, como se riqueza fosse um jogo de soma zero e o pobre fosse pobre porque o rico é rico, não faria sentido qualquer tipo de conforto, de luxo, de consumo além do básico da sobrevivência enquanto todos não tivessem o mesmo.
Sim, o nome disso é comunismo, mesmo que o autor não saiba ou finja não saber. Marcelo Coelho, membro do Conselho Editorial e colunista da Folha, está pregando o comunismo. Ainda bem que, como ele reconhece, está na minoria quanto a essa questão. Apesar de, no Brasil, comunistas abundarem, a ponto de termos um modelo bem antiliberal e anticapitalista.
Reparem, ainda, na hipocrisia dos comunistas, que falam, falam, mas nunca começam a agir de acordo com o que pregam. Coelho quer usar o estado para meter a mão ainda mais no bolso dos “ricos”, mas não distribui nem os sapatos em excesso que tem! Ele só discursa, mas não começa a contribuir para a igualdade com o próprio armário. Por quê?
Outro grave erro do autor é o autoritarismo, a posição de Deus em que se coloca, para decidir quanto cada um deve ter para ser feliz, uma visão um tanto materialista da felicidade (projeção?). Ignora que felicidade é subjetiva. Se tirarem uma moeda do Tio Patinhas, ele vai ficar arrasado, enquanto se derem uma fortuna a um monge budista ele não vai se importar tanto.
O colunista se iludiu com a era lulopetista. Eu não. Os liberais não. Ele diz que agora os liberais repetem que a desigualdade não importa tanto: “A direita liberal agora se alia aos defensores do lulismo para dizer que, ora, ora, a desigualdade não tem tanta importância assim”. Mentira: eu sempre disse isso. Os liberais sempre disseram isso. Quem muda o discurso de acordo com a ocasião é justamente o PT, que iludiu tanto o colunista da Folha.
O capitalismo liberal gera riqueza para todos, para a imensa maioria. Se alguns podem criar mais riqueza do que os outros, isso não deveria ser motivo de tanta obsessão assim. Só os muito culpados, que ignoram o funcionamento da economia, pensam o contrário. E isso é explorado como arma política para seduzir os invejosos, outro grupo enorme. Elite culpada, gente invejosa e políticos oportunistas: a mistura terrível que explica o comunismo, que explica o Brasil.
Por fim, vale dizer que é uma questão moral sim, não apenas ignorância econômica. Afinal, defender a expropriação dos mais ricos em nome da igualdade forçada é coisa de gente que não preza diversos valores morais, como a liberdade, a meritocracia e a solidariedade verdadeira, sempre voluntária.
Rodrigo Constantino
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