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Não há crise de grandes proporções, mas é preocupante rumo tomado pelo governo

O ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman publicou um texto novo em seu blog, A Mão Visível, em que faz um alerta sobre os tropeços do atual governo:

Para ser justo, a turbulência dos últimos dias, ainda que na direção prevista, não configura ainda, é bom deixar claro, uma crise de grandes proporções. Já vimos coisa muito pior, seja por causas externas, seja por desenvolvimentos domésticos.

Ainda assim, é preocupante o rumo tomado. Em nome de uma suposta Nova Política (ah, tá!), não se avança na construção de uma base parlamentar que possa juntar os 308 votos requeridos para a aprovação da reforma previdenciária na Câmara (nem os 49 votos no Senado).

A desastrada iniciativa de compensar os militares pela sua parcela na reforma com a reformulação da carreira – que, na prática, limitou sua contribuição ao ajuste fiscal a meros R$ 10 bilhões em 10 anos – desmanchou qualquer “narrativa” sobre o corte de privilégios.

Em meio a isto o presidente e sua prole desperdiçam tempo e energia em temas que podem até contribuir para manter sua base em pé de guerra nas redes sociais, mas que não contribuem nem para a estabilização econômica, nem para a estabilização política do país.

Não contente, resolve antagonizar o presidente da Câmara por motivos que escapam qualquer pessoa que não acredite que o presidente da República seja um grande mestre do xadrez político, capaz de pensar 25 jogadas à frente, e que teria passado os últimos 30 anos escondendo seus talentos.

O discurso agora é que é necessário destruir para depois reconstruir. Se fosse possível passar de ano com 50% de aproveitamento, este governo seria um sucesso.

O discurso de que é preciso destruir para depois reconstruir é típico de revolucionários, e sempre muito perigoso. Por outro lado, é inegável que boa parcela da população cansou da “velha política”. O problema maior é justamente que Bolsonaro venceu com um discurso muito duro contra o establishment, as instituições, a classe política em si. E agora fica numa sinuca de bico na hora de aprovar as reformas importantes, que necessitam dos políticos para serem aprovadas.

É cedo para se falar em grave crise. A reforma ainda não subiu no telhado. Há esperanças. Mas o presidente Bolsonaro, conforme alertei durante a campanha, terá de “trair” sua base militante, que embarcou numa fantasia jacobina. É isso, ou ferrar com o Brasil todo, inclusive seu próprio governo, que será responsabilizado pela grave crise – que vai chegar caso a reforma não saia.

PS: A militância pode tentar acusar Schwartsman de fazer parte da “extrema imprensa”, mas seria bom atentar para o fato de que o economista fez sua análise independente em um blog pessoal, já que não está mais como colunista da Folha.

Rodrigo Constantino

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