Fonte: Crusoé| Foto:

Segundo a revista Crusoé, a reunião no Palácio da Alvorada com os presidentes dos três Poderes foi “excelente” na avaliação do ministro Paulo Guedes. Para Guedes, os atos em defesa do governo no domingo não atrapalharam as relações entre o presidente Jair Bolsonaro, o presidente do STF Dias Toffoli, e os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.

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“Não há nenhum antagonismo entre os Poderes”, concluiu Guedes. O ministro afirmou que as manifestações confirmaram o apoio da população à reforma previdenciária, e se disse confiante de que o Congresso vai aprova-la. Da reunião, saiu também a assinatura de um documento com metas comuns:

“Da reunião de hoje se consolida a ideia que se formalize 1 pacto de entendimento e algumas metas de interesse da sociedade brasileira, a favor da retomada do crescimento. Inclusive já há uma data proposta para que esse pacto possa ser assinado entre os presidentes de poderes –provavelmente na semana do dia 10 de junho”, disse Onyx.

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O ministro da Casa Civil tentou ainda diminuir qualquer eventual tensão entre os Poderes: “O encontro de hoje na verdade é 1 esforço permanente que o presidente Bolsonaro tem feito desde que assumiu o poder. A gente sempre dizia isso: vai ser o governo de diálogo, diálogo e diálogo. É isso que estamos fazendo. Tenho certeza que todos os brasileiros querem que o Brasil dê certo independente da sua coloração política e partidária”.

É alvissareiro ver o presidente adotando postura institucional e buscando o diálogo com os representantes dos demais Poderes. Justiça seja feita, Bolsonaro também rechaçou qualquer mensagem mais golpista ou amalucada nas manifestações, afirmando que defesa de bandeiras como fechamento do Congresso não pertenciam às ruas e que eram coisa de Maduro.

Melhor assim. O problema é que uma ala do bolsonarismo discorda. É evidente que os mais radicais ali desejam sim calar o Congresso na marra e delegar todo poder ao Executivo. A narrativa sedutora é de que o presidente foi eleito pelo “povo” e incorpora a “vontade geral” contra um Congresso corrupto e um Supremo aparelhado. Verdades parciais que podem levar a uma conclusão perigosa.

Bolsonaro sabe, espera-se, que um confronto direto com os demais Poderes seria fatal para seu governo. A corda foi esticada demais já, e o perigo das manifestações era justamente alimentar esse radicalismo de quem quer uma espécie de “despotismo esclarecido”. O presidente, com essas declarações, procura se afastar dessa turma.

Mas, como mostra Gustavo Nogy, seu filho Carlos parece seguir em direção contrária, sempre alimentando os mais radicais. Como o próprio presidente disse, pregar fechamento de Congresso é coisa de Venezuela, mas o problema é que a Venezuela “é logo ali”, ou seja, os meios defendidos por alguns revolucionários são muito parecidos, ainda que sejam anticomunistas. Diz Nogy:

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Enquanto o presidente tenta, por uns momentos, apaziguar os ânimos e amenizar o discurso, Carlos Bolsonaro, porta-voz oficial da insanidade, se esmera no contrário. Para ele, uma “minoria” quer atrasar o país. De que minoria ele fala: Congresso? STF? Oposição? Imprensa? Qualquer um que não tenha fé na chegada do Messias?

Mais uma vez o dublê de ministro e vereador nas horas vagas nos lembra da ameaça venezuelana, como se ainda estivéssemos em perigo iminente. Pergunto: há novas eleições marcadas para outubro? Respondo: não. Portanto, terminada a campanha, findo o escrutínio, renovado o Congresso, defenestrado o Renan Calheiros, derrotado o PT, eleito o Jair Bolsonaro, a tal ameaça de nos transformarmos numa Venezuela só existe se Bolsonaro quiser que exista.

É bastante curioso, aliás, que o exemplo da Venezuela seja um grande dedo apontado sempre e somente contra PT, mas nunca na direção oposta. Considerem o seguinte.

A Venezuela não se tornou Venezuela apenas por ser um projeto socialista – e é. Os métodos usados por Chávez e Maduro podem se adaptar a outras paragens e são aflitivamente semelhantes à reivindicação de muitos patriotas de verde-amarelo. Esqueçamos por um momento a farda ideológica do regime de Chávez e Maduro. Consideremos os procedimentos.

Os procedimentos quais foram? Subjugar o Congresso e os tribunais superiores, dificultar o trabalho da imprensa e inviabilizar a oposição organizada. Congresso, tribunal, imprensa e oposição são os bodes expiatórios de todo projeto autoritário e iliberal. Alguma vaga semelhança com certo país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza?

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O autoritarismo se constrói suprimindo o poder real de negociação dos outros poderes e a medição das instituições. O PT privatizou o Congresso com o Mensalão e o Petrolão; é um jeito de solapar a democracia. O outro jeito, ligação direta ao ataque, é acuar o Congresso e fazê-lo obediente ao Executivo. É isso o que Carlos Bolsonaro sugere? É isso o que muitos como ele desejam? Com a palavra, a maioria de bem contra a minoria do mal.

Enquanto Bolsonaro tenta se aproximar dos demais Poderes, parte de sua militância, insuflada por seus próprios filhos, investem num discurso antipolítica que demoniza o Congresso e o Supremo, ou ao menos o “centrão” (que seriam “apenas” uns 200 deputados). Essa postura em nada ajuda no avanço das pautas reformistas, como vários analistas já alertaram.

Infelizmente, tal postura serve para mobilizar a militância. O perigo é o monstro ficar descontrolado. Bolsonaro pode, ele mesmo, ser visto como um traidor amanhã. Até porque terá de governar, fazer acordos, respeitar demais cargos com a devida liturgia do seu, e se submeter às regras do jogo democrático.

Num ambiente tóxico em que qualquer articulação com o Congresso virou sinônimo de corrupção, qualquer sinalização de maior pragmatismo do presidente, como a de hoje, poderá ser tida como um ato de traição. Governar dessa forma seria inviável. Os filhos do presidente precisam calibrar melhor o tom dos ataques, para não atrapalhar demais o governo do seu pai.

Rodrigo Constantino

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