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Não Rio mais… Ou: A decadência moral de um povo
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Morando fora do Brasil por um tempo, toda crítica tem que ser feita com cautela redobrada. Alguns podem ficar com a impressão (errada) de que estou cuspindo em minha “cidade maravilhosa” pois não vivo mais nela, o que seria falso. Eu já cuspia antes! Na verdade, não era bem um cuspe, e sim uma onda de desabafos, de ataques desesperados, mas construtivos, como um pai faria com seu filho no caminho errado das drogas. O Rio virou uma droga!

Não vou dizer que a violência, a degeneração moral, o vandalismo e tudo mais são coisas novas. Não são! Não caio na falácia dos saudosistas, de idealizar um passado inexistente. Mas as coisas estão piorando sim, e fechar os olhos para elas não vai resolver o problema. Ao contrário: vai agravá-los. Vejamos um caso “isolado”, porém sintomático, que consta hoje na coluna de Ancelmo Gois:

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Gangue não é coisa nova, e havia briga entre elas desde os tempos do meu pai, senão antes. Mas de adolescentes com 12 anos? Da Barra e do Recreio, ou seja, de classe média ou alta? Creio que há uma deterioração aqui, fruto de uma mentalidade cada vez mais distorcida, falta de valores, limites, e com um péssimo exemplo vindo de cima. Se o país colocou na presidência da República, por quatro vezes, o PT corrupto, então como educar os filhos sobre o certo e o errado? Fica mais complicado.

Aqui na Flórida tenho conversado com alguns brasileiros, e todos eles citam essa questão moral como fator importante, quiçá decisivo, para a escolha de “abandonar” família, amigos e pátria para buscar mais civilização. A violência é fundamental nessa decisão, pois quem não deseja oferecer mais segurança para os filhos? Mas não é “apenas” isso, o direito básico de ir e vir, de parar num sinal de trânsito tranquilo. É, também, o ambiente intelectual intoxicado do Brasil em geral e do Rio em particular, capital nacional da esquerda caviar.

Essas pessoas não aguentavam mais ver artistas e “intelectuais” passando a mão na cabeça de marginais como se fossem vítimas da sociedade. Não aguentavam mais ver as letras chulas de funk serem retratadas como “alta cultura” pela mídia. Não suportavam mais ver os próprios filhos pedindo para tocar essas “músicas” nas festas, ou indo a festas que tocam essas “músicas”. Não tinham mais paciência para “professores” que eram, na verdade, militantes disfarçados, enfiando socialismo goela abaixo das crianças indefesas.

Em artigo publicado hoje no GLOBO, o jornalista Roberto Muggiati desabafa sobre o Rio que viu mudar ao longo de 50 anos de vida na cidade:

Ia-se à praia impunemente, colhia-se tatuí para comer frito com caipirinha. À meia-noite do réveillon, alguns gatos pingados iam tranquilamente à orla de roupa branca celebrar Iemanjá. Arrastão era um tipo de pesca, canção de festival ou meia feminina. Todo esse mundo ruiu estrepitosamente algumas décadas atrás no “verão do arrastão”. Aconteceu de repente, num rutilante domingo de sol, céu azul e quarenta graus à sombra, com hordas de assaltantes ferindo impiedosamente velhos, crianças e grávidas.

A partir daí, a violência só fez crescer na cidade. Frequentador do Theatro Municipal, joia arquitetônica e templo da música, hoje vejo os elegantes cultores das sinfônicas europeias e dos solos de piano de Lang Lang e Keith Jarrett, saírem correndo antes do bis e disputarem a tapa o táxi que os leve ao teto salvador. Pouco tempo atrás, até que era chique ir ao Municipal de metrô. Os recentes arrastões noturnos em estações da Zona Sul, com os passageiros à completa mercê dos bandidos, desfizeram esse sonho de primeiro mundo.

Em artigo bem ao lado, o sociólogo Carlos Alberto Rabaça fala da cultura da transgressão no país, que é bastante presente na vida dos cariocas também:

Uma sociedade que, em seus altos círculos e em seus níveis médios, é composta de uma rede de quadrilhas não produz homens de sentido moral acentuado. Uma sociedade que é apenas superficial em seu exercício democrático não produz homens de consciência. Uma sociedade que limita o sentido do “êxito” ao dinheiro grosso e que eleva os recursos públicos ao plano de um valor particular, produzirá o negocista impiedoso e o negócio escuso. É claro que pode haver homens corruptos em instituições honestas, mas quando as instituições também corrompem muitos homens que vivem e trabalham nelas, então são necessariamente corruptas.

O esgarçamento moral do nosso país é a coisa mais triste que vemos atualmente. A corrupção, a violência, o vandalismo, os adolescentes “rebeldes”, tudo isso já existia. Mas as coisas estão piorando. Ao menos é essa a sensação de boa parte da população. E isso é mortal, pois retira a esperança num futuro melhor. Algo muito preocupante…

Rodrigo Constantino

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