A turma do PSOL e companhia bem que tenta posar de “oposição” à esquerda, mas todos percebem se tratar de uma “linha auxiliar” do PT, como disse Aécio Neves. Mas há um outro pessoal que banca o neutro, o imparcial, pairando acima do bem e do mal, que acaba agindo como “linha auxiliar” petista também, só que de forma mais perigosa, pois dissimulada ao extremo.
É o caso de todos aqueles que dizem “não sou petista, mas…”, e logo depois desse “mas” colocam um monte de coisas que, mal ou bem, justificam as falcatruas e o autoritarismo petista. É o caso de Marcelo Coelho, membro do Conselho Editorial da Folha, que escreveu em sua coluna de hoje:
O que se quer com o impeachment tem pouco a ver com Dilma, e sim com o PT. Que seja. É mais corrupto do que o PMDB, a quem se dará o prêmio da presidência?
Ah, sim, argumenta-se. Pois a corrupção do PT é “sistêmica”, e visa a um “projeto de continuidade no poder”.
Confesso que não entendo o escândalo em torno dessas palavras. Quando quis a reeleição, Fernando Henrique visava a “continuidade no poder”. Renan Calheiros, ACM, Sarney são ou foram mestres em “continuidade”. Que digo? E o PSDB paulista?
Em primeiro lugar, sim, o PT é mais corrupto do que o PMDB. Em segundo lugar, desqualificar o argumento de que o roubo do PT é institucionalizado para um projeto de poder, como se todos fizessem o mesmo, é um relativismo absurdo.
Então o membro do Conselho Editorial da Folha desconhece o DNA bolivariano do PT, o Foro de São Paulo e suas alianças com ditaduras e guerrilheiros? Então Coelho não sabe que o PT vem tentando calar a imprensa independente desde o começo? Então ele ignora que o mensalão foi uma tentativa jamais vista antes de comprar todo o Congresso para não precisar mais de concessões?
Comparar o esforço dos tucanos pela reeleição de FHC com o que fez o PT só pode ser ignorância ou má-fé, sendo que tenho dificuldades de encarar um membro do Conselho Editorial do maior jornal do país como alguém ignorante. Diante dos casos da Argentina e da Venezuela, ele vai mesmo sustentar que o projeto de poder petista era simplesmente como o do PMDB fisiológico ou o do PSDB paulista? Sério?
Os outros partidos por acaso afagam Fidel Castro e tratam seus bandidos como heróis? Eles mantêm um exército de “jornalistas” e blogueiros a soldo dos seus partidos? Eles possuem ligação umbilical com sindicatos, invasores de terras e “estudantes”, todos bancados pelo estado? Como ignorar que o PT é, sim, bem diferente dos demais, pois totalitário ao extremo?
O relativismo, que faz o jogo petista (do “nunca antes neste país” para o “sempre antes neste país”), fica claro quando ele escreve:
Sim, os defeitos dessa turma não justificam as roubalheiras do PT. Admito que o argumento é forte. Se eu for pego numa falcatrua e disser que outros fazem o mesmo, isso seria puro cinismo.
O caso muda um pouco de figura, entretanto, se eu, sem ter nada a ver com roubalheira nenhuma, preferir o ladrão A em vez do ladrão B. Outros motivos, que não a busca pela honestidade, estarão provavelmente orientando minha atitude.
Então ele vai negar que o PT não só institucionalizou como banalizou a roubalheira, sendo que seu cinismo tem efeito mortal para o país? Vai argumentar que é simples questão de “escolha do seu ladrão”, deixando de lado todo o lado totalitário do PT? Os tais “outros motivos” são salvar a democracia, parar uma quadrilha ousada que tomou o estado todo de assalto, impedir a continuação do aparelhamento da máquina estatal que chegou até o STF, como dá para perceber. É pouca coisa? É desonestidade?
Para piorar o que já estava bastante ruim, Coelho conclui dando a entender que concorda com a ladainha petista de que há mais escândalos agora pois não há obstrução de investigações, como se o mérito fosse do governo Dilma: “Talvez outro governante tenha meios de abafar as investigações. Aí, claro, ninguém mais precisará falar de impeachment”.
Ora, ele finge não saber que o governo Dilma tenta abafar investigações, que elas ocorrem a despeito dele, e não por causa dele? Não sabe que o senador petista Delcídio do Amaral, nada menos do que líder do governo no Senado, foi preso justamente tentando abafar a investigação e ajudar na fuga de Cerveró? Delício, que agora deve fechar delação premiada, admitindo sua culpa.
Enfim, o estilo de Marcelo Coelho, como tantos outros, parece imparcial, parece neutro, e parece acima da disputa partidária. Parece, mas não é, como o Denorex do meu tempo. É, na verdade, um arrazoado em defesa do PT, por apelar para um relativismo absurdo que trata uma quadrilha totalitária como “apenas mais um partido corrupto”, como todos os demais. Não!
Rodrigo Constantino