Nunca critiquei mesmo o PT.
Em minha timeline no Face, jamais compartilho escândalos de corrupção do PT.
Fiz forte campanha contra Eduardo Cunha, mas nunca mencionei Renan Calheiros, pois era aliado do PT.
Acho que o impeachment de Collor foi fundamental para o país e nossa democracia, mas considero o impeachment de Dilma um golpe.
Sempre que alguém aponta algum absurdo petista, menciono FHC de alguma forma, para tentar misturar todos no mesmo saco.
Prefiro culpar os empreiteiros corruptores e o “sistema” a encarar que o PT lidera uma quadrilha que tomou nosso estado de assalto.
Nutro grande simpatia pelo PSOL, e finjo não perceber que o partido é apenas uma “linha auxiliar” do PT, com os mesmos discursos “puristas” do PT de ontem.
Quando “malfeitos” petistas tomam os jornais, coloco-me como superior e ataco a “corrupção” em abstrato, para nunca ter que falar da corrupção específica do PT.
Banco o “intelectual” acima do bem e do mal que critica a “polarização” das redes sociais e do Brasil de hoje, apelando para isso apenas quando é para proteger os ataques sofridos pelo PT. Sou bem radical e polarizado quando é algum inimigo do PT como alvo.
Digo que não sou de esquerda nem de direita, mas sempre defendo bandeiras da esquerda radical e “acuso” até o esquerdista mais moderado do PSDB de “ultradireita”.
Sinto profundo ódio pelo Bolsonaro, e verdadeira admiração por Jean Wyllys.
Nunca iria na manifestação de 13 de março que tem o PT como foco, mas não veria problema em ir na “manifestação” organizada pela CUT, UNE e MST em defesa de Dilma e de Lula.
Lamento alguns “desvios éticos” de Lula, pois o pobrezinho foi corrompido pelos empreiteiros, mas ainda o considero um grande homem, presidente e representante dos pobres, mesmo de seu sítio milionário ou do alto de seu tríplex em frente à praia.
Jamais fiz um “mea culpa” em público por ter votado em Dilma, mesmo quando todos disseram que era uma estupidez e que o Brasil ia quebrar.
Adoro lembrar que a corrupção não começou com o PT, como isso tivesse alguma relevância para o debate e anulasse a necessidade de punir os mafiosos petistas.
Misturo deliberadamente um caso envolvendo uma quantia ínfima anos atrás de FHC com uma ex-amante e todos os abusos de Lula que já vieram à tona, justamente porque quero embaralhar as cartas e salvar “o poderoso chefão”.
Puxo da cartola o fato de que não existem santos só quando é para proteger os demônios petistas, e logo depois ligo minha metralhadora giratória contra a menor suspeita envolvendo algum tucano.
Subo no muro covarde e tento me colocar como juiz, na posição de “imparcial” e de moral mais elevada, pois na verdade detesto os fatos que saem na imprensa contra o PT.
Por falar em imprensa, finjo nem perceber seu viés esquerdista e adoro atacá-la como antipetista, jogando sobre seus ombros, de alguma forma, a culpa pela situação do partido.
Sempre que estou diante de alguém atacando o PT, lembro de suas “conquistas sociais”, ainda que falsas, mitológicas, exatamente como sempre fiz em relação ao regime cubano, mas jamais em relação ao regime de Pinochet, que realmente deixou um bom legado econômico e, portanto, social.
Sou um baita relativista moral quando é para isentar os meus companheiros, e um absolutista inquisidor moralista quando é para atacar o mais leve desvio de um direitista ou um esquerdista mais light, como um tucano.
Não sou petista, mas… sou o pior dos petistas, um covarde enrustido, um babaca relativista com um relativismo bem seletivo e hipócrita, um verme que simula uma superioridade só para proteger uma quadrilha, um cínico da pior espécie.
Tem um tipinho que considero ainda mais asqueroso do que os petralhas, se isso for possível. É aquele que faz pose de superior, ar blasé de “intelectual”, e se coloca acima disso tudo, usando um momento delicado como este, em que todo cidadão decente deveria voltar suas energias contra essa quadrilha chamada PT no poder, para atacar “tudo e todos”, tentar jogar todos no mesmo saco podre, e colocar a culpa no “sistema” ou em abstrações para poder, no fundo, aliviar a barra dos bandidos petistas e a sua própria, de cúmplice que votou 13 na última eleição. A turma do “não sou petista, mas…”. Ou seja, o “isentão” cínico que curiosamente nunca fala da corrupção petista. Esse texto é em homenagem a essa turminha. Ah, e vai pra Cuba que lhe pariu!
Rodrigo Constantino