O IPCA-15, prévia do índice de inflação que foi divulgado hoje pelo IBGE, recuou no mês de junho para 0,47%, mas acumula alta de 6,41% em 12 meses, bastante próximo do teto da meta do governo. Apesar de o crescimento econômico estar anêmico, o fato incômodo para o governo Dilma é que o índice de inflação segue muito elevado, destruindo o poder de compra dos brasileiros.
Em sua coluna de hoje na Folha, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman analisa uma entrevista concedida por uma “fonte” do governo, muito provavelmente um diretor do BC. Mostra, então, como os membros do BC têm feito malabarismo semântico para justificar o injustificável: a leniência do banco com o controle da inflação, provavelmente por conta de uma espantosa subserviência ao Executivo. Diz ele:
Na prática, a afirmação equivale a reconhecer que a política monetária tem sido inadequada para conter as pressões inflacionárias disseminadas observadas ao menos desde 2012, dependendo de “puxadinhos” como controle de preços.
Significa também que o BC, supostamente o responsável pela estabilidade do poder de compra da moeda, abandonou essa função há tempos.
Francamente não saberia dizer se tal posição reflete convicções da diretoria do BC ou apenas subserviência ao governo de plantão (ou ainda uma mistura das duas), mas a esta altura do campeonato a distinção é acadêmica.
O (triste) fato é que não há ninguém cuidando da inflação, que cresce, saudável e indômita, como havia tempos não se via. E, diga-se também, essa política frouxa não impediu o crescimento anêmico, que não deverá chegar à média de 2% ao ano neste governo.
“Apertem os cintos que o piloto sumiu” seria um bom resumo da mensagem. O Banco Central precisa urgentemente resgatar sua autonomia operacional, já que sequer goza de independência legal. Como se não bastasse tanta negligência por influência política, há, dentro do próprio governo, quem defenda uma politização ainda maior do Banco Central. Seria cômico, não fosse trágico.
Rodrigo Constantino
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