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Não temos medo de artistas ou “intelectuais”, mas da ignorância deles!
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rebati as baboseiras do ator Wagner Moura sobre a acusação de que temos “medo” dos artistas, levantando a hipótese de essa revolta toda ter alguma ligação com a maior transparência na Lei Rouanet. Volto a falar do “Capitão Nascimento” hoje, pois dois textos publicados na Folha merecem ser lidos como resposta a essas atrocidades ditas por ele e demais esquerdistas.

Leandro Narloch explica bem que não temos medo de Wagner Moura, e sim de sua ignorância. Narloch já larga constatando um fato incômodo para essa turma “do bem”: “Ninguém aumentou tanto a pobreza no último século quanto pessoas que acreditavam em duas coisas: que defendiam os pobres e que entendiam de economia”. Olha o ator aí!

O mundo está repleto de casos de desgraças causadas por ignorantes que se achavam os “especialistas” e que juravam agir em nome dos mais pobres. Índia, China, Brasil, Venezuela e tantos outros casos de países devastados por essa gente arrogante, incapaz de reconhecer as próprias limitações. Narloch conclui:

Não temos medo de Wagner Moura, mas de sua ignorância econômica. Não temos medo de artistas, mas da irresponsabilidade de muitos deles ao falar sobre o que não conhecem. “Não é um crime ser ignorante em economia”, diz o ultraliberal Murray Rothbard. “Mas é uma total irresponsabilidade ter uma opinião barulhenta e vociferante em questões econômicas enquanto se permanece nesse estado de ignorância.”

Wagner Moura poderia se perguntar por que o governo insiste num assunto tão impopular quanto a reforma na Previdência. Se a reforma não é necessária, se não há rombo nas contas, para que perder eleitores com ela? Será que Michel Temer tem um desejo de prejudicar os aposentados maior que sua ambição política?

Talvez o ator entenda que é preciso “encarar a reforma da Previdência”, pois “não é possível que a idade média de aposentadoria das pessoas no país seja de 55 anos”, como afirmou no ano passado Dilma Rousseff, a presidente que Wagner Moura tanto apoia. Ou porque, como diz o economista Paulo Tafner, o Brasil pode se tornar “uma Grécia, mas numa escala mais louca e colossal” se não resolver essa crise.

Temos medo das opiniões de Wagner Moura porque ideias têm consequências —muitas vezes, desastrosas.

E como prova de que é necessário ter conhecimento básico sobre o assunto para dar pitaco, o outro texto é de Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, economista sério que faz aquilo que Wagner Moura jamais fará: contas. É um espanto, eu sei, mas o artista sequer sabe o que é “expectativa condicional”, ou seja, a expectativa de vida de alguém dado que ele já tem 50 anos e superou a barreira da morte na juventude, algo infelizmente comum no Brasil e que puxa a expectativa de vida ao nascimento para baixo. Schwartsman explica com a paciência de um budista:

Há um vídeo particularmente desonesto narrado por Wagner Moura, mas isso não chega a me surpreender, dados os nítidos objetivos político-partidários de quem defendia, há não muito tempo, a reforma da Previdência. Nada surpreendente, mas igualmente abominável, é ver economistas atacarem a reforma argumentando, como fez Laura Carvalho, que a expectativa de vida no Brasil é de 75 anos.

Qualquer economista que deseje discutir a questão previdenciária não pode ignorar que a expectativa de vida ao nascer é irrelevante para o tema. O que interessa é a expectativa de vida quando se chega à idade de aposentadoria.

Para esse fim, convido o leitor a inspecionar o gráfico abaixo, que mostra a evolução da expectativa de vida a cada faixa etária, para a população em geral e também separando entre homens e mulheres.

De fato, a expectativa de vida ao nascer se encontra ao redor de 75 anos, porque (infelizmente) a mortalidade infantil ainda é relativamente elevada e a violência cobra muitas vidas de homens jovens. Quem, porém, se aposenta por tempo de contribuição atinge essa condição em média aos 54,5 anos (homens, 55,5, e mulheres, 52,3), idade em que, como mostrado no gráfico, a expectativa de vida supera 80 anos (78,4 homens, 82,1 mulheres). Quem não comprova tempo de contribuição, os mais pobres, já se aposenta hoje aos 65 anos, com expectativa de vida de 83 anos.

É falso, portanto, que a proposta obrigue as pessoas a trabalhar até morrer, como se diz com alarmante frequência. O tema é sério e requer um debate adulto, ao menos entre os que se acham qualificados para tanto. Comecemos respeitando os dados.

Concordo: é preciso respeitar os dados e ser adulto para debater tema complexo como esses de forma séria. Mas eis o que falta a essa turma: vontade de debater de verdade, honestidade intelectual, maturidade. Esses artistas e “intelectuais”, incluindo até alguns “economistas”, querem só jogar para a plateia, ficar bem na foto perante os leigos, ou pior: defender grupos organizados de interesses de olho em alguma vantagem.

Aos bem-intencionados ignorantes, um lembrete: o inferno está cheio de boas intenções. Aos safados não há muito o que dizer. Apenas que vocês continuarão sendo desmascarados com argumentos e fatos, pois o Brasil não merece tanto embuste em nome do combate à pobreza, aumentada justamente por essas receitas “heterodoxas” (i.e., irresponsáveis). Não temos medo de vocês, mas de sua ignorância arrogante, ou seja, de sua estupidez.

Rodrigo Constantino

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