Armínio Fraga tem reclamado, com toda razão, da dificuldade em se travar um debate sério no país, calcado em argumentos, dados e propostas concretas. O populismo petista impede qualquer tentativa nesse sentido. Como prova inequívoca disso, hoje mesmo a Folha publicou um artigo de dois professores da Unicamp (claro) contra Armínio em que o populismo salta aos olhos em cada linha.
Os economistas tentam dividir o debate econômico com base no viés político, monopolizando as boas intenções da esquerda em geral e do PT em particular no que diz respeito à redução da desigualdade. Segundo eles, o PT focou na distribuição de renda, algo que o PSDB seria contra. Em tom panfletário e eleitoral, concluem:
A política econômica dos governos Lula e Dilma priorizou, pela primeira vez em nossa história, o crescimento econômico com distribuição de renda e permitiu a redução da pobreza, da desigualdade e do desemprego. E isso com a inflação há dez anos dentro dos limites da meta, com queda da dívida pública líquida e estabilidade da bruta e com a ampliação dos investimentos e das reservas internacionais.
Se a implementação dessas políticas atendeu às demandas de parte substancial da população brasileira, mas contrariou alguns interesses estabelecidos, isto é absolutamente natural. O que não é natural, nem bom para o debate, é recorrer a argumentos falaciosos para desqualificar quem pensa diferente.
Tentando negar a crítica feita por Armínio, ambos ironicamente acabaram por confirmá-la. Ou seja, esse é justamente o tipo de populismo que polui qualquer debate econômico sério. Eles pintam um quadro totalmente falso dos últimos anos, ignoram o despertar da inflação, a recessão atual, a fuga dos investidores, a queda da poupança, a perda da credibilidade do governo, e como a própria taxa de desemprego e a transferência de renda são insustentáveis se o curso não mudar.
Mas, segundo eles, quem critica o modelo fracassado do atual governo o faz porque teve seus interesses contrariados, enquanto os mais pobres estariam felizes. Parece um militante petista a soldo do partido tentando enganar um eleitor ignorante, e não economistas em busca de um debate construtivo para o país.
Um deles, de fato, é apenas um militante, pois precisa defender o indefensável, o legado da Caixa Econômica Federal nos últimos anos. Jorge Mattoso foi presidente do banco estatal, aquele que é o maior responsável pela fomentação de uma bolha de crédito no país. Estimular a demanda é tudo que sabem fazer, e depois ficam perplexos com a estagflação resultante.
E ainda fazem aquilo que a esquerda mais sabe fazer, que é inverter tudo e acusar o outro do que ela mesma faz, como se fosse Armínio quem recorresse a “argumentos falaciosos para desqualificar quem pensa diferente”. Quando sabemos que essa turma coloca em xeque logo de cara as intenções dos críticos do PT! Quando sabemos que rotulam de “elite”, de “neoliberal” ou algo do tipo aqueles que condenam o rumo atual, claramente equivocado.
Mas, para azar dos dois professores da Unicamp, a mesma Folha publicou também hoje uma entrevista com Armínio Fraga, em que ele detalha ainda mais o que pretende ser feito e expõe a tática falaciosa dos petistas. Diz que é preciso “fazer um discurso” antes de tratar de temas relevantes para não ser acusado de “assassino de velhinhas” pelo outro lado. Para Armínio, o Brasil está “voando no escuro, em um ambiente de um populismo exacerbado”. Diz ele, de forma bastante transparente e sincera:
Nossa estratégia já está bem mapeada. Começar com uma reforma política, uma reforma administrativa, e colocar na mesa uma proposta já bem amarrada de reforma tributária. Fazer uma blitz na infraestrutura, mobilizar capital privado e, com isso, deslanchar uma primeira etapa do investimento no Brasil que nos parece ser urgente. Em paralelo, acho que temos que declarar a guerra ao custo Brasil. O tema da Previdência é importante, mas ele se presta também ao populismo. A nossa posição é que esse tema precisa ser debatido. Mas tenho de fazer um preâmbulo, se não imediatamente o PT vai falar: “Eles vão arrochar os salários, vão arrochar os aposentados”. Isso tudo é mentira. Mas é, assim, nós não temos medo de discutir. Na medida em que as pessoas vivem mais, você tem de pensar na idade de aposentadoria e na viabilidade atual do sistema. Outra coisa estranha são as pensões. E acho que também merece ser discutido, sem prejuízo de quem já tem o benefício. E outros temas: como um país que está com desemprego baixo tem um aumento colossal no seguro-desemprego? São ótimos temas, mas para falar deles é preciso fazer um discurso antes, senão você vai ser acusado de “assassino das velhinhas”, o que obviamente não é o caso.
Que diferença! Um discurso honesto levantando pontos delicados, mas que precisam ser discutidos. Nem dá para comparar com a postura populista dos petistas, apoiados por economistas da Unicamp. Sei que não é justo jogar todos no mesmo saco, mas é preciso ser dito: se o PT faz mal à política nacional, a Unicamp faz mal à economia brasileira. Está na hora de endireitar um pouco isso!
Rodrigo Constantino
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