Quando minha filha era menor e via algum filme, ela sempre perguntava logo no começo quem era o malvado e quem era o bonzinho. Assim funciona a mente de uma criança: segrega de forma um tanto caricata quem é o vilão e quem é o mocinho. O cinza não existe. Explicações mais complexas não fazem parte do repertório. Um é totalmente cruel, e o outro é o herói imaculado. A esquerda nunca saiu da infância.
Sua narrativa sempre precisa encaixar no modelo simplista de luta de classes, de opressores e oprimidos. É o que vende mais, e é também o que facilita adesões dos que não querem ou não conseguem pensar de verdade sobre fenômenos complexos. Um exemplo claro é a crise grega: os gregos são tratados in totum como as pobres vítimas, e os demais europeus “ricos” como os malvados gananciosos que querem explorar e humilhar os mais pobres. Fim de papo. Marx wins!
Só que claro que não é nada disso. Na Grécia, há muitos responsáveis pela situação calamitosa em que se encontra o país, a começar pelos eleitores que votaram mal e escolheram representantes irresponsáveis e populistas. Os privilegiados do setor público também têm culpa no cartório, pois distribuíram benesses para si próprios às custas dos demais trabalhadores. Todos que se endividaram como se não houvesse amanhã são também responsáveis pela crise. Inocentar boa parcela da população grega, portanto, é absurdo e demagogo.
Por outro lado, os “ricos” europeus que “humilham” a Grécia e cobram as dívidas não são “engravatados” de Wall Street, como alegam os “intelectuais” de esquerda, mas todos aqueles poupadores responsáveis dos demais países que, de uma forma direta ou indireta, financiam os gregos. Em outras palavras, o que a esquerda quer, no fundo, é que os pobres alemães trabalhem mais para bancar os ricos gregos. Mas isso jamais poderia ser dito assim, na lata, pois iria desarmar a narrativa marxista deles. O editorial do GLOBO resumiu bem a questão:
Mas entender a complexidade do fenômeno não interessa aos esquerdistas, pois eles estão de olho na estima e nos votos daqueles mais limitados, que compram a valor de face tal explicação simplista. Eles querem seduzir pessoas com a idade mental de uma criança de 5 anos. Minha filha, hoje com 13 anos, já entende perfeitamente que a vida real não é separada entre o vilão malvado e o herói bonzinho, ainda que tais figuras individuais existam, de forma menos caricatural.
Ela já sabe que é injusto segregar todos em grupos abstratos, e depois chamá-los de opressores e oprimidos. Aos 13, ela já tem perspicácia suficiente para não cair na ladainha marxista. Infelizmente, muitos adultos por aí não podem dizer o mesmo…
Rodrigo Constantino
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