Gosto, em geral, das colunas de Rosely Sayão na Folha sobre educação de filhos. Costuma fugir do politicamente correto que impera hoje, e defender o velho limite imposto aos adolescentes, fundamental para criar adultos responsáveis, em vez de “adultescentes”.
Na coluna de hoje, véspera de Natal, Sayão resgatou a importância da família. Tradição das mais valiosas que temos, crucial para a formação de indivíduos autônomos e felizes. Diz ela:
Independentemente de religião, aos poucos o Natal passou a fazer parte das tradições familiares. A data passou a ser um pretexto para reunir parentes que, muitas vezes, devido à correria cotidiana e à distância, não costumam mais se ver com frequência.
Família não se escolhe, me disse um dia um amigo. Mas algumas pessoas, que por problemas diversos não mais têm contato com a família de origem, acabaram por construir sua própria família, esta sim escolhida, formada por pessoas próximas e com afetos recíprocos. Como se vê, fazer parte de uma família é realmente importante.
Aliás, é bom lembrar sempre que a família é o único grupo ao qual se pertence de fato. De outros grupos, participamos apenas. A família é o único grupo permanente em nossas vidas. Os demais grupos são sempre temporários.
Os mais novos precisam sentir que têm família, e isso não significa a presença das figuras do pai e da mãe –estejam eles casados ou não– avós, tios etc.
Eles precisam sentir, perceber, vivenciar que fazem parte de um grupo que ali está para cuidar deles, escolher e decidir por eles enquanto eles não podem fazer isso por conta própria, protegê-los de riscos evitáveis, encorajá-los quando se defrontam com obstáculos, baixar a bola deles quando ficam cheios de si, por exemplo.
[…]
Apesar dos ônus que ter uma família acarreta, há muitos benefícios, principalmente para os mais novos. Para a criança e para o adolescente, sentir que integram esse grupo lhes dá coragem para enfrentar as vicissitudes da vida e energia para viver, por saberem que sempre podem contar com o acolhimento familiar. Essa panelinha, que às vezes perturba os mais novos, lhes dá estrutura e ensina o que é a vida.
Concordo totalmente. Família não se escolhe, e dá trabalho. Há carga emocional grande, muitas vezes se diz coisas que não seriam ditas para outros, pois se sabe que família é família, e normalmente absorve melhor o choque (mas há limites, claro).
Uma das coisas que mais me entristece de ver é uma família destroçada. O desamparo está para todos na vida, até certo ponto. Mas nada como o desamparo de quem não conta com certo respaldo e refúgio na própria família.
Tenho muita sorte de contar com uma família ótima. Tem seus defeitos, mas qual não tem? Há, acima de tudo, cumplicidade, intimidade, respeito e aquele sentimento de segurança, possível pela confiança germinada ao longo dos anos.
Não sou uma pessoa religiosa, mas sempre gostei do Natal. Sim, um leve toque de melancolia está quase sempre presente. É um dia diferente, com um clima cristão de culpa no ar. E somos todos culpados de alguma coisa, pois imperfeitos.
Mas Natal, para mim, sempre foi um momento de felicidade também. Tenho ótimas lembranças. E isso se deve exclusivamente a esse conceito de família. O ideal é valorizar isso 365 dias por ano, claro. Mas, assim como o aniversário serve para celebrar um dia especial, o Natal serve para festejar a importância da família em nossas vidas.
Feliz Natal a todos.