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Eis um artigo que não gostaria de escrever, por vários motivos. Em primeiro lugar, sei que vou incomodar uma ala de leitores fiéis que tenho. Em segundo lugar, sei que esse tipo de texto pode servir como munição para meus adversários da esquerda, tudo o que não desejo no momento. Em terceiro lugar, posso ser confundido com os “isentões” que tanto condeno. Ainda assim, vou seguir adiante, pois acho necessário esclarecer certos pontos aos meus leitores sérios.

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Como muitos já perceberam, tenho escrito vários textos em defesa de Trump, ou mais precisamente sobre a hipocrisia de seus detratores. Em que pesem textos em que faço alertas ou mesmo críticas ao que julgo equivocado na visão de mundo do presidente americano, como seu claro ranço mercantilista no comércio internacional, essa defesa toda fez com que alguns me tomassem por um “trumpete”, ou seja, um daqueles apoiadores incondicionais do homem.

Nada mais falso. Trump tem um estilo que desperta em mim vários receios, principalmente no que tange a liturgia do cargo, ou seja, o caráter institucional republicano que precisa ser preservado e protegido de arroubos individualistas, o que nós latino-americanos conhecemos tão bem dessas experiências com caudilhos. Eu poderia, na verdade, escrever vários textos contra Trump. Por que não o faço? Simples: há na grande imprensa uns 50 textos e reportagens que demonizam o “homem laranja” para cada um “equilibrado”, “neutro”.

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Ou seja, se em nome da honestidade intelectual eu fosse manter o meu equilíbrio entre críticas e elogios, eu nada estaria fazendo para equilibrar o jogo na mídia, dominada por quem só faz distorcer fatos para pintar Trump como uma espécie de Hitler. É justamente porque o pêndulo extrapolou tanto para o lado esquerdo que me vejo na obrigação, em nome da honestidade, de compensar a coisa com notícias positivas ou mostrando os acertos dele. Para muitos leitores, sou talvez a única fonte que mostra esse outro lado.

Mas isso não faz de mim um defensor incondicional dele. Na verdade, sou contra o apoio incondicional a qualquer pessoa, ainda mais políticos. O papel da imprensa deveria ser sempre o de confrontar governantes, exercendo assim um poder moderador dentro do mecanismo de pesos e contrapesos. O problema é que a mídia virou bajuladora de Obama e agora inimiga mortal de Trump. Sua acusação de “fake news” é legítima: veículos como o NYT, a CNN e a MSNBC fazem de tudo para manipular as informações contra Trump.

Isso não é razoável, e presta um enorme desserviço ao papel da imprensa. Por isso aplaudo as tiradas engraçadas de Trump que levam esses jornalistas de esquerda ao desespero. Trump tem merecido apoio muito mais pelo que tem combatido do que pelo que tem defendido, apesar de também ter louváveis acertos em certas medidas, como a escolha para a Suprema Corte, o corte de regulações, a mudança de postura quanto ao “aquecimento global” etc.

Mas seu grande mérito vem mesmo de expor a canalhice da esquerda globalista, representada no establishment de Washington, na ONU e na própria mídia. É claro que atacar a política em si é sempre algo perigoso, pois as mudanças sustentáveis precisam passar pela política: temos evolução institucional ou revolução, sempre algo muito arriscado. Mas o grau de hipocrisia e de domínio esquerdista tinha chegado a um patamar tão absurdo que era necessário alguém com o perfil de Trump para “jogar merda no ventilador” e começar um processo de reversão disso. Trump talvez seja a alternativa a uma revolução sangrenta!

Eu poderia até me sair bem como um “isentão”, algo que não faço questão, pois tomo partido. E tomei o partido de Trump, no sentido de apoiar o grosso do que ele tem feito para desarmar essa maquinação perversa dos politicamente corretos. Isso não quer dizer, porém, que vou aplaudir tudo o que ele faz. Isso seria eu me transformar em torcedor também, um reflexo invertido do que condeno do outro lado. Não faço torcida; faço análise. E por isso esse texto.

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Bernard Goldberg, autor do livro Bias, que expõe o viés de esquerda na imprensa, e também de outro em que analisa só o caso de amor dos jornalistas com Obama, escreveu um texto recentemente sobre esses defensores incondicionais de Trump. Entendo o nível de revolta com as mentiras da imprensa, com a asfixia do PC, com os riscos do globalismo, que levam muitos ao êxtase quando alguém como Trump aparece para apontar dedos e combater a praga. Mas, como mostra Goldberg, não é razoável o fanatismo com que alguns passam a defender esses “messias”.

Para esses, não importa o que Trump diga ou faça, ele sempre estará certo! E isso não é aceitável, não é razoável. É postura de seita fechada, algo que liberal algum ou os conservadores de boa estirpe podem aplaudir. Muitos votaram ou defenderam Trump de nariz tampado, ou seja, como um remédio amargo para impedir alguém feito Hillary Clinton de tomar o poder. Mas há uma ala que efetivamente idolatra o cara, e isso não combina muito com a postura cética que liberais e conservadores deveriam adotar na política.

Algo similar ocorre no Brasil com Jair Bolsonaro. É claro que compreendo a empolgação que o “mito” tem gerado por aí, naqueles cansados da esquerda hegemônica, do sistema corrompido, da hipocrisia das elites culpadas e da marcha das “minorias oprimidas”. É legítimo se rebelar contra isso tudo, e qual meio melhor do que o apoio a Bolsonaro, o inimigo número um dessa gente? Mas daí a passar a considerá-lo um “messias” vai uma longa distância.

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Sabemos que há uma turma que se recusa a enxergar qualquer defeito no homem, a conviver de forma civilizada com qualquer crítica. De amigo, o crítico pode passar a inimigo mortal antes de se converter em simples adversário. Tal postura novamente remete ao fanatismo, e não pode ser tolerada por liberais ou conservadores. Não combatemos o PT e a esquerda totalitária para cair numa nova forma de totalitarismo, onde ou se está do meu lado 100%, ou se está totalmente contra mim. Isso não é ser “isentão”, mas simplesmente resgatar o bom senso.

Todos conhecemos petistas que poderiam ver Lula até mesmo estuprando uma criança em praça pública que dariam um jeito de defendê-lo, de justificar seu ato, de torná-lo uma vítima. Isso é simplesmente patético, e não podemos aceitar postura parecida do nosso lado. Sei que falo o óbvio, e que a maioria compreende muito bem o que estou dizendo. Mas há, sim, uma pequena parcela da “nova direita” que tem copiado os métodos dessa gente, só que com sinal trocado. Isso não é saudável para o avanço da própria direita.

Repito: eu entendo o grau de revolta, eu entendo o cansaço com a esquerda hipócrita, eu entendo perfeitamente a indignação com o sistema carcomido. Mas nada justifica – nem mesmo a “guerra cultural e política” – transformar essa raiva em algo destrutivo ou num novo tipo de fanatismo cego, em vez de canalizá-la para uma transformação positiva da sociedade. Construir sempre foi muito mais difícil do que destruir.

Vamos resgatar valores morais perdidos, vamos lutar pelas liberdades individuais asfixiadas, vamos reconquistar a soberania nacional; mas sem jogar o bebê fora junto com a água suja, sem matar aquilo que pretendemos salvar: a própria civilização. Para tanto, será fundamental tomar partido eventualmente. Dante reservou um lugar bem ruim no inferno para os “isentões”.

Mas saibamos fazer isso sem aderir a seitas fechadas, mantendo nossa cabeça no lugar e nossa capacidade de julgamento crítico. E, principalmente, sem a idolatria a políticos, pois nenhum deles merece apoio incondicional. Deixemos o conceito de infalibilidade para Deus, pois nós homens somos todos falíveis, e o próprio conservadorismo nasce dessa premissa. Quem não tolera crítica alguma não deve fazer parte de debates civilizados e democráticos, pois rejeita sua própria essência.

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Rodrigo Constantino