Eis uma coisa que muita gente ainda não se deu conta: o Partido Democrata, a esquerda americana, não é mais a mesma de antes, dos tempos do (quase conservador) JFK. Hoje, o partido migrou bem mais à esquerda, radicalizando-se a ponto de um socialista como Bernie Sanders, que passou sua lua-de-mel na União Soviética, ter dado calor a Hillary Clinton na disputa pela vaga. E Clinton, agora, teve de se aproximar da senadora Elizabeth Warren, uma espécie de Sanders de saia.
O grande sucesso da esquerda radical foi justamente fazer essa revolução na política americana de forma “silenciosa”, ou seja, gradual e disfarçada, a ponto de muitos sequer a notarem. Hoje, radical é aquele que defende os valores dos “pais fundadores”, enquanto os que pregam uma transformação “fundamental” do país, como Obama, são vistos como “moderados”. Houve uma total inversão que passou despercebida por muita gente.
Digo isso para chegar na postura nada republicana de Obama em relação ao Brexit. O presidente americano chegou a visitar o Reino Unido para fazer sua campanha pela permanência na União Europeia, quebrando um protocolo diplomático antigo. O assunto é interno, a decisão é democrática e cabe aos próprios britânicos. Um presidente americano que toma partido nessa questão complexa e faz campanha para um dos lados está se metendo de forma indevida na soberania nacional de outro povo. É algo que Lula faria.
Mas o lado de Obama perdeu, e o presidente teve que engolir a reação do líder do Brexit, Nigel Farage, do Ukip, o partido independente que mais lutou pela saída da UE. Farage, em entrevista a Trish Regan na Fox News, descascou Obama, chegando a afirmar que até Putin, de quem não gosta, teve postura de mais estadista do que o presidente americano. Vejam:
Farage condenou a tentativa de se criar os Estados Unidos da Europa com concentração de poder político em Bruxelas, algo que Obama é totalmente favorável. Mas defendeu maior intercâmbio econômico entre Reino Unido e Estados Unidos. Ou seja, é perfeitamente possível ter mais comércio entre os dois países historicamente aliados agora do que antes, quando a UE servia como barreira a tais acordos.
Obama representa justamente essa mentalidade centralizadora de poder em Bruxelas, e Nigel Farage representa o povo insatisfeito e indignado com essa situação. No Reino Unido, a turma de Obama perdeu. Resta saber se nos Estados Unidos acontecerá o mesmo. Hillary Clinton representa esse establishment, o poder concentrado em Washington, D.C. Enquanto isso, Donald Trump representa os insatisfeitos.
Com todos os seus defeitos, é melhor para os americanos e para o mundo que Trump vença, como venceu o Brexit no Reino Unido. Uma vitória da turma de Obama significaria mais um passo grande na direção de concentração de poder na elite política, aquela que se mete mais e mais em tudo, quer controlar o mundo de cima para baixo, desrespeitando inclusive a soberania popular das nações.
Farage e Trump podem ser acusados de populistas pela imprensa, mas como negar que os verdadeiros populistas sejam aqueles que justamente prometem tudo em nome dos pobres por meio do estado enquanto concentram mais e mais poder político em suas mãos, na elite? Chega de tanto poder em Bruxelas. Chega de tanto poder em Washington. E claro: chega de tanto poder em Brasília!
Rodrigo Constantino