Reinaldo Azevedo acha que é a direita moralista, que defende a Lava Jato com unhas e dentes e também Bolsonaro, que tem feito com que a esquerda em geral e Lula em particular possam renascer das cinzas. Em sua coluna de hoje na Folha, ele ataca esse “populismo de direita” e fala em “degeneração da Lava Jato”, dando a entender que o mais sábio a ser feito agora é aplaudir o governo Temer e não forçar tanto a barra no combate à corrupção. Diz ele:
A esquerda está, sim, combalida. Ocorre que a sobrevivência eleitoral daquilo que Lula representa depende menos das pantomimas da companheirada do que da espantosa combinação de ignorância e voluntarismo de correntes que se alinham à direita.
Algumas falhas de nossa formação se revelam de forma dramática. Temos autoproclamados liberais que se mostram incapazes de defender, num regime democrático, o Estado de Direito. Ao contrário: cedem ao alarido dos que querem enforcar o último deputado com a tripa do último senador. Se, na fantasia de esquerda, uma certa “elite” rapace responde por todos os males do Brasil e dos brasileiros, para essa direita tosca, o inimigo são os “políticos”.
[…]
Ah, em tempo: alguém pode dizer que, ruim como é, o governo Temer é que deve ser responsabilizado pela eventual ascensão da esquerda. Discordo. Dado o que herdou e o que conseguiu realizar até agora, o governo é bom. De resto, Lula não está forte porque esquerdista, mas porque populista. Em certa medida, poderia ser Bolsonaro –que disputa o segundo lugar com Marina.
O populismo de direita, associado ao lava-jatismo, é que está minando a credibilidade da atual gestão e ressuscitando a esquerda. Afinal, conservadores que não buscam preservar nem as instituições hão de conservar o quê?
Não sobra nem o juízo.
Sobre a pesquisa em si, já comentei aqui o que tinha para ser comentado: é peça de propaganda petista, chamada sensacionalista para levantar o defunto Lula, já que 70% dos entrevistados estão indecisos. Sobre Reinaldo Azevedo, tenho escrito alguns textos lamentando, com perplexidade, suas recentes brigas. Ele parece ter dado um salto quântico à esquerda, e vestiu mesmo o chapéu de defensor do PSDB custe o que custar. Pior: faz isso como se o PSDB e Rodrigo Maia fossem os ícones da “direita democrática”, e não da esquerda socialista light!
Alguns falam que uma vez socialista, sempre socialista. Reinaldo foi um trotskista, e essa turma diz que o ranço continua lá, oculto, latente, pronto para vir à tona no primeiro sinal. Pode ser. Mas não acho inevitável. Nunca fui de esquerda na vida (sou daqueles que não tiveram coração aos 18). Mas vejo outros ex-esquerdistas que migraram para a direita e não demonstram o mesmo tipo de recaída, não ficam cambaleando em cima do muro. Nivaldo Cordeiro é um bom exemplo, e faz uma boa análise justamente sobre o texto de Azevedo na Folha hoje:
Nivaldo está certo: o problema não é a direita, que despertou só agora depois de décadas hibernando, pressionar por mudanças mais radicais, vir com uma agenda moralista, defender com firmeza a Lava Jato. O problema é justamente a hegemonia de esquerda ao longo de tantas décadas! E o PSDB que Reinaldo Azevedo tanto ama é parte do problema. Sim, quando FHC banca o advogado de defesa de Lula, quando o senador Aécio Neves desaparece, quando os tucanos parecem articular para proteger os políticos safados, isso ajuda a esquerda radical petista.
Reinaldo parece ter se perdido de vez mesmo. Está dedicando uns 80% de seu tempo e sua energia para atacar a Lava Jato, a “direita populista”, os “liberais fajutos”, enquanto banca o liberal defendendo os tucanos e Rodrigo Maia! Ora, só se for liberal no sentido americano, que todos sabem significar… esquerdista!
A impressão que o escriba da Veja e da Folha tem passado é a de que foi um ferrenho direitista (antipetista) só até o PT cair, e logo depois passou a pedir calma, cautela, tolerância e apoio a políticos safados e de esquerda, em nome da legalidade (!) e da democracia (!!). Para Reinaldo, parece que a direita efetiva avançou demais da conta, chegando muito perto de derrubar seu querido PSDB por algo realmente novo, e isso é inaceitável. Socialismo fabiano, porém, não é liberalismo nem aqui, nem na China!
Rodrigo Constantino