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No Rio, Pedro Paulo deve se beneficiar do voto útil contra a extrema-esquerda

Fonte: GLOBO Fonte: GLOBO

O candidato a prefeito do Rio pelo PMDB, Pedro Paulo, tem a força da máquina a seu favor, e o caso de agressão à sua mulher, no qual foi inocentado, como uma sombra a persegui-lo. Mas talvez sua maior vantagem nem sejam os cabos eleitorais, e sim a ideia do voto útil. Os antipetistas (ou anticomunistas, que dá no mesmo) olham com aversão para a possibilidade de um Marcelo Freixo ir para o segundo turno. E muitos, com medo disso, estariam dispostos a votar no candidato que, além de Marcelo Crivella, tiver chances reais de derrotar o socialista.

São vários nomes para gostos diferentes. Há Índio da Costa, Osório, Flavio Bolsonaro, e com menos chances, mas marcando presença inicial, Carmen Migueles do Partido Novo. Diante desse cardápio vasto, as preferências primárias ou reais talvez fiquem em segundo plano diante do risco de permitir a chegada do socialista Freixo no segundo turno, uma ideia assustadora, convenhamos.

A divisão da extrema-esquerda, lamentada por Chico Buarque, é a vantagem de quem fica arrepiado só com a ideia de um PT, PSOL ou PCdoB no comando da “cidade maravilhosa”. “Vim reiterar meu apoio ao Marcelo Freixo para prefeito do Rio. Eu gostaria de ter visto, desde o início, uma aliança, uma frente progressista na campanha para a prefeitura. Mas hoje eu acredito muito que estaremos juntos no segundo turno para ganhar, e ganhar bonito, com Marcelo Freixo”, disse Chico Buarque, ovacionado pelos idiotas úteis.

Além de Chico, Wagner Moura e Gregorio Duvivier deram apoio ao socialista. Enquanto isso, a comunista Jandira consome uns 7% de votos que poderiam migrar para o socialista Freixo. Será que Jandira Feghali é mesmo uma agente da CIA infiltrada para prejudicar a esquerda? Lembram quando ela divulgou aquele vídeo em que Lula aparecia mandando os promotores enfiarem seu processo naquele lugar? Mas pelo visto o próprio Lula a perdoou, a ponto de subir em seu palanque, assim como Dilma. O problema é que isso fez Jandira perder votos…

O racha na extrema-esquerda foi inevitável. Jean Wyllys escreveu um “textão” atacando a companheira, acusada até de fazer o jogo de Pedro Paulo. PSOL e PCdoB, duas linhas auxiliares do PT, disputam para ver quem fica com o espólio da esquerda jurássica após a derrocada petista. Freixo leva vantagem: se Jandira tem Lula e Dilma, ambos em baixa, o socialista do PSOL conquistou o apoio dos artistas engajados e dos “intelectuais”. Vide Daniel Aarão Reis, o comunista “isentão” que escreveu uma coluna patética em defesa da candidatura de Freixo hoje no GLOBO, jornal “golpista” que colocou o artigo em destaque em sua página na internet.

No artigo, Aarão Reis defende o “reformismo revolucionário” do socialista. Qual? Aquele existente na Venezuela, cujo governo tirano o PSOL de Freixo aplaude? Diz o “intelectual” comuna: “Tem que ser de outro jeito. De um jeito alternativo, fiel às melhores tradições — rebeldes — desta cidade. Em 2012, foi a campanha mais pobre e mais bonita. Chegou-se a 28% dos votos. Dois anos depois, porém, Marcelo Freixo foi o deputado estadual mais votado do país. Um reconhecimento e uma promessa. Em 2016, agora, vai ser possível superar a descrença, inaugurando, em 2 de outubro, uma outra primavera. A nossa cidade, a bela São Sebastião do Rio de Janeiro, tão depredada e sempre renascida, merece. E desse jeito, na rua, na rede, na raça, a esperança, renovada, vencerá”.

Se isso acontecer (Deus nos livre!), a realidade irá se impor sobre a “esperança utópica”, aquela que segue inabalável apesar das 379 tentativas fracassadas de uma gestão socialista mundo afora. Essa gente parece criança, sonhando com algo que sempre deu errado e sempre dará, pois parte de premissas equivocadas. Mas socialista é pior do que os crentes mais fanáticos daquela igreja evangélica que tem um bispo na disputa: são fiéis até a morte, mesmo que o líder apareça ensinando como enganar trouxas e lhes tomar seu dinheiro. Mesmo que o “socialismo real” seja a miséria cubana ou venezuelana.

O socialismo é uma seita religiosa laica, que vem substituir as religiões tradicionais, mas ofertando o paraíso terrestre em vez do celeste. Em todo canto que o socialismo pregado por Freixo vingou, tivemos miséria e escravidão. Mas agora vai! O “intelectual” quer manter a chama da esperança acesa, mesmo que isso custe o emprego de milhões, a vida de milhares, a liberdade de todos. Os artistas e “intelectuais” da esquerda caviar fecham com Freixo, e justamente por isso as pessoas decentes fogem dele, mesmo que caindo no colo do fisiológico PMDB.

Apesar dos pesares – e meus leitores sabem como critiquei Eduardo Paes em sua gestão, principalmente pelo apoio dado ao PT e pela “malandragem” – a gestão de Paes foi razoável, acima da média sofrível do Rio. Pedro Paulo não tem o mesmo carisma, o mesmo preparo, mas tem algum legado para mostrar. O socialista tem apenas demagogia e retórica de luta de classes para apresentar. Se a decisão tiver de ser entre os dois, para enfrentar o bispo, a escolha não é difícil. Em política, infelizmente, tudo é relativo. Vide o apoio que muita gente boa dá a Donald Trump, só porque a outra opção disponível é ainda pior.

Eis o quadro na última pesquisa disponível, da Datafolha (pouco confiável) divulgada hoje:

– Marcelo Crivella (PRB) – 29%
– Pedro Paulo (PMDB) – 11%
– Marcelo Freixo (PSOL) – 10%
– Jandira Feghali (PC do B) – 7%
– Flávio Bolsonaro (PSC) – 7%

Osório, do PSDB, teria 6%, e Índio da Costa, do PSD, 5%. Se esse quadro permanecer, é bem capaz de eleitores de ambos migrarem o voto para Pedro Paulo, pois sem dúvida quem tem alguma simpatia por Osório e Índio da Costa tem maior rejeição pelo socialista Freixo do que pelo candidato de Eduardo Paes. E até mesmo os eleitores de Flavio Bolsonaro, mais fiéis e ideológicos, poderão abandonar seu candidato na reta final de olho no risco vermelho.

A possibilidade de um prefeito socialista no Rio é tenebrosa, e eleitores de Jandira também poderão trocar o voto na última hora, para tentar colocar “um dos seus” no segundo turno. Por isso mesmo o voto útil passou a ser o melhor amigo de Pedro Paulo, seu grande aliado. Muitos vão votar nele, não porque gostam de suas ideias ou estejam satisfeitos com a gestão de Paes, e sim porque a alternativa é não só muito pior: é terrível. Freixo não dá! Até Crivella consegue ser mais digerível.

Logo, por puro pragmatismo, a tendência é Pedro Paulo subir ainda mais até o dia da eleição, usando a máquina do PMDB, seus cabos eleitorais, recursos, imprensa, e principalmente, o voto útil dos anticomunistas, ou seja, de todos aqueles seres pensantes que sobreviveram à doutrinação ideológica das universidades.

Rodrigo Constantino

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