“Portanto, eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e nem a morte poderá vencê-la.” Mateus 16,18
Sendo uma referência para a cristandade, as obras da igreja Notre-Dame, em estilo gótico, começaram em 1163, no período da monarquia, com o Rei Luis VII, e foram concluídas em 1345, tendo portanto mais de 850 anos de existência. Quase dois séculos só para ser finalizada! O que isso significa?
Um aspecto pouco comentado nisso tudo diz respeito justamente ao que se perdeu desde então, e que não é apenas arquitetônico. Por que alguém iniciaria a construção de algo que sequer ficará pronto durante a sua vida? Isso faz algum sentido lógico e racional?
Edmund Burke, “pai do conservadorismo”, fala da sociedade como um pacto entre gerações, um contrato entre os vivos, os mortos e os que ainda vão nascer. É esse elo que cria as “coisas permanentes”, aquilo que é eterno, não efêmero como nossas próprias vidas.
Essa busca pelo eterno, portanto, está por trás de quase toda criação artística valiosa. Os clássicos não são clássicos à toa. A sensação de pertencimento a algo maior que nós é uma das características mais humanas que existem, e explica, em parte, as religiões duradouras. Recomendo a série “Os pilares da terra” (2010), com base no livro de Ken Follett, sobre isso: a obsessão de Tom Builder pela construção de uma linda catedral, digna da sua fé, é tocante.
Numa era de hedonismo materialista, onde cada um olha só para seu próprio umbigo, esse pensamento parece estranho, alienígena, bizarro até. Na visão míope do “aqui e agora”, da busca só por prazeres momentâneos, e normalmente carnais, qual o sentido de participar de algo espiritual e que ultrapassa os poucos anos de vida que temos na Terra?
É por esse raciocínio moderno que tanto “progressista” secular focou apenas no aspecto arquitetônico da igreja, ou na questão turística, no impacto econômico, enfim, em qualquer coisa que não seja o simbolismo espiritual que Notre-Dame tem para o mundo ocidental em geral e a Cristandade em particular.
Mesmo um ateu ou agnóstico pode entender a “função social” de frequentar igrejas regularmente. Não só ali estarão famílias que compartilham de valores morais semelhantes, como o simples fato de se tornar uma “obrigação” ir todo domingo à missa é uma lembrança de que há algo que importa maior do que nós, do que nossos interesses imediatos.
Deixar de ir à praia, jogar um videogame ou dormir mais um pouco para escutar um padre ou pastor pregando?! Essa ideia pode despertar ojeriza em muitos, especialmente em adolescentes, mas eis o ponto: a vida não é apenas fazer aquilo que se quer, seguir desejos e impulsos, ser escravo de instintos hedonistas.
Atualmente, muitos pensam exatamente assim, e daí essa sociedade egoísta, narcisista, extremamente individualista. Cada um por si e Deus contra todos, diz o ditado. Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro, diz outro brocardo. E a juventude segue encarando qualquer coisa alheia aos seus objetivos pessoais e imediatistas como irrelevantes.
Com a mentalidade moderna secular e hedonista, alguém se lançaria num projeto de construção cuja finalização levará mais tempo do que sua própria vida? Pois é. Tal reflexão expõe a importância de Notre-Dame para nossa história, para o legado cristão ocidental. É uma ode àquilo que é maior do que nós, indivíduos, e que resiste ao teste do tempo, pois não é efêmero, não se desmancha no ar, mas sim eterno. Modinhas vêm e vão; a Igreja tem dois milênios. E continua contando…
Rodrigo Constantino
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