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Novela de Glória Perez acerta uma: polícia séria tem trabalho reconhecido
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Quis o destino que no dia da prisão de Rubinho na novela “A Força do Querer” fosse presa também, na vida real, Danúbia Rangel, mulher do Nem da Rocinha e que inspirou a personagem Bibi. Sem o glamour típico da ficção, a traficante estava cabisbaixa, chorosa, segundo informações do jornal:

Apontada por investigadores como estopim da guerra da Rocinha — ela teria sido expulsa da favela por Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157 —, Danúbia Rangel, mulher de Antônio Bonfim Lopes, o Nem, foi presa nesta terça-feira na Ilha do Governador. Agentes da 39ª DP (Pavuna) e da 52ª DP (Nova Iguaçu) a encontraram numa casa em um acesso ao Morro do Dendê poucas semanas após ela publicar nas redes sociais a mensagem “foragida, sim, de boa também”, além de selfies em que quase sempre aparecia de biquíni em piscinas ou praias. Danúbia está condenada a 28 anos de prisão por tráfico de drogas e corrupção ativa, e sua captura aconteceu durante mais um dia de tensão na Rocinha: enquanto as Forças Armadas voltavam a atuar na comunidade, quase 150 mototaxistas de outras regiões da cidade tentavam fechar, a mando do crime organizado, a Autoestrada Lagoa-Barra para tentar atrapalhar a operação.

[…]

Danúbia, de 33 anos, não demonstrou, ao ser presa, a mesma postura que apresentava em postagens no Facebook e no Instagram. Vaidosa, fã de óculos escuros, joias, roupas de grife e unhas de acrigel, a antiga “primeira-dama” do tráfico da Rocinha estava sem maquiagem e manteve a cabeça baixa enquanto era levada para a Cidade da Polícia, no Jacaré. Usava blusa com estampa de pele de onça, short e chinelos quando foi abordada por agentes na porta de uma casa de três quartos, que pertenceria a “uma amiga” e está à venda por R$ 500 mil. À noite, após prestar depoimento por aproximadamente três horas, colocou um casaco e, ao passar por repórteres, chorou.

A realidade não é uma novela. Mas a arte imita a vida muitas vezes. Muitos criticam a autora Glória Perez de ter pintado um quadro irreal e sedutor do núcleo marginal em sua trama. Com alguma razão: teve até uma adolescente que saiu de casa em Minas Gerais alegando que queria ser poderosa como a Bibi.

Mas é preciso cautela e honestidade aqui. O conjunto da obra leva muitos a condenar essas novelas, em que faltam sempre referências positivas, em que os empresários são sempre uns canalhas e os bandidos acabam humanizados demais. Só que não necessariamente mostrar o lado sedutor é fazer apologia ao crime.

A melhor série de todas nessa nova onda de ótimas séries, “Breaking Bad”, mostra um professor medíocre que se transforma num traficante de metanfetamina, mudando sua personalidade, revelando um novo homem mais confiante, poderoso, que faz até sexo de forma diferente com sua mulher. Apologia?

Não necessariamente. Como escrevi em resenha sobre a série, ali trata-se de um pacto mefistofélico em que o sujeito vai ladeira abaixo num destino inevitável, desde o dia em que ele escolheu o caminho do crime. Eis minha conclusão:

“Breaking bad” é uma gíria sulista que significa mais ou menos cruzar o Rubicão, desviar-se do caminho correto e passar a fazer coisas erradas, “liberar o mal”. Quando essa linha é cruzada, o mal toma conta da situação. A virtude é uma prática constante, um exercício diário de escolhas éticas e morais. Quando ela é “temporariamente” abandonada em prol de um resultado imediato, nem sempre há volta. Dependendo da magnitude do desvio, ele tende a ser permanente. E sempre haverá um alto preço a ser pago por isso.

Do que tenho acompanhado da novela, por alto e por ossos do ofício, numa curiosidade antropológica, a ala criminosa não é exatamente um exemplo de felicidade. Sim, houve cenas de esbanjamento, de glamourização, como quando Bibi se deliciava com as notas de dinheiro. Mas também vimos esse lado, o da tentação, em “Breaking Bad”. Só que era tudo ilusão. E o sofrimento de Bibi e de seu filho está claro agora. Deu tudo errado.

Por outro lado, justiça seja feita, a personagem de Paola Oliveira é um exemplo de integridade. Jeiza é uma policial honesta, que desabafou no capítulo de ontem sobre como está tudo invertido, pois a polícia passou a ser alvo de ataques e precisa esconder sua profissão onde mora, para não sofrer nas mãos dos bandidos.

No mesmo capítulo, os policiais que prenderam Rubinho receberam a proposta indecorosa de um milhão de reais por pessoa para deixá-lo fugir. Nem titubearam: levaram o marginal em cana. Ligaram na hora para o secretário de Segurança, Caio, personagem de Rodrigo Lombardi, e outro que é honesto e coloca o dever do cargo acima das paixões pessoais.

Ou seja, a novela de Glória Perez também tem acertado, apesar do proselitismo na questão da “identidade de gênero”, a parte mais forçada da trama. Quando é para criticar, sou o primeiro a fazê-lo, até porque o Projaquistão é uma fonte inesgotável de mentes pervertidas que querem perverter a sociedade em vez de se endireitar. É o habitat natural da esquerda caviar.

Mas quando acertam é preciso reconhecer também. E é um ato de coragem enaltecer a polícia nesse meio, dominado por artistas que vivem defendendo marginais e acusando a polícia de ser “fascista”. As campanhas de boicote à Globo ocorrem em boa parte por conta desse ativismo imoral dessa gente, como no caso da turminha que agora veio defender pedofilia em forma de “arte”.

Outro caso de acerto, talvez involuntário, foi o de Eurico, empresário “machista e preconceituoso”, personagem de Humberto Martins, que certamente não foi criado para ser admirado, mas como acabou dando voz a milhões de brasileiros comuns, caiu no gosto do povo. Diz as coisas mais sensatas, e chega a ser hilário pensar que a turma de artistas o considera um tosco que precisa ser “educado”. Ele poderia ter sido rejeitado pelo público, e acho que era a intenção da autora, mas o tiro saiu pela culatra. #SomosTodosEurico poderia ser uma hashtag quase tão poderosa como #SomosTodosDonaRegina.

É preciso esperar os últimos capítulos para ver como Glória Perez vai concluir sua obra, mas me senti na obrigação, após tantas críticas, de ao menos elogiar o que foi acertado. O núcleo de policiais honestos e competentes salvou a novela. Pois se dependesse só da menina que acha que é menino, mas que gosta de menino e acabou grávida, aí seria dureza…

Rodrigo Constantino

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