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Novo ministro da Educação tem enorme desafio pela frente, a começar por limpeza de lixo ideológico

Fachada do Ministério da Educação (MEC), na Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado (Foto: )

Finalmente Bolsonaro agiu e demitiu o ministro Ricardo Velez Rodriguez do MEC. Lamento não a tardia decisão, mas o fato de um brilhante intelectual com viés liberal como Velez ter se mostrado, de fato, inapto para a função. É a prova de que cada macaco deve ficar no seu galho, e que nem sempre preparo teórico o mesmo que eficiência em gestão. O ex-ministro, uma pessoa legal, agradeceu nas redes sociais pela oportunidade:

Agradeço ao presidente, Jair Bolsonaro, a oportunidade de estar à frente do Ministério da Educação. Confio em sua decisão e me despeço desejando ao professor, Abraham Weintraub, sucesso no cumprimento de sua missão.

Ao que tudo indica, porém, houve uma substituição de seis por meia-dúzia: o novo ministro apresenta perfil ideológico semelhante, o que não vejo como problema, mas carece também de experiência administrativa, o que pode ser, sim, um problema.

A ideologia comunista é um grave mal do “ensino” brasileiro, mas não o único. Há péssima formação geral dos professores, falta de disciplina nas escolas, infraestrutura capenga, currículo desatualizado etc. Enfim, o buraco é bem mais embaixo do que só combater o marxismo cultural, que é, sim, uma meta importante. Até porque vários desses outros problemas derivam, de certa maneira, da hegemonia esquerdista no setor ao longo de décadas. O patrono da nossa “educação” é Paulo Freire, o comunista que bajulava ditadores e importou a luta de classes marxista para dentro da sala de aula.

Mas para avançar com nossa qualidade de ensino, não basta declarar guerra aos comunistas, tampouco é aceitável trocar uma ideologia por outra. Os alunos de Olavo de Carvalho protagonizaram trapalhadas durante a gestão de Velez, e já há especulações se vão ou não retornar. Espera-se que o governo Bolsonaro tenha aprendido a lição.

“Educação não é formar o outro segundo um modelo preconcebido, mas ajudar o outro a ser ele mesmo”, escreveu Dom Lourenço de Almeida Prado, que foi reitor do prestigiado Colégio São Bento no Rio. Não podemos trocar uma doutrinação por outra, apesar de ser fato que a politização à esquerda seja um dos maiores males do setor.

Em 2008, o Instituto Sensus perguntou a professores de escolas públicas e particulares de todo o país se eles consideravam o seu discurso, em sala de aula, “politicamente engajado”. 80% disseram que sim. A pesquisa apurou também que para 78% dos professores entrevistados a principal missão da escola é “formar cidadãos” (apenas 8% responderam que é “ensinar as matérias”). A conclusão é evidente: as escolas brasileiras foram invadidas pela política e a pela ideologia.

O professor deveria ser aquele que procura ensinar a pensar, além de transmitir o máximo possível de conteúdo, de conhecimento objetivo para seus alunos. Instruir, ajudar os alunos a conhecer a realidade, não “reformar a sociedade” segundo sua visão ideológica.

“Não existe neutralidade” é a escusa utilizada por 9 em cada 10 professores para justificar a prática da doutrinação política e ideológica em sala de aula. É o salvo-conduto do professor militante. “Não existe educação neutra, toda neutralidade afirmada é uma opção escondida”, disse Paulo Freire, o comunista que virou patrono merecido da nossa péssima educação. O que mais um militante político disfarçado de professor ‒ como era, aliás, o próprio Freire ‒ precisaria escutar para ceder alegremente à tentação de fazer a cabeça dos seus alunos? Ora, que a neutralidade não existe, isso é apenas um fato. A questão é saber que atitude devemos tomar diante desse fato.

Devemos relaxar e dar livre curso às nossas paixões, preferências, inclinações e preconceitos ‒ como fazem os professores militantes ‒; ou devemos fazer um esforço sincero para controlar e reduzir, tanto quanto possível, a influência negativa desses fatores sobre o conhecimento da realidade?

Justificar a doutrinação pela inexistência da neutralidade é como tentar justificar o roubo pela existência da cobiça. Enfim, é possível buscar maior imparcialidade, valorizar os clássicos (que são clássicos não à toa), e evitar ao máximo transformar a sala de aula em experimento ideológico ou diretório partidário. O novo ministro do MEC tem um enorme desafio pela frente: resgatar o bom ensino, mais imparcial e objetivo, menos politizado e ideológico. Tomara que consiga avançar nessa direção.

Liberais sequer gostam da ideia de existir o MEC, e preferem alternativas descentralizadas e, para os mais pobres, vouchers para que possam estudar em escolas particulares. Mas já que existe o MEC, então é preciso fazer o melhor trabalho possível de gestão para que os alunos não sejam prejudicados com atrasos e confusões, típicas das últimas administrações. E a solução para os problemas definitivamente não envolve mais recursos públicos. Que o novo ministro entenda isso tudo e faça um bom trabalho, não só de limpeza do lixo ideológico, mas também na gestão da pauta, crucial para o futuro do nosso país.

Rodrigo Constantino

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