Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal
Os números das contas nacionais divulgados pelo IBGE (link aqui e aqui) não deixam dúvidas: vivemos na maior crise registrada em nossa história. Não é nenhuma surpresa, aqui no blog este é um tema recorrente (por exemplo: aqui, aqui e aqui), mas a notícia merece ser registrada. Comecemos pelo tamanho e amplitude da queda. A figura abaixo mostra a variação do PIB em 2016 (em azul), a variação da produção de cada setor em 2016 (em verde) e a variação dos principais elementos da despesa (em vermelho). Todos foram negativos!
Pelo lado da oferta a queda de 3,6% do PIB é decomposta em queda de 6,6% na agropecuária, 3,8% na indústria e 2,7% nos serviços. Como podemos ver a agropecuária, que nos salvou em outros anos, inverteu os papéis em 2016 e mostrou a maior queda entre os três grandes setores. Desde que o desempenho da agropecuária é muito afetado por condições climáticas e pela demanda externa é possível que o setor melhore em 2016. Na indústria, um setor que está mais a associado a dinâmica interna da economia, a queda foi de 3,8%. Na indústria extrativa mineral, dos setores industriais o mais ligado ao que acontece no resto do mundo, a queda foi de 2,9%. Na construção civil e na indústria de transformação a queda foi de 5,2%, ou seja, a depender apenas de fatores internos a queda da indústria poderia ter sido ainda mais severa. O setor de serviços, que responde pela maior parte do PIB, teve queda de 2,7%. Para quem gosta de esperança o lado da oferta traz uma notícia boa, a produção de eletricidade subiu 4,4% em 2016, isso pode dar espaço para um aumento da produção. Lembrem sempre que energia é um limitante para nosso crescimento, não fosse a crise provavelmente já teríamos tido um colapso de energia e água.
Pelo lado da demanda houve queda de 10,2% no investimento (FBCF), o que sugere que uma recuperação de fato ainda está distante, queda de 4,2% no consumo das famílias e queda de 0,6% no consumo do governo. Fica claro que o esforço de ajuste do consumo foi maior nas famílias do que no governo, só isso já é motivo suficiente para rechaçar qualquer proposta de aumento de impostos. Não faz sentido penalizar quem fez um ajuste mais intenso para facilitar a vida de quem fez o menor ajuste. As importações tiveram queda 10,3%, magnitude semelhante a queda no investimento, e a exportações aumentaram 1,9%. De fato, com a crise que estamos vivendo, é de se esperar que as pessoas comprem menos importados e as firmas façam um esforço maior para conseguir mercados externos.
Olhando a dinâmica da crise é possível que ainda estamos descendo, porém a uma velocidade menor. A figura abaixo mostra a taxa de crescimento do PIB acumulada em quatro trimestres em relação ao mesmo período do ano anterior. Repare que no primeiro e segundo trimestres de 2016 a queda foi de mais de 4,5% (-4,7% e -4,8%, respectivamente), no terceiro trimestre a queda foi de 4,4% e no quarto trimestre a queda foi de 3,6%. Um otimista diria que estamos melhorando, eu prefiro dizer que estamos piorando menos.
É sempre importante considerar a taxa de investimento e a taxa de poupança. A taxa de investimento aponta os rumos da recuperação, para que a produção aumente de forma consistente a médio prazo é preciso investir. A taxa de poupança mostra nossa capacidade de financiar o investimento. A figura abaixo mostra que ambas estão caindo, mas a taxa de poupança está caindo mais devagar que a taxa de investimento, ou seja, a diferença entre as duas está caindo. De fato, a diferença está nos níveis de 2013, antes da crise tomar força e ficar explícita. Isso significa que precisamos menos dinheiro do exterior para financiar o investimento, mas não é para comemorar, se a taxa de investimento voltar a crescer, condição necessária para uma recuperação saudável da economia, vamos de ter nos financiar no resto do mundo ou poupar mais.
O quadro final é desolador. todos os grandes setores encolheram em 2016. Construção e indústria de transformação encolheram mais de 5%, a agropecuária caiu mais de 6,5%! No geral estamos voltando no tempo em termos de renda. A queda no investimento sugere que a recuperação que precisamos ainda não está no horizonte, a queda no consumo das famílias mostra o sacrifício que já fizemos, nesse ambiente chega a ser cruel sugerir aumento de impostos para facilitar a vida do governo. A taxa de poupança, baixa e caindo, mostra que não temos fôlego para aventurar que tentam retomar o crescimento sem considerar a necessidade de atrair capitais externos. A análise das contas nacionais de 2016 mostra que se alguma crítica pode ser feita ao Pessimildo é que ele foi otimista.
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