A enorme reportagem do NYT sobre o passado de Donald Trump como mulherengo “desrespeitador” tem dado o que falar nos Estados Unidos. A tentativa era, claramente, pintar o candidato republicano como um predador implacável que não respeita as mulheres e as enxerga apenas como objetos sexuais. A principal fonte dos jornalistas, porém, saiu logo depois em defesa de Trump, dizendo que o tom da matéria não captava de forma alguma seu sentimento em relação àqueles acontecimentos. Ela admirava Trump e pretende votar nele.
O que considero mais relevante disso tudo, para os brasileiros, é entender que o movimento feminista de esquerda não é exclusividade nossa, sendo muito forte nos Estados Unidos também, mas que aqui, ao menos, há o contraponto. Fosse no Brasil e tudo ficaria apenas no primeiro estágio: a campanha enviesada de jornalistas de esquerda contra um candidato de “direita”. Ponto final.
Nos Estados Unidos há, porém, a Fox News. No momento seguinte da reportagem badalada a moça já estava dando entrevistas no canal de Rupert Murdoch, alegando que tinham tirado suas declarações do contexto e que não aceitava aquele viés pejorativo relatado pelo jornal. Os americanos, como se vê, têm acesso ao contraditório. No Brasil, tudo ficaria restrito ao destaque esquerdista.
Outro ponto que julgo interessante é o viés natural desses jornalistas. Não há necessariamente má intenção. Eles vivem numa bolha, em Nova York, apenas entre seus pares igualmente “liberais”, “progressistas”, e acham que as grandes pautas do mundo se resumem aos movimentos de “minorias”. Perderam completamente o elo com a nação, com o povo, com a classe média do interior, com o subúrbio.
Para esses jornalistas de esquerda, a América só está preocupada com a legalização das drogas, do aborto, com a causa gay, com as cotas raciais, com o clima e com o direito dos animais. Eles realmente pensam que essa é a agenda relevante para a população em geral. Ao retratar Trump como um “predador machista”, sequer passa pela cabeça da jornalista que grande parte do público pode… gostar! Nossa, o cara foi numa festa de piscina e deu uma ‘cantada’ na modelo de biquini: que horror!!!
As feministas odeiam concurso de beleza. A população adora! As jornalistas são, em grande parte, feministas “liberais”. A população não. As jornalistas vivem numa bolha, apenas com seus pares, e passam a achar que o mundo todo é como elas, ligado nos mesmos temas. Acham que todos compram no Whole Foods, não na Walmart. Mas a Walmart é a rede de varejo mais valiosa do mundo. Hello? Essa gente precisa ler Coming apart, de Charles Murray, para se dar conta de como se criou um abismo entre esses dois mundos distintos.
Bill O’Reilly, líder de audiência há 15 anos com seu programa “The O’Reilly Factor”, tentou entrevistar a jornalista do NYT responsável pela matéria, Megan Twohey. Disse que queria fazer uma única pergunta a ela: “Você é feminista?” Segundo relatou, o telefone foi desligado em sua cara. Mas a pergunta procede! Na analogia do próprio O’Reilly, é como mandar um quacre pacifista para ser correspondente de guerra. Não dá para evitar o viés.
Uma feminista declarada cobrindo o passado mulherengo de Trump é pedir para ter forte viés. O entrevistado de ontem no programa, Bernard Goldberg, ex-âncora da CBS e autor do excelente livro Bias, constatou que o pior nem é o viés, pois como ele sabe, a imprensa tem um viés de esquerda, justamente porque a maioria dos jornalistas é de esquerda. O pior é o editor não valorizar, de fato, a pluralidade. A esquerda adora falar em nome dela, mas na prática…
Eis o que chama a atenção: Hillary Clinton é casada com Bill, o ex-presidente mulherengo, alvo de vários escândalos. Trump é o único, aliás, com coragem de apontar para isso. Os casos, como o famoso de Monica Lewinsky, foram abafados e há suspeitas de envolvido do casal. Hillary participou de alguma forma num esquema de calar as mulheres abusadas por seu marido? Essa pergunta sequer desperta o interesse desses jornalistas!
O grande problema é esse: o viés na largada, do editor. Como um jornal do porte do NYT pode demonstrar tanto interesse no passado de garanhão de Trump, mas nenhum nos escândalos de Bill Clinton? O duplo padrão é que mata. E depois essa mídia toda “progressista” banca a isenta, a neutra, e acusa a Fox News, a única a dar voz ao contraditório, de enviesada e direitista. É mole?
Por isso a pergunta é tão importante: onde está a Fox News do Brasil?
Rodrigo Constantino