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Vi dois filmes neste fim de semana bem diferentes, mas que se comunicam em termos de mensagem. O primeiro deles foi “The Exception”, que conta a história de um soldado alemão nazista que vai para a casa em exílio do Kaiser Wilhelm II na Holanda para investigá-lo, e acaba se apaixonando por uma empregada, que no fundo é uma agente infiltrada, e ainda por cima judia (a linda atriz inglesa Lily James).

A trama gira em torno desse romance, mas o filme tem bons ataques ao nacional-socialismo, sempre retratado por esse nome completo, para reforçar justamente o lado socialista de Hitler e seus seguidores. O próprio soldado percebe como a “igualdade” é rejeitada na prática, pois os líderes nazistas mais parecem os novos aristocratas, com mais arrogância ainda, enquanto o Kaiser se mostra uma pessoa decente.

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A vulgaridade dos “chacais” que chegaram ao poder também salta aos olhos quando Himmler vai visitar o Kaiser em sua casa. Mas tudo isso é secundário no filme, ainda que um combatente ferrenho do coletivismo como eu não possa deixar passar em branco. A mensagem principal está no próprio nome do filme, e com algum “spoiler”, ainda que evidente: o amor entre ambos, soldado nazista e espiã judia, é a grande exceção, já que o ódio dos nazistas é a regra.

Mas é essa exceção que conta, que vira tema de filme, que mexe com os seres humanos. Em meio a tanto ódio, numa guerra, sob um regime terrível, dois jovens encontram um motivo para viver, para trair esses tiranos e suas ordens com todos os riscos que isso representa. A regra, ainda mais ali, era a “banalidade do mal”, mas a exceção foi o amor e o que ele produziu naqueles indivíduos: a determinação de fazer o que é certo, apesar do enorme perigo.

O segundo filme foi “Wonder Woman”, a Mulher Maravilha da DC Comics, a deusa amazona (e que deusa!) que viveu isolada numa ilha paradisíaca só de mulheres, até descobrir parcialmente seu passado, quem ela realmente era, e partir para tentar salvar o mundo. Diana resgatou o piloto Steve, que lhe conta da guerra mundial em curso, e ela resolve ir com ele para enfrentar Ares, o Deus da Guerra, filho de Zeus (seu irmão, mas ela ainda não sabe).

Típico filme de ação de heróis, mais até ao estilo Marvel do que DC, cada minuto no cinema vale pelos efeitos especiais e, principalmente, pela beleza da atriz israelense Gal Gadot, que é realmente linda. Há um toque feminista na adaptação, claro, mas tudo bem: a gente até engole isso pela mensagem essencial: vale a pena salvar a humanidade, se o homem é corrompido, se possui a maldade dentro dele? E a princesa amazona descobre que sim, que na verdade não é tanto uma questão de merecimento, mas do que se acredita, e é possível acreditar no amor, na bondade, na própria humanidade.

Com “spoiler” agora (os que não viram ainda podem pular o parágrafo), apesar de ser um tanto previsível (ao menos para mim foi): Ares, na verdade, era o Sir Patrick Morgan, o pacifista que defendia um “armistício” com os alemães (e os vilões dos dois filmes são os alemães, um na Primeira Guerra e outro na Segunda Guerra). Toda aquela conversa de acordo de paz no Gabinete Imperial da Guerra era distração, pois no fundo ele sabia que isso só levaria à guerra total mesmo. Chamberlain na Segunda Guerra executaria bem esse papel: o pacifista que leva à guerra.

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Mas isso novamente é secundário. O importante é a mensagem de esperança, de amor, de que se os homens são capazes de coisas terríveis, como são mesmo, eles também são capazes de atos heróicos, corajosos, abnegados, altruístas, quando possuem uma razão para viver (e para morrer). A “imaginação moral” de que falava Burke é justamente um filme como esse, mostrando que é possível acreditar em algo maior, acima de nós, e que isso pode nos levar a belas ações na luta contra o Mal (que não está apenas fora, num ser qualquer, mas dentro de todos como potencial).

Eis, portanto, o elo que fiz entre esses dois filmes tão diferentes em estilo, uma mensagem bastante cristã, diga-se de passagem: se é verdade que sofremos a Queda, que somos “bestas caídas”, que temos dentro de nós a maldade, a corrupção, o ódio, também é verdade que podemos romper esses grilhões e agir com heroísmo, com coragem, com abnegação, quando apostamos no amor.

Os memoriais de guerra estão repletos de exemplos de jovens soldados que deram suas vidas para defender a Pátria, a liberdade, a esperança. Os cínicos podem tentar reduzir esses atos heróicos a incentivos individuais mesquinhos, podem tentar “desconstruir” esses valores, como o patriotismo, mas nada disso vai mudar a realidade: alguns homens – não todos, é claro – destacam-se pelo heroísmo na luta por uma causa realmente nobre, que mantém a chama da esperança na humanidade acesa. Aquela que os niilistas e misantropos, os filhos de Ares, querem apagar.

Num mundo com nazistas, comunistas, socialistas, petistas, terroristas islâmicos, é fácil ficar cansado, desanimado, decepcionado, questionando a própria viabilidade da humanidade. Alguns se viram para os animais, como se o homem não prestasse. Muitos não prestam mesmo. Mas é bom evitar essa misantropia. Se só o homem é capaz de atos de pura maldade, só ele também é capaz de demonstrar tanta empatia pelo próximo, uma empatia que, como sabiam os filósofos morais do Iluminismo britânico, está presente em nós e precisa ser alimentada.

No final, há invariavelmente uma questão de escolha, de livre-arbítrio. O homem precisa escolher ser homem, incutir em seus hábitos esses valores de decência, para não ser apenas uma besta selvagem, movida pelas paixões mesquinhas, pelo ódio.

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Rodrigo Constantino