Os “intelectuais” são aqueles que amam uma ideia acima de qualquer coisa, inclusive da empatia pelo próximo, de carne e osso. É por isso que, mesmo após todas as experiências completamente fracassadas do socialismo, eles continuam pregando o… socialismo! Pois amam o socialismo como uma ideia, uma abstração, ainda que a pilha de cadáveres vá aumentando a cada nova tentativa. Agora vai!, bradam eles, culpando sempre os desvios dos líderes pelo novo fracasso retumbante.
Pensei nisso ao ler a coluna de Vladimir Lenin, digo, Safatle na Folha hoje. O psolista decreta a morte da Europa, mas não pelas razões que qualquer pessoa racional daria. Não é o excesso de paternalismo estatal, de dívida dos governos, de déficit público, ou nem a ameaça islâmica, russa ou dos imigrantes desesperados que preocupa Safatle. É o afastamento do socialismo, e isso mesmo quando a Grécia coloca no poder os populistas irresponsáveis do Syriza. Para Safatle, o problema é que o socialismo grego não sairá vencedor na batalha.
A “felicidade” que o “intelectual” almeja vem com base na Revolução Francesa, aquela que degolou todos pela frente, que instaurou o Terror. A grande falha do projeto europeu, segundo o socialista, é a austeridade, feita para “salvar bancos”. Pasmem! Eu poderia jurar que a austeridade, ou seja, um governo responsável, atendia às necessidades dos mais pobres, que são os que mais sofrem com a inflação gerada pelos governos perdulários. A Alemanha mais austera vai bem, e a Grécia irresponsável vai mal. A culpa é da austeridade, claro!
Ironicamente, assisti a um painel no Estoril Poliital Forum 2015 hoje sobre as mazelas europeias, e um dos palestrantes resumiu com precisão a origem do caos: a União Europeia representa 7% da população mundial, 25% do PIB mundial, e impressionantes 50% dos gastos sociais no mundo! Ou seja, é paternalismo até dizer chega, um paraíso para aqueles que acham que o estado deve cuidar de todos do berço ao túmulo. Mas algo não deu certo nesse modelo de bem-estar social…
A União Europeia surgiu como resposta aos desafios da globalização, mas suas instituições não estão funcionando bem. O “multilateralismo” tem sido seletivo. A UE deveria voltar ao básico em sua origem: criar um ambiente de livre mercado entre esses países. Foi esse o diagnóstico do professor. Ele não espera que aconteça isso tão cedo. Alguns acham que a resposta às crises deve ser intensificar a integração. Pouco provável também. Crer que a UE é pós-nacionalismo é questionável. Alemães vão bancar gregos para sempre em nome do socialismo, como desejaria Safatle? Duvido.
O cenário mais provável é um “muddle through”, um horror sem fim, que vai se arrastando por anos. Uma morte lenta, talvez. Mas pelos motivos opostos aos oferecidos por Safatle. Em um típico comentário irresponsável de um “intelectual” que prefere uma ideia às pessoas de carne e osso, o socialista conclui:
Se o governo grego do Syriza fez algum erro foi o de acreditar na racionalidade dos gestores do capitalismo atual. Mais sensato do que ver seu povo destroçado por uma política econômica suicida é pedir moratória e sair de uma vez da zona do euro. De toda forma, a Europa morreu, pois nada vive sem ideia.
Ou seja, o Syriza não erra por ser demagogo ao extremo, populista, irresponsável, e por achar que os outros têm a obrigação de pagar pelos erros dos gregos. Não! Ele erra por acreditar na racionalidade dos gestores do capitalismo! Mas os países mais capitalistas e liberais estão em situação bem melhor do que os mais intervencionistas e socialistas! Detalhe bobo que será ignorado pelo “intelectual”, para que continue amando uma ideia.
A persistência de uma ideia totalmente equivocada como o socialismo só pode ser explicada por essa tara “intelectual” que cega seus adeptos aos fatos da realidade. Eu poderia até convidar Safatle para participar gratuitamente do meu curso de economia e mercado, que terá início nas próximas semanas. Mas seria em vão, pois sabemos que algumas pessoas são simplesmente imunes a argumentos, fatos e lógica. O que eles precisam mesmo é amar uma ideia. Mesmo uma ideia responsável pela miséria, morte e escravidão de dezenas de milhões de inocentes…
Rodrigo Constantino
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