Que tipo de pragmatismo pode justificar o uso da expressão “anjo da paz” pelo papa Francisco para se referir ao líder palestino Abbas? O que ele pretende com isso? Só Deus e o próprio papa sabem, mas a fala de Francisco despertou imediata reação em Israel, como seria de se esperar. Quem conhece melhor e de perto a postura das autoridades palestinas sabe que “anjo” e “paz” são termos que não combinam muito com o que se passa ali.
Mesmo o jornal israelense Yediot Aharonot, que foi um dos maiores críticos da reeleição de Netanyahu, publicou um artigo de Noah Klieger bastante duro contra a infeliz fala do papa Francisco. Como o autor confessa, foi preciso ler e reler a notícia para se certificar de que não se tratava de alguma piada. Anjo da paz? Mahmoud Abbas?!
A única conclusão a que o autor conseguiu chegar foi de que o papa ou é muito ingênuo, ou desconhece o que ocorre na Palestina nos últimos 70 anos. Caso contrário, não dá para entender como uma pessoa culta e inteligente possa proferir uma sentença tão distante da realidade.
Afinal, como diz Klieger, Abbas é o líder de uma autoridade efêmera sustentada graças às doações do mundo todo e principalmente do próprio Estado de Israel, e tem representado mais um obstáculo do que um catalisador do possível acordo de paz no conflito entre Israel e a Autoridade Palestina.
Nesse aspecto, Abbas não seria muito melhor do que seu antecessor, Yasser Arafat, que teve a faca e o queijo nas mãos para selar o mais vantajoso acordo de paz com Israel, e fez de tudo para impedi-lo, levando ao desespero lideranças locais.
Para provocar o papa, Klieger escreve que ele deveria perguntar ao seu “anjo da paz” de Ramallah por que ao longo dos anos quase todos os cristãos escaparam ou saíram dos territórios controlados pelos Palestinos, enquanto em Israel milhares deles vivem em paz e gozam de ampla liberdade religiosa.
Quando visitei Israel recentemente, escutei do líder da Igreja Cristã Ortodoxa a declaração enfática de que somente Israel tem sido um porto-seguro para os cristãos na região, e que lá eles desfrutam de toda a segurança e liberdade que precisam. O mesmo ocorre sob o comando da Autoridade Palestina, por acaso? No vídeo abaixo, o tenente-coronel do Exército de Israel também fala sobre a pluralidade religiosa nas Forças Armadas israelenses:
httpv://youtu.be/jfeYNkKTpSY
Existe algo similar na Palestina? O “anjo da paz” recebe de braços abertos os judeus ou mesmo os cristãos? Fica difícil engolir a declaração do papa Francisco, então. Por que o “anjo da paz” seria alguém que comanda uma região onde não há paz para os cristãos?
O papa Francisco poderia se espelhar na objetividade de Ayelet Shaked, a nova Ministra da Justiça de Israel, cujo perfil foi descrito no NYT esses dias. A imagem que emerge do perfil é a de uma mulher jovem, sem firulas e sem enrolação, preocupada com a ação e não com as belas palavras apenas, alguém que tem a coragem de remar contra a maré vermelha e o politicamente correto.
Com tal postura, a bela ministra despertou a fúria da esquerda radical, claro. Mas ela não liga, e ainda cita Ayn Rand para justificar seu comportamento: é preciso às vezes insistir em suas convicções sem dar tanta importância às acusações alheias, caso contrário, nada será feito.
Acho que o papa Francisco faria bem ao seguir esse conselho e não apelar tanto para a retórica, chamando de “anjo da paz” alguém que não foi capaz de construir uma verdadeira paz em seu próprio território. Se Abbas é o “anjo da paz”, melhor nem descobrir quem é o demônio nessa história…
Rodrigo Constantino
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