• Carregando...
O antissemitismo continua bem vivo e Israel tem o direito de se defender
| Foto:

Às vezes o inimigo vem de dentro dos portões, não de fora. Há judeus que, por vários motivos, acabam agindo de maneira a enfraquecer as chances de sobrevivência do próprio povo. Por outro lado, há aqueles que não são judeus, mas compreendem sua delicada situação e saem em sua defesa. É o caso de João Pereira Coutinho, que escreveu uma ótima coluna hoje tendo que defender Israel contra um historiador judeu.

Trata-se de Shlomo Sand, autor de “How I Stopped Being a Jew” (como deixei de ser judeu), para quem não faz sentido essa coisa de identidade nos dias modernos. Para Sand, segundo Coutinho, as perseguições aos judeus terminaram com o Holocausto, que não foi uma tragédia apenas judaica, e defender Israel com base em argumentos religiosos é condenar a minoria do país à condição de cidadão de segunda classe. Coutinho rebate seu ponto:

Garantir a natureza “judaica” do Estado de Israel tem uma relevância prática evidente: sinalizar para a Autoridade Palestina (e para os terroristas do Hamas) que não pode existir nenhuma negociação de paz quando os palestinos exigem o regresso a Israel (e não a um futuro Estado da Palestina) de 5 milhões de “refugiados” palestinos (“refugiados” das guerras de 1948 e 1967 que, na verdade, são filhos dos filhos dos filhos dos originais 900 mil).

Onde Shlomo Sand vê racismo, qualquer historiador sério vê simplesmente sobrevivência demográfica para um país de 8 milhões de habitantes, onde 6 milhões são judeus.

Já quanto à afirmação de que o antissemitismo é coisa do passado, parece realmente piada de mau gosto. Basta ler os jornais, ver as sinagogas atacadas, os europeus tendo que migrar para fugir do clima de perseguição, mesmo em países ocidentais civilizados como a França. O antissemitismo continua bem vivo e basta um pingo de honestidade para reconhecer isso.

Tentar amenizar a desgraça judaica no Holocausto alegando que outros também sofreram é ignorar que a “solução final” fazia parte do projeto dos nazistas, cujo objetivo era justamente sumir com todos os judeus do mapa. Vários grupos e indivíduos foram vítimas de Hitler, mas é inegável que os judeus representavam sua obsessão perversa e pagaram um preço desproporcional por isso.

Coutinho atribui a postura de Sand a uma possível tentativa de “ficar bem na foto” com seus próprios algozes. Povos sitiados às vezes desenvolvem esse mecanismo de defesa, na esperança de serem deixados em paz. Se até na Alemanha havia judeus que permaneceram “integrados” ao país nazista no afã de evitar o mesmo destino trágico de seus companheiros…

Claro, descobriram que não era bem assim, que certas identidades não podiam ser apagadas facilmente. “Se Shlomo Sand caísse nas mãos do terrorismo antissemita, de nada lhe valeria tanta náusea judaica e tão elegante cosmopolitismo”, conclui Coutinho. A sobrevivência do povo judeu depende de gente como os militares de Israel, não de historiadores que renegam a própria origem ou identidade para contemporizar com o inimigo. 

PS: Fui convidado pela “The Face of Israel”, uma instituição que tem como objetivo divulgar melhor a realidade do país, a conhecer de perto aquilo que costumo defender de longe. Aceitei, claro, e viajo neste fim de semana para Tel Aviv, para uma rodada de visitas e conversas. A leitura escolhida para a longa travessia foi “História dos Judeus”, de Simon Schama, historiador sério que conheço pelo trabalho sobre a Revolução Francesa. Recomendação do próprio Coutinho…

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]