Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal
O Partido dos Trabalhadores não esteve presente na posse de Jair Bolsonaro. Afirmou haver falta de lisura no processo eleitoral, que haveria sido distorcido pela proibição da candidatura do ex-presidente condenado e preso Lula, bem como pela suposta disseminação de fake news por parte de apoiadores do presidente eleito. Uma fraca, falsa e antidemocrática narrativa.
A despeito de considerar que o Brasil vive uma espécie de regime de exceção, a presidente nacional do PT — Gleisi Hoffmann — esteve presente na cerimônia de posse de Nicolás Maduro na Venezuela.
A eleição deste é contestada internacionalmente pela maioria dos países da América Latina, da União Europeia e dos Estados Unidos. Além de reconhecidas fraudes, houve boicote da oposição às eleições porque os três principais adversários de Maduro foram impedidos de concorrer: Leopoldo Lopez está em prisão domiciliar, Henrique Capriles teve seus direitos políticos cassados por 15 anos, e Antonio Ledezma está refugiado em Madrid. Dessa forma, houve abstenção de 54%, ante apenas 20% nas eleições de 2013, quando muitos venezuelanos ainda nutriam esperanças. A verdade é que as eleições venezuelanas não passaram de uma simulação — e todos sabiam disso.
Nesta semana, o Paraguai foi mais um país a romper relações com a Venezuela. O Grupo de Lima, composto por 14 países, entre eles o Brasil, anunciou que não reconheceria o governo venezuelano caso o presidente Nicolás Maduro assumisse o novo mandato.
Por sua vez, a Organização dos Estados Americanos (OEA) — composta por 34 nações — também cobrou novas eleições presidenciais com “todas as garantias necessárias para um processo livre, justo, transparente e legítimo”.
Desde 2017, quando houve usurpação do poder do Congresso por uma Assembleia Constituinte unipartidária, a Venezuela passou a ser amplamente reconhecida como uma autocracia. Não obstante, para a líder do PT, as eleições foram legítimas e dignas de contar com sua presença. Nada melhor para resumir a posição do partido em relação ao regime Chavista que a frase do ex-presidente condenado e preso Lula: “há excesso de democracia na Venezuela”.
Ao longo da campanha de 2018, o PT se colocou como o defensor da democracia no Brasil, afirmando que a candidatura de Haddad era “o centro democrático”. No entanto, a prática é distante do discurso: enquanto estiveram no poder apoiaram e financiaram, com dinheiro público, diversas ditaduras ao redor de todo o globo. Mais recentemente, além da Venezuela, apoiaram a guinada autoritária de Daniel Ortega na Nicarágua.
A cúpula do partido adota essa postura não por desconhecimento acerca das supressões de direitos individuais praticadas por tais governos. Manter o discurso anti-imperialista é, para eles, mais vantajoso politicamente do que seria admitir as catástrofes humanitárias causadas pela radicalização à esquerda desses países. O PT sabe que boa parte de seu eleitorado aprova atitudes como esta; já a outra parcela, que discorda, não deixará de apoiar a agremiação por conta desses episódios.
Trata-se de uma estratégia de sobrevivência: enquanto o novo governo assume um posicionamento de não reconhecimento ao novo mandato do ditador venezuelano, resistir à retórica anti-Maduro é colocar-se como alternativa ao bolsonarismo. A “voz do povo”, a soberania nacional e a preservação das instituições democráticas são tão somente preocupações secundárias do partido, uma vez que o foco é — como sempre foi — sua própria capitalização, buscada especialmente a partir da deslegitimação da oposição.
Não há como se afirmar democrático tendo uma predileção histórica por ditaduras. Eis a verdade: o PT não defende a democracia, mas sim seu projeto de poder.