José Fucs, um dos melhores jornalistas do Brasil, assina uma boa reportagem hoje no Estadão sobre a direita brasileira, especialmente sobre sua “máquina de fazer barulho” na internet. Estou lá citado ao lado de gente que admiro e respeito muito, com muito orgulho. Fucs resume bem o segredo da força desse movimento, do ressurgimento da direita – ou melhor: das direitas – em nosso país. Temos a internet, as redes sociais, e com isso conseguimos romper a hegemonia da esquerda na mídia tradicional. Perdemos o medo e a vergonha de defender a direita:
Depois de quase sumir do mapa político do País desde a redemocratização, nos anos 1980, a direita, como Fênix, está renascendo das cinzas. Hoje, muita gente ainda se incomoda de ser chamada de “reacionária”, “conservadora” e “neoliberal”. Mas, cada vez mais, parece que a turma da direita decidiu “sair do armário” e fazer ouvir a sua voz, sem se preocupar com o que considera como “bullying” ideológico da esquerda.
Impulsionada pelo sucesso das manifestações em favor do impeachment, pelo antipetismo, pela indignação com os escândalos de corrupção e pela crise na economia, essa “nova direita” agora defende suas ideias à luz do dia e está conquistando trincheiras importantes na guerra de comunicação travada com a esquerda nas redes sociais.
Antes um território quase exclusivo das esquerdas, as redes sociais têm sido invadidas por uma série de páginas consideradas de direita. Mais que isso, a direita está conseguindo algo que parecia improvável há alguns anos: impor a sua narrativa, não apenas para uma audiência de mais idade, mas também para os mais jovens.
Esse tipo de texto serve para uma reflexão acerca de como já caminhamos, nesses últimos anos de luta. Lembro da época do Orkut, em que ficava debatendo com esquerdistas em comunidades, talvez levando o enfoque liberal pela primeira vez a muita gente. Se não enchíamos nem uma Kombi naqueles tempos, hoje lotamos vários Maracanãs. Não importa tanto levar créditos por isso ou aquilo, pois a disputa de vaidade não me interessa. Basta saber que “está acontecendo”, que o liberalismo e o conservadorismo estão conquistando mais espaço, e que isso poderá mudar mesmo o Brasil.
Alexandre Borges também comentou sobre a reportagem:
A matéria do Estadão sobre a “direita barulhenta” tem o mérito de não ignorar a existência (e a popularidade) de personalidades, pensadores e ativistas fora da matrix da esquerda econômica.
Foi uma grata surpresa encontrar não apenas meu nome mas o de vários amigos queridos que lutam há anos na mesma trincheira contra as piores idéias da história, as que mais causaram mortes, prisões políticas, sofrimento e miséria. O Brasil, 140º lugar no principal ranking de liberdade econômica do mundo, é uma espécie de parque temático decadente destes anacronismos. Como disse Millor, “uma ideologia quando fica bem velhinha vem morar no Brasil”.
Há algumas opções no mínimo curiosas, como a ausência de O Antagonista ou a escolha de comparar o Facebook do Pondé com o twitter do Olavo, o que fez o último parecer menos infliuente do que realmente. Outro ponto bastante discutível é optar por considerar a relevância de uma página pelo número de seguidores e não pelo engajamento (comentários, curtidas e compartilhamentos). Muitas páginas possuem um alto número de seguidores por estar penduradas em grande veículos ou por terem sido influentes há tempos, mas a maneira de medir relevância é evidentemente o alto engajamento.
O grande problema da matéria foi ter caído no conto de que “liberal é quem libera” e se você, por exemplo, ousa não concordar em dar ao PCC uma barraca de venda de heroína na porta das escolas você é “autoritário”. Misturar liberalismo com abortismo seria cômico se não fosse genocida.
Ninguém gosta de ser chamado, mesmo que sutilmente, de autoritário num jornal de circulação nacional, especialmente quando não é verdade, mas não vou exigir demais da matéria que, no geral, está boa.
Se parte da imprensa ainda não entendeu que o liberalismo é uma conquista civilizacional e única do Ocidente, que mercados sempre existiram e existirão mas a democracia liberal com livre mercado é um fenômeno nascido, desenvolvido e sustentado pelas idéias e instituições da sociedade ocidental e é, por isso, um fenômeno cultural com consequências econômicas e não o contrário, em parte é culpa nossa que ainda falhamos na transmissão deste conhecimento de forma sistemática, acessível e didática.
O importante é que estamos sendo notados e vamos ser cada vez mais. Estamos só aquecendo, o jogo ainda nem começou.
Claro que cada um vai encontrar erros ou distorções numa reportagem dessas, que precisa abordar coisas tão complexas e distintas como as nuanças dentro do que se chama direita. Sobre Reinaldo Azevedo fazer parte da lista, por exemplo, o que gerou a revolta ou escárnio de muitos, o próprio Fucs explicou em minha página do Facebook:
Apesar da percepção de muita gente de que ele não é de direita, não tinha como deixá-lo fora, pelo que ele representa para o grande público e pela imagem que havia construído nos últimos anos. A saída foi colocá-lo mais para o centro, até porque pelo menos ele defende a economia de mercado, a privatização, bandeiras tradicionais da direita na economia.
Tem um ponto. Reinaldo mudou, tem sido estridente demais na defesa dos interesses tucanos, rasgou certas bandeiras do passado, mas tem um histórico que o habilita a fazer parte do grupo ainda. É, se preferirem, a “direita da esquerda”, ou talvez a “esquerda da direita”.
Discordâncias à parte, o importante, como diz Borges, é que estamos sendo notados, estamos ocupando espaços que nunca foram nossos, abrindo os olhos de muita gente, colocando a esquerda na defensiva, e o jogo nem começou. A direita acordou e chegou para ficar, para efetivamente mudar o Brasil, colocá-lo na rota do crescimento sustentável, do progresso, e também do resgate de valores morais, perdidos, dilacerados após décadas de hegemonia “progressista”.
Que mais e mais direitistas saiam da toca, pois ser de vanguarda, hoje, significa ser de direita. O esquerdismo está ultrapassado, fede a naftalina, exala um insuportável odor de hipocrisia, de ignorância, de vitimismo torpe, de covardia politicamente correta. Aos indignados que se recusam a compreender o fenômeno, só posso dar esse conselho: aceitem que dói menos.
Rodrigo Constantino
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