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O Brasil é um país de direita? Infelizmente as coisas não são bem assim

Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

A pesquisa divulgada pela FGV que diz que a ideologia de direita passou a predominar no Brasil. As pessoas que se declaram nesse sentido saltou de 28% para 39%, enquanto as que se dizem de esquerda tiveram percentuais invertidos, saindo de 39% para 38%.

Aos fatos:
A grande maioria dos brasileiros é ignorante em tudo. Não sabe escrever e mal consegue fazer contas. Tem dificuldades para interpretar textos. Não conhece nada de história e de geografia. Portanto, não há a menor sustentação para qualquer afirmação sobre a consciência política e ideológica da população. A grande maioria das pessoas, incluindo os militantes de um lado e do outro, não sabe o que é socialismo, capitalismo, liberalismo, conservadorismo e qualquer “ismo” que se coloque na conversa.

Conceitualmente, a grande maioria da população é de direita – cristã, preza os valores da família tradicional, tem ambições financeiras, tenta constituir patrimônio para deixar de herança para os filhos e odeia bandidos e drogas. No entanto, isso não significa nada. Essas pessoas apoiam e votam em qualquer pessoa que lhe transmita esperança de um mundo melhor, principalmente em suas vidas privadas. Grande parte dos eleitores de Bolsonaro foram eleitores de Lula e Dilma – e podem voltar para os braços do PT a qualquer momento.

Isso mostra que as pessoas dão opiniões sobre política a partir de um imaginário construído pela realidade de suas próprias vidas. O que Fernando Haddad ou Jair Bolsonaro representam ideologicamente não tem a menor importância. Haddad foi rejeitado, porque as pessoas estavam cansadas da roubalheira, da incompetência, das mentiras e da arrogância dos petistas. O que ele e seus partidários pensam sobre Marx, Lenin e Cuba, por exemplo, não importa. As pessoas não têm o menor interesse em saber o que existe por traz do discurso de “justiça social” dos partidos de esquerda. Elas apenas projetam o que vão ganhar elegendo-os.

Não foi um “despertar ideológico” que fez com que o povo fosse às ruas contra Dilma, esquecesse Lula e rejeitasse Haddad. O povo queria apenas alguma coisa, alguém que tirasse o país do buraco e desse um pouco de dignidade às pessoas honestas do país. Se Bolsonaro não fizer isso nos próximos três anos, a população vai reeleger outro Lula, ou outra Dilma, ou um Ciro Gomes qualquer.

A triste realidade é que o Brasil é um país socialista, porque a mentalidade socialista já está impregnada no estado e na grande maioria das pessoas. O estado controla os preços dos combustíveis, grande parte do setor de transporte e o que é ensinado nas escolas públicas e privadas. Detém metade do crédito geral e quase todo o crédito à grandes empresas. Diz como as pessoas devem trabalhar. Concede mais benefícios a bandidos do que ao cidadãos honestos. Transformou os funcionários públicos numa classe privilegiada e cobra os maiores impostos do mundo para sustentá-los.

Essa montanha de absurdos só foi possível ser construída, porque os socialistas conseguiram implantar na mente da população que o governo deve ser o provedor de tudo. A grande maioria das pessoas acredita que o estado deve facilitar sua vida de alguma forma. O pobre quer mais bolsas disso e daquilo. A classe média quer passar num concurso público. Os ricos querem subsídios para suas empresas.

“Você acredita que fazendas improdutivas e edifícios desocupados devem ser tomados pelo governo para se promover a justiça social?”. Faça essa pergunta na rua a dez, vinte, duzentas pessoas e verá que a grande maioria delas dirá SIM. A grande maioria dos brasileiros aceita que o estado multe e até feche empresas acusadas de cobrarem preços abusivos.

Pergunto: que país de “direita” é esse onde todo mundo quer alguma coisa do governo e ainda aceita violação de propriedade privada?

O termo “direita” remete ao conservadorismo, ideologia que diz que o governo deve restringir sua atuação a proteção da paz e da liberdade (incluindo a econômica) dos cidadãos, dos valores da família e da igreja, tendo como inviolável o princípio de propriedade privada.

Insisto: que país de “direita” é esse onde as pessoas votam em políticos que defendem o contrário disso?

É verdade que de uns anos para cá surgiram movimentos liberais e conservadores. Seus livros são os mais vendidos. Suas manifestações são as que mais atraem público. Porém, repito, isso não significa uma guinada ideológica. Liberalismo e conservadorismo ainda são termos de significado muito superficial para a grande maioria da população. O povão passa o dia trabalhando. Chega em casa cansado. Vê novela e futebol para distrair. Não tem tempo para estudar filosofia política, para saber o que é o quê.

Portanto, sinto muito, mas vivemos num país socialista, o que explica a maior parte de nossos problemas. A única forma de se mudar isso é por meio do sucesso de governos influenciados diretamente por liberais e conservadores, que implantem um sério programa de desesquerdizamento do ensino nas escolas e universidades. Na melhor das hipóteses, isso levaria décadas.

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