Hélio Schwartsman é um colunista que respeito, apesar das divergências. Vejo nele a necessária honestidade intelectual para qualquer debate sério e construtivo. Em sua coluna de hoje, ele acerta ao criticar as novas medidas do governo Dilma na área de medicina, uma vez mais explorando os profissionais da saúde. Mas erra, em minha opinião, quando diz que o Brasil é um país capitalista e livre, que deveria, portanto, seguir por soluções de mercado para o problema da falta de médicos de família. Diz ele:
O problema é que, num país capitalista e livre como é o Brasil, o caminho para expandir a rede de atenção primária passa menos pelas canetas dos ministros e mais por mecanismos de mercado. O governo é o maior empregador de médicos do país, o que lhe dá excelente poder de barganha. Se entende que há carência de generalistas, deve fazer com que ela se reflita nos preços relativos, pagando mais a médicos de família do que aos de outras especialidades.
Apenas criar vagas em medicina da família e depois obrigar os residentes de praticamente todas as especialidades a estagiar por um ou dois anos em atenção primária –o que ocorrerá a partir de 2019–, além de autoritário, traz efeitos colaterais. Formar médicos já é absurdamente demorado. São seis anos de graduação e pelo menos dois de especialização, que podem chegar a cinco, dependendo da área escolhida. Alongar ainda mais esse período só faz sentido se a meta do governo for explorar a mão de obra barata do residente. Pode até funcionar, mas é feio.
Os grifos são meus e mostram claramente a contradição do colunista. Ora, que país capitalista e livre é este que tem o governo como o maior empregador da área? Isso está mais perto do socialismo que do capitalismo liberal, não? É justamente o fato de o setor sofrer tanta intervenção estatal que temos os abusos constantes, o programa populista Mais Médicos, que serve para transferir recursos para a ditadura cubana, e o ataque aos médicos brasileiros como se fossem os bodes expiatórios para as trapalhadas do próprio governo.
O autoritarismo do governo é evidente ao querer controlar o setor de cima para baixo, determinar onde cada um deve trabalhar. Essas falhas na saúde “universal” brasileira não são do mercado, mas do governo, ao contrário do que certa professora escreve semanalmente no GLOBO. Não gosto quando a doutrina liberal que defendo leva a má fama pelo que o intervencionismo esquerdista faz. O SUS não funciona, e isso não tem absolutamente nada a ver com o capitalismo liberal, mas com esse sistema intervencionista e quase socialista.
Acho que Hélio erra, ainda, ao dizer que pode funcionar, mas que é feio explorar a mão de obra barata do residente. Não vai funcionar, pois o trabalho escravo nunca é tão produtivo e eficiente como o livre. E não é apenas feio; é imoral, indecente, absurdo, como quase tudo que esse governo petista faz, aliás. Creio que o Hélio deveria reavaliar seu conceito de país capitalista e livre, pois certamente ele não se aplica ao nosso querido Brasil petista.
Rodrigo Constantino