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Há uma ala da “direita” que fechou com Rodrigo Janot, adotando um tom de purificação plena do “sistema corrompido” que mais parece coisa de jacobino. Ao lado do PSOL e do PT, essas pessoas indignadas com “tudo e todos que estão aí” passaram a gritar “Fora Temer”. Faz algum sentido: não temos bandidos favoritos. E Temer, nunca é demais lembrar, foi eleito pelos… petistas! Quem pariu Mateus que o embale, não é mesmo?

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Só há um problema: a maldita narrativa. E tem gente que ainda não entendeu que, em política, é essa desgraçada que importa, mais do que fatos, mais do que lógica, mais até do que a economia. O PT, que de bobo não tem nada, preparou a narrativa desde o começo: sofreu um golpe pela mão de corruptos, e se jogou para a oposição no dia seguinte do impeachment de Dilma, talvez celebrado nos bastidores por Dirceu e Lula.

Temer se transformou, num passe de mágica, no ícone da direita (risos), o representante da elite golpista, dos banqueiros, da mídia, dos conservadores. Sim, ele que era vice de Dilma, que participou da gestão petista desde sempre. E Temer passou a ser a bola da vez, a encarnação do Mal, o responsável até mesmo pela desgraça causada pelo próprio PT.

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Por pura necessidade de sobrevivência, seu governo apresentou algumas reformas tímidas, que encantam os mercados (afinal, se o PT continuasse no poder elas estariam descartadas). Mas Temer não tinha capital político para aguentar a pressão do “deep state”, e seu instinto de sobrevivência logo apontou para concessões, e mais concessões, até restar um arremedo de reforma, que protege o setor público e transfere o custo para os cidadãos trabalhadores.

Em meio a isso tudo, e com alguma reforma trabalhista e previdenciária ao menos no radar, vem Rodrigo Janot, com seu patriotismo despertado no exato momento da queda de Dilma. E numa espantosa delação extremamente premiada, numa armadilha tosca, o enfraquecido presidente tampão se deixa gravar em conservas nada republicanas com Joesley Batista, aquele que virou “campeão nacional” no governo do PT.

A situação de Temer fica mais delicada ainda, e entra em cena a Globo numa campanha sem precedentes para derrubá-lo, com o apoio entusiasmado dos Antagonistas. Poucas vozes alertam para o risco dessa estranha campanha, e uma delas é de Reinaldo Azevedo, que erra no tom, na forma histérica, mas não necessariamente no conteúdo. Só que uma gravação, vazada de forma criminosa, aumenta as suspeitas de que tudo isso é amor aos tucanos, postura partidária, e portanto o teor do alerta cai em descrédito.

Não deveria. Como não deveria ter sido ignorado o ministro Gilmar Mendes, em direto combate com Fachin e companhia. Mas foi. A sanha por “justiça” é total. O povo está indignado, saturado, cansado demais, e quer ver o circo pegar fogo. Quer ver todos esses políticos canalhas punidos, mesmo que seja preciso abusar um pouco das leis. Só há um problema: igualar todos é proteger os piores, ou seja, os petistas. Só há mais um problema: Lula, o chefe da quadrilha, o maior responsável pelo caos no país, foi também o mais protegido nessa inquisição implacável. Ninguém mais fala dele!

Agora só pedem a cabeça de Temer, transformado por Joesley em chefe da quadrilha mais perigosa (Lula agradece). E, à medida que o tempo passa, aqueles que achavam que o dono da JBS entregaria todos, inclusive Lula, começam a perceber que podem ter sido enganados. Tarde demais. O homem está livre, leve e solto, com seus bilhões em Nova York, intocável. E Lula também, pronto para ser candidato com a narrativa de que foi perseguido por bandidos. O Brasil não é para amadores.

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Recomendo a coluna de Carlos Andreazza hoje. Fala dessa obra-prima de Janot. E mostra o dilema insuportável dos tucanos: como apoiar o governo Temer, tão fragilizado e alvo diário da pressão da Globo?  Pular fora é tentador, como é para todos nós o grito “Fora Temer”. As reformas já subiram no telhado, as evidências de corrupção existem, e o homem foi colocado no poder por petistas. Mas essa narrativa não vingou, até porque o “lado de cá” não investe muito em narrativas: acredita que bastam as reformas.

Os agentes do mercado apostam só em tecnocratas: se a equipe econômica for mantida, então tudo bem trocar Temer por Rodrigo Maia. Falta entender a reação do povo, o mundo real daqueles revoltados e impacientes com tudo isso, e o jogo de xadrez dos petistas, claro. É o que alerta Andreazza:

Não se pode projetar a sucessão extemporânea de Temer senão como aposta arriscada, repito; mas é fácil casar fichas sobre o maior beneficiário do baguncismo: Lula. O vácuo institucional decorrente da sanha justiceira e da leitura política equivocada sobre o que está em curso no Brasil é tão provável quanto certo é que os petistas o preencherão com maestria. Na lama em que o patriota chefe do Ministério Público jogou o exercício da política, nivelando a roubalheira para enriquecimento pessoal à apropriação do Estado que caracteriza o projeto autoritário de poder petista, Lula não só disputará a próxima eleição presidencial, seja quando for, como já está no segundo turno.

É perigoso supor — com base na experiência recente — que a queda de um presidente significaria apaziguar a crise política, encaixar as reformas e recolocar a economia nos trilhos. Não estou aqui para educar Tasso Jereissati, mas não foi essa a consequência do impeachment de Dilma Rousseff. E a conjuntura piorou desde então — agora, ademais, com os petistas profissionalmente à vontade na oposição. Não se iluda, senador. O PT — Lula — já o derrubou uma vez. O plano, porém, era varrê-lo do mapa político-eleitoral. O senhor sobreviveu. Que vosso senso de responsabilidade para com a democracia advenha, pois, do recurso à memória combinado ao instinto de sobrevivência. Desenharei: a única chance de que o PSDB — partido de frouxos — seja competitivo em 2018 está em Temer concluir seu mandato; está em que haja eleições somente no ano que vem. É sob essa condição que Geraldo Alckmin será forte candidato.

Se o PSDB pular fora agora, tardiamente, não terá a menor condição de capturar a imagem de oposição, que já é do PT, mesmo que o PT tenha sido o sócio de Temer antes, e o responsável por sua chegada ao poder pela condição de vice-presidente de Dilma. Temer está lá pela mão de quem digitou 13 nas urnas. Não importa. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Apoiar Temer é complicado, abandoná-lo pode ser ainda pior. Que dilema!

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O PT já sente o cheiro de sangue, e como todo abutre, regozija-se. Vive do caos, é nele que se sai bem. Rodrigo Maia foi eleito presidente da Câmara com o apoio de parte da extrema-esquerda, não custa lembrar. A turma do andar de cima acha que pode controlar os eventos políticos com essa facilidade toda, que poderá usar Maia como uma marionete? Melhor pensar duas vezes.

São tempos de muita confusão na política nacional, e a sensação de que podemos estar agindo como idiotas úteis de interesses obscuros é enorme. O que foi, por exemplo, a reunião de Maia e caciques do PMDB com um chefão da Globo, denunciada por Reinaldo Azevedo? Coincidência? Nada demais? Talvez. Talvez não. A única certeza é a de que o grupo quer muito a saída de Temer. O motivo não sabemos, mas a bandeira ética não parece muito convincente.

Perdidos nessa névoa de desinformação, podemos estar certos de uma coisa ao menos: a narrativa de que são todos iguais só interessa ao PT, que destruiu o Brasil, que tem um DNA totalitário, que tentava transformar o Brasil na Venezuela, que possui militância radical criminosa, que aparelhou quase toda a máquina estatal. Esse jogo eu não faço, e nunca fiz.

Por mais que eu tenha raiva dos tucanos pusilânimes e esquerdistas, por mais que eu tenha asco dos fisiológicos do PMDB, ainda tenho bom senso para saber que o PT é muito pior em todos os aspectos, e que articula um movimento golpista para retornar ao poder e retomar seu projeto totalitário. E barrar essa ameaça é a prioridade que temos no momento, pois é um risco fatal. Se o PT voltar, é “game over” para o Brasil.

Rodrigo Constantino

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