Recomendo a leitura de dois artigos hoje, um deles de João Doria, publicado na Folha, e o outro de Murillo de Aragão, publicado no Estadão. Ambos falam de temas muito relevantes e que acabam um tanto esquecidos durante o calor da crise conjuntural econômica e política. Falam das estruturas de nossos problemas, de suas origens mais profundas, das quais o PT é basicamente um sintoma, um cancro desenvolvido pelas raízes estatizantes presentes na mentalidade brasileira.
Doria, por exemplo, fala do clientelismo, já existente quando nossos colonizadores portugueses aqui chegaram. Ele seria mais um tronco da nossa árvore patrimonialista, ao lado do coronelismo, nepotismo e fisiologismo. Esse arcabouço, quando cai nas garras de um partido populista como o PT, permite todo tipo de abuso, como destaca Doria:
A abertura de núcleos mais categorizados aos recursos patrimoniais do Estado integra projetos expansionistas de poder, de interesse de partidos e mandatários. A política de acesso ao crédito e ao consumo estabelecida no governo Lula, por ocasião da crise global de 2008, possuía um viés populista/clientelista.
[…]
O Bolsa Família, idealizado para estender os braços do Estado aos necessitados, contribuiu para retocar a imagem das administrações petistas, principalmente no período Lula. E agora se esvai no refluxo que corrói o poder de compra dos mais pobres. Esta é a pior maldade do clientelismo: num primeiro momento, oferecem-se pacotes de bondades para atrair a simpatia e o voto. Depois, eles aparecem vazios.
[…]
Na nossa cultura a “res publica” é vista como coisa nossa, o dinheiro dos cofres do Tesouro tem fundo infinito e o Estado é visto como um ente criado para garantir o bem-estar. O jeito perdulário de ser do brasileiro começa com a visão do Estado-providencial, no qual se abrigam a ambição das elites políticas e o utilitarismo de oportunistas.
Já Murillo de Aragão lamenta os problemas estruturais do país que dificultam a vida do setor privado. Mais do que com os fatores conjunturais, o advogado consultor se mostra preocupado mesmo é com os nossos problemas estruturais, com a falta de um “norte que aponte a saída para a crise e coloque o País em condições de aproveitar suas enormes potencialidades”. Seu alvo principal é o “capitalismo de laços”, que se mostrou insustentável.
Murillo critica a representatividade dos empresários na política nacional, daqueles que realmente criam riquezas. Onde estão os empresários que efetivamente, de forma organizada, conclamam pela modernização de nossa economia? Ele reconhece o papel de iniciativas como o Movimento Brasil Eficiente, ligado ao economista Paulo Rabello de Castro, mas são esforços pontuais, isolados. Falta, segundo o consultor, uma visão mais ampla da coisa, um esforço mais unificado. Ele conclui:
Um exemplo é o ritmo de samba-canção das iniciativas da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Apesar das boas intenções, nada de relevante aconteceu. Afinal, entre nós não é prioridade melhorar o ambiente de investimento. Não existe tal preocupação nem no Palácio nem na Esplanada. Não houve, também, nenhum movimento de simplificação – já não falo de redução – da carga tributária. Nem de redução da burocracia para o funcionamento das empresas. Até mesmo ganhos do programa de desburocratização do finado Hélio Beltrão foram abandonados e esquecidos.
Nada foi feito para diminuir a supremacia sufocante do Estado sobre a sociedade. Nada está sendo feito para ampliar o espaço do setor privado. O pior de tudo é que não existe mobilização no sentido de superar essa paralisia. Os resmungos e reclamos referem-se simplesmente a atrasos de pagamentos, impostos e fim de benefícios e isenções.
Falta buscar caminhos para reduzir a imensa dependência que temos dos gastos públicos a fim de que o Brasil possa vir a ser um paraíso do empreendedorismo e do trabalho.
Com raras e honrosas exceções, o fato é que o empresário brasileiro, em geral, investe pouco em boas ideias. Seja por um foco de muito curto prazo, fruto do histórico de aventuras políticas no Brasil, seja por descrença na capacidade de mudança efetiva, a verdade é que esses empresários tocam seus negócios, o que já não é pouco em ambiente tão hostil, mas não lutam no campo das ideias, para finalmente reverter esse quadro caótico que ergue tantas barreiras aos empreendedores. Abaixo, segue meu breve discurso na ocasião do Prêmio Libertas em 2009, durante o Fórum da Liberdade:
httpv://youtu.be/dBjrFP8zbb8
Por acaso, e peço licença para minha propaganda, escrevi hoje cedo em minha página de Facebook:
Não basta criticar o governo, não basta curtir textos bons: é preciso INVESTIR EM BOAS IDEIAS para mudar o Brasil. Venha ser um associado do IL e contribuir com o crescente movimento liberal em nosso país. Tirar o PT do poder é um dos passos mais importantes no momento, mas e depois? Precisamos mudar a mentalidade vigente no Brasil, que delega a responsabilidade de solucionar nossos problemas sempre ao estado. Vamos dar uma chance à liberdade!
Eis a mensagem que, creio, os dois artigos capturam muito bem. Empresários e trabalhadores do Brasil todo, uni-vos! Temos pouco a perder além dos grilhões de um estado patrimonialista, clientelista, perdulário, corrupto, intervencionista, hostil aos empreendedores que criam riqueza para o País!
Rodrigo Constantino
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