Não adianta. Um “isentão ultra-racional”, daquele tipo que sempre paira acima das paixões dos reles mortais, vai acabar se entregando cedo ou tarde. É o caso de Hélio Schwartsman. Sempre muito ponderado em suas colunas, falando invariavelmente em nome da razão e da ciência, eis que ele resolve destacar a importância de um partido de massas mais à esquerda para o Brasil e nossa democracia, torcendo para o PT fazer uma autocrítica e reocupar esse papel que já foi seu. Sério, ele disse isso mesmo, após um texto que ia até bem, culpando Dilma por sua própria debacle. Diz:
O noticiário policial, que revelou a participação de petistas graúdos em esquemas permanentes de corrupção, tirou do PT até o discurso moral pelo qual se notabilizara em seus primórdios. O partido que não roubava nem deixava roubar havia se convertido numa franquia da propina.
A tripla crise —política, econômica e ética— acabou selando o destino de Dilma, que não conseguiu mobilizar nem sequer 1/3 dos deputados para salvar seu mandato.
O PT deverá receber agora um longo gelo do eleitor, mas espera-se que sobreviva, faça a autocrítica e se reerga em bases melhores. O Brasil, como toda democracia, precisa de um partido de massas mais à esquerda.
Ou seja, Hélio acha que o problema foi o PT ter se desviado da bandeira ética e ter sido incompetente, mas que suas bandeiras tradicionais são necessárias para nossa democracia. Toda democracia tem um partido desses, voltado às massas com um viés de esquerda, diz. Mesmo? O Podemos na Espanha? Os radicais de esquerda na Grécia? E isso é… positivo para a democracia?
Hélio ignora a essência do PT: um partido comunista, golpista, que pretende apenas usar a democracia para destruí-la de dentro. Ele ignora seu DNA revolucionário. O que o PT já fez de bom para o Brasil? Com a palavra, Hélio Schwartsman. Eu poderia jurar que só fez mal, que foi contra o Plano Real, as privatizações, a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal etc. O PT sempre foi um câncer em nossa política. Mas Hélio acha que faz falta um partido como o PT.
Já não basta o PSDB como representante de nossa esquerda? Sim, um partido social-democrata mais civilizado e que respeita as regras do jogo: é isso que qualquer ser racional deveria almejar como representante da esquerda na democracia. Jamais um “partido” como o PT, uma máfia, uma quadrilha comunista sócia de ditadores assassinos. Hélio acha que o Brasil precisa de um partido aliado de Fidel Castro para dar mais “pluralidade” à nossa democracia, é isso?
Talvez Hélio devesse ler a coluna do outro Schwartsman, o Alexandre, do mesmo jornal hoje. Nela, o economista e ex-diretor do BC fala da incapacidade de os petistas aprenderem com seus próprios erros. É parte de sua natureza dissimular, criar bodes expiatórios, fingir que os problemas que causou são sempre responsabilidade de terceiros, dos outros. Diz Alexandre:
Depois de “o cachorro comeu minha lição de casa”, o Oscar de Desculpa Mais Esfarrapada vai para Márcio Holland (ex-secretário de Política Econômica), que assim justificou o excesso de gastos, origem da crise atual: “Passamos quatro anos no escuro, achando que os investimentos no país estavam caindo porque as estatísticas do IBGE apontavam para taxas inferiores a 20% do PIB”.
A culpa pela crise, portanto, seria do IBGE, ou melhor, do governo, que “vê as estatísticas como se fosse uma coisa secundária e não libera os recursos necessários para o IBGE fazer bem o seu trabalho”.
[…]
O elemento comum a ambas as afirmações é a dificuldade insuperável de encarar os problemas de forma adulta. A culpa é sempre de um terceiro; jamais de si próprio.
Obviamente Holland é irrelevante. Já os sintomas que apresenta são reflexos de uma síndrome que acomete nossos keynesianos de quermesse, e, por extensão, o governo: a completa incapacidade de admitir seus próprios erros.
O otimismo que Hélio demonstra na capacidade de aprendizado do PT, portanto, é infantil e ingênuo. O fato de ele achar que o Brasil realmente precisa de um partido populista com bandeiras ultrapassadas inspiradas na “luta de classes” comprova como os que bancam os neutros podem ser perigosos: agem como inocentes úteis de uma esquerda radical, revolucionária, obsoleta.
Hélio deveria repudiar o que o PT representa – e sempre representou – para nossa democracia: o peleguismo sindical, o marxismo, o populismo, o socialismo. Mas aí ele correria o risco de ser confundido com alguém de direita, seria acusado de radical conservador pela esquerda radical, e isso um isentão não suporta. Por isso Hélio faz concessões indevidas ao petismo, que já cansou de provar sua incapacidade de aprendizagem e sua essência golpista e antidemocrática.
Não, Hélio, o Brasil não precisa do PT, muito menos de um partido de massas à esquerda com essas bandeiras ultrapassadas. O que o Brasil precisa, mesmo, é de formadores de opinião com a coragem de chamar as coisas por seus nomes, e de rejeitar veementemente o socialismo fétido que essa cambada de “intelectuais” ainda tenta manter vivo em pleno século XXI.
Rodrigo Constantino
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