No dia em que algum esquerdista compreender o elo causal entre excesso de estado e corrupção, ele deixa de ser esquerdista. É por isso que os esquerdistas não se importam de pregar sempre o mesmo remédio – mais estado – e depois demonstrar toda a sua incoerência ao atacar os banqueiros, os grandes empresários, o “capitalismo de compadres”, a oligarquia. E após os novos fracassos produzidos pelo intervencionismo estatal, eles surgem com a solução: claro, mais estado ainda!
Basta ler a coluna de Vladimir Safatle na Folha hoje. O nosso Lenin tupiniquim reclama do grau sistêmico de corrupção do Estado brasileiro, mas não consegue, nem por um só segundo, ligar isso ao excessivo poder concentrado no próprio estado. É um espanto! Para ele, o problema são as oligarquias, o PMDB, os banqueiros. Petistas que se envolveram nos maiores escândalos da história deste país? Esses ele não menciona. Patético.
E qual o real intuito de seu texto? Ora, simples: defender eleições antecipadas, algo não previsto em nossa Constituição, com a esperança de que um novo PT possa vencer. Safatle demonstra simpatia por Marina Silva, aquela que ainda engana alguns trouxas desavisados por aí, do mesmo tipo que foi ludibriado pelo PT antes:
Aqueles que criticam a ideia de novas eleições levantam o argumento de que a configuração do Congresso e do poder não mudará. Eles deveriam explicar à população brasileira onde estão à venda as bolas de cristal que eles usam para enxergar o futuro com tanta precisão. Na verdade, eles falam apenas de seus medos, mas o medo é péssimo companheiro nestes momentos.
Primeiro, depois de dois anos de exposição contínua da casta política e de seus nomes em processos de corrupção do Estado, imaginar que a população agirá como se nada tivesse ocorrido é mera expressão de desprezo pela inteligência popular. Segundo, porque esta legislatura já nasceu com uma distorção: a terceira candidata à presidente, Marina Silva, não formou bancada alguma pois vinha em uma legenda de aluguel. Uma nova eleição lhe permitiria ter uma bancada que, até segunda ordem, não aparece como tendo o grau de envolvimento com corrupção das bancadas de partidos tradicionais.
Claro, se a “limpinha” Marina (ou não tão limpinha assim segundo delações por aí) chegasse mesmo ao poder, e o estado se mantivesse nesse modelo atual de inchaço e concentração de poder, a corrupção iria continuar a todo vapor. E qual seria a solução “nova” de gente como Safatle, que “pensa” pelas vísceras? Ora, mais estado, naturalmente! Elementar, meu caro Watson. A culpa é sempre das tais oligarquias, dos banqueiros, dos empresários, jamais dos esquerdistas e dos políticos “abnegados” que pregam o socialismo.
A dissonância, voluntária (canalhice) ou não (alienação), é tão impressionante que chega ao patamar deste professor da Unicamp e membro do Conselho Editorial da Folha, Rogério Cezar de Cerqueira Leite, que publicou uma pérola em defesa do PT, de Lula e de Dilma no jornal hoje, em que conclui:
Podem caçar o Lula, podem caçar a Dilma, podem desbaratar o PT, mas o futuro lhes fará justiça. Não será necessário esperar 500 anos. O futuro não mais pertencerá às oligarquias. O futuro pertence ao homem do povo, ao cidadão comum.
E por homem do povo, cidadão comum, devemos pensar em… Lula! Sim, o poderoso oligarca de Guaranhuns, o amigo de todos os empreiteiros (até ontem), dono de coberturas tríplex e sítios milionários, que só anda por aí de jatinho, que tem milhões de patrimônio. Eis o homem do povo! E quem diz isso, no maior jornal do país, é um professor de uma das maiores universidades e membro do Conselho do próprio jornal. Entendeu porque o Brasil está esse lixo?
Como o jornal ainda dá algum espaço para o contraditório, o colunista Reinaldo Azevedo tocou no cerne da questão hoje: o problema é o estatismo. Isso essa gente nunca vai entender, seja porque o estatismo é sua seita, seja porque há muitos intere$$es em jogo. Diz Azevedo:
“Madame mais honesta dos cabarés”? Machado quis dizer que, na comparação com outros órgãos públicos e com outras estatais, até que a Petrobras é bastante séria. E quem o diz é um criminoso confesso, que passou os últimos 13 anos da vida assaltando os cofres públicos. Digam-me aqui: quem há de negar que, nesse particular ao menos, ele fala a verdade? A Transpetro só foi um antro de roubalheira porque é subsidiária de uma estatal. E então se chega ao nome do problema.
É claro que acredito na possibilidade de haver dirigentes honestos de empresas públicas, mas prefiro depender pouco do arbítrio pessoal. Enquanto houver estatais no país, que sirvam aos interesses de partidos e de políticos, os brasileiros continuarão vítimas de safados. É preciso cortar o mal pela raiz.
E a raiz do mal é o estatismo, que impõe à iniciativa privada o comportamento criminoso. E não estou dizendo que os empresários que se meteram em lambanças sejam vítimas. São criminosos também. Quando se tem, no entanto, Machado no comando, qual é a alternativa para fazer negócios com a Transpetro? E a quem Machado servia?
Não é mera coincidência que os maiores escândalos da nossa história tenham vindo à esteira da demonização das privatizações, empreendida pelo PT, e pela óbvia hipertrofia do Estado nesses últimos 13 anos. Uma estrutura criminosa dessa dimensão não teria sido erigida sem o aporte de uma cultura que valorize o crime: o estatismo. O resto é conversa mole de falsos indignados. Privatização já!
Reinaldo está certo: é preciso privatizar já, reduzir a concentração de poder e recursos no estado, acabar com essa ideia de estado-empresário e estado-banqueiro (hoje o maior do país, com mais da metade do setor). Safatle e o professor petista, como tantos outros “intelectuais” por aí, recusam-se a enxergar o óbvio. Para eles, o importante é tirar as “oligarquias” do poder e colocar em seu lugar os “homens do povo”, tais como Lula, Dilma e Marina Silva.
Seria até cômico, não fosse tão trágico saber que esse tipo de gente pulula pelo Brasil e ainda controla boa parte da imprensa e das universidades.
Rodrigo Constantino
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