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O jornal O GLOBO tem dado destaque para o verdadeiro calvário que tem sido a vida de quem precisa cadastrar a empregada doméstica e recolher a guia de impostos. O governo resolveu transformar o lar em empresas, de olho em mais tributos e sempre com a desculpa de que lutava pelo bem dos “pobres e oprimidos”. Sempre há quem caia nessa conversa furada.

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Agora está um caos passar pelo processo burocrático. As cartas dos leitores foram todas dedicadas a esse único assunto, algo raro, quiçá inédito no jornal. É um relato atrás do outro de revolta, indignação, incredulidade. O governo diz que é assim mesmo, a Receita Federal alega que teve pouco tempo para preparar tudo, e agora já se estuda prorrogar o prazo de recolhimento do FGTS caseiro.

De todas as coisas que não sinto a menor saudade do Brasil, a loucura burocrática talvez esteja no topo da lista, junto com a sensação de insegurança, o caos do trânsito, a mentalidade do típico carioca “malandro” e o nível dos professores da minha filha. É, a lista de coisas que não lamento ter deixado para trás é grande, eu sei. Mas esse inferno burocrático, que transforma o Brasil em algo pior do que uma história de Kafka, é realmente surreal demais.

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Tudo nos Estados Unidos é mais simples, mais prático. Mas o Brasil insiste nessa mentalidade patética de que o “mercado” é cruel, os empresários são “malvados”, e os “pobres e oprimidos” precisam da ajuda estatal para melhorar de vida. É essa tolice ideológica que está por trás de toda essa maluquice burocrática, esse aparato estatal ridículo, essa quantidade bizarra de normas, regras e impostos.

Não só o americano precisa bem menos de uma empregada doméstica, pois tudo é feito para facilitar sua vida pelo “maldito” capitalismo, como se ele necessitar de alguém para fazer uma faxina mais pesada ou dar uma geral na casa, o processo será infinitamente mais simples. Em contrapartida, as faxineiras têm uma qualidade de vida bem melhor do que nossas empregadas domésticas, “protegidas” pelo governo “altruísta”.

O jornalista José Casado, em sua coluna de hoje, relatou um caso surreal da cultura cartorial do nosso país:

A fila do cartório estancou. No balcão, uma jovem senhora de cabelos prateados arriscava a serenidade diante do indecifrável. Para conceder um documento, exigiam-lhe o CPF da mãe.

Ela argumentava: — Mas a minha mãe morreu há trinta anos e nunca teve um CPF…

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— Só com o CPF dela — repetia a cartorária.

Ao perceber que a fila a conduzira à fronteira de uma dimensão irreal, onde o absurdo é a regra, aventurou-se num quase patético pedido de ajuda: — Por favor, então me explique: como é que eu tiro o CPF de alguém que não é mais uma pessoa?

A escrevente mirou-a com firmeza, e retrucou: — Eu não sei, mas sem o CPF não faço.

Qualquer brasileiro conhece histórias similares para contar. As coisas no Brasil são feitas para tornar a vida do cidadão ordeiro, que respeita todas as leis e regras, num verdadeiro inferno. É preciso ter muita paciência, caso contrário o cidadão acrescenta o risco de um ataque de nervos ao tempo perdido e ao custo elevado de sobreviver num país tão estatizado. Eu confesso que estava no meu limite.

O Brasil cansa. E cansa porque governo atrás de governo avança sobre o indivíduo, tudo com a desculpa esfarrapada de que é para protegê-lo dos “exploradores” capitalistas. É muita estupidez. E o preço de tanta ignorância ideológica é viver numa peça de ficção que nem mesmo Kafka poderia criar.

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Que bom estar longe disso tudo, ainda que por um tempo! Resgata-se a sanidade mental, pois, imersos na parafernália burocrática, os brasileiros já passam a encarar como normal o que é puro absurdo.

Rodrigo Constantino