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Em seu editorial de hoje, O GLOBO solta a seguinte pérola: “Entende-se que possa haver uma prevalência da órbita política numa fase inicial das conversas para montagem de alianças. Está presente, também, o cuidado em atrair aliados que somem tempo de TV na campanha eleitoral dita gratuita. E assim como existe a busca pelo outsider — por enquanto atenuada com a defecção de Joaquim Barbosa —, há a procura pela ocupação do centro no mapa ideológico. O ponto médio entre Bolsonaro e Boulos.”

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Então quer dizer que, para os autores do editorial, o centro seria um lugar equidistante no espaço ideológico entre Boulos e Bolsonaro? O centro seria um… esquerdista como Joaquim Barbosa, que votou em Lula e Dilma e chamou o impeachment desta de “tabajara”? É isso que a mídia “imparcial” considera um ponto de equilíbrio no espectro político nacional?

Vejamos: Boulos, do MTST e do PSOL, prega abertamente crimes, como a invasão de terras. Bolsonaro defende a Justiça, a aplicação das leis, o fim da mentalidade de coitadinho que protege bandidos, e a valorização da polícia. O centro seria, então, pregar um pouco de crime e um pouco de lei?

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Boulos e seu PSOL defendem abertamente a ditadura cubana e a tirania venezuelana, que persegue estudantes e críticos, espalhou apenas miséria e escravidão e faliu completamente um país que tem a maior reserva de petróleo do mundo, enquanto Bolsonaro repudia o comunismo e o exemplo de Maduro. Centro, então, seria ter um pouco de regime venezuelano e um pouco de democracia?

Em economia, Boulos quer a velha receita da extrema esquerda: mais estado, mais impostos, mais gastos, redistribuição de riqueza na marra pelo governo, enquanto Bolsonaro, apontando o economista liberal Paulo Guedes como futuro ministro, quer privatização, redução de ministérios, limite de gastos públicos. O centro seria um pouco de muita irresponsabilidade heterodoxa, que sempre fracassou no país, e um pouco de sensatez?

Como fica claro, tratar o centro como um ideal equilibrado entre um revolucionário radical como Boulos e alguém como Jair Bolsonaro, que, mesmo com seus arroubos e defeitos tem pregado uma agenda bastante razoável, não passa de uma estratégia de esquerda, para rotular qualquer coisa fora da socialdemocracia tucana como “extrema direita”. É como chamar de “extremistas” tanto quem defende com paixão o modelo venezuelano como quem combate com paixão tal modelo. Faz sentido?

No mesmo jornal, há um artigo de Luciano Felipe, presidente do Partido Novo no Rio, em que o alvo parece ser justamente Bolsonaro. É a “direita permitida” pela imprensa “imparcial”, no fundo torcedora de esquerda. Luciano Felipe diz muitas coisas verdadeiras, ataca a esquerda que não condena privilégios do setor público, corrupção ou liberdade de imprensa, mas depois passa a atacar também a direita, que busca uma “aventura”. Diz ele:

O trabalho insano dos estudiosos da política não para por aí. No país em que a esquerda defende privilégios e injustiças, grande parte da direita recusa-se a enxergar, mesmo a um palmo do nariz, a enorme oportunidade de unir o povo brasileiro na defesa da livre-iniciativa e da redução do Estado repressor dos investimentos. Em vez de aproveitar a chance histórica de construir um projeto merecedor de respeito internacional, muitos embarcam na canoa furada do aventureirismo, pulverizando forças e desmoralizando-se diante do eleitor sensato.

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Enquanto liberais do mundo todo olham o futuro, debruçam-se sobre projetos de desenvolvimento de países e regiões, muitos dos nossos preferem ficar parados em cima de um muro que já caiu faz tempo, o de Berlim. Enxergam comunistas atrás do armário, debaixo da cama, perdem tempo precioso com clichês dos anos 50. O liberalismo carece de líderes mais inteligentes, capazes de olhar para a frente, de pensar em um país mais justo, empreendedor e livre, com impostos menores e bem aplicados. Com menos interferência de um Estado que foi sequestrado pelas elites da burocracia e tornou refém quem cria empregos e riqueza. A hora é de homens e mulheres com seriedade, não de bravateiros inconsequentes e de sanidade duvidosa.

O “eleitor sensato” não representa a maioria do país, e não se vota apenas com a razão. O que o autor do texto não leva em conta é que a política é a arte do possível, não do ideal, e que o ótimo pode ser inimigo do bom. O recado dele parece claro: os liberais deveriam imediatamente virar as costas para Bolsonaro e embarcar com força total na candidatura do Novo, que tem 1% das intenções de voto, segundo pesquisas. Assim teriam o “respeito internacional”: só não teriam o poder.

Falta um mínimo de pragmatismo e, ao tecer críticas tão duras assim ao único candidato com chances concretas que tem adotado um discurso realmente mais à direita, o autor acaba fazendo, ainda que involuntariamente, o jogo da esquerda, seguindo a linha do editorial do jornal. Ciro Gomes e Marina Silva seriam vistos como “centro” e menos “aventureiros” do que Bolsonaro?

Se Luciano Felipe não enxerga comunistas por aí, e acha que quem o faz ficou preso no muro de Berlim, ele deveria procurar melhor. Encontraria inúmeros comunistas espalhados pelas universidades, pela mídia, pela política. Veria gente que celebrou essa semana mesmo os 200 anos de Marx. Saberia que o PT e o PSOL elogiam oficialmente o regime venezuelano. E perceberia, finalmente, que a cultura está toda tomada pela esquerda radical. Nem tudo é economia, como ele dá a entender no texto.

Antes de questionar a sanidade dos liberais que, por falta de melhor opção real, enxergam em Bolsonaro (com Paulo Guedes) uma possibilidade de reverter parte do estrago causado pelos “progressistas” da extrema esquerda, seria interessante uma autorreflexão sobre a sanidade de quem oferece, como única alternativa, um sonho. Entendo a campanha partidária, mas gostaria de pedir mais respeito aos liberais que mantêm os pés no chão. Até porque será curioso ver a postura do autor no segundo turno…

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Rodrigo Constantino