Allende, o socialista| Foto:

Após meu texto sobre o contexto que levou Pinochet ao poder no Chile, uma leitora chilena, Amoris Valencia, que escutou relatos em primeira mão de seus próprios pais, que viveram aqueles anos sombrios de Salvador Allende no poder, escreveu o seguinte comentário:

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Sou chilena e não nasci nos anos 70, nasci em 1980 e, portanto, não passei pelos ditos piores anos da ditadura de Pinochet. Porém, meus pais sempre me contaram o que acontecia na época de Allende, afinal, eles sim viveram na carne o total caos em que o país se encontrava. Para quem vê nos noticiários as filas que hoje os venezuelanos têm que enfrentar, não imagina as filas que todos os chilenos tinham que enfrentar para conseguir qualquer coisa. Era comum entrar numa fila sem saber para o que era aquela fila, tamanha a necessidade de produtos básicos.

Em 29 de junho de 73, houve uma sublevação militar com o intuito de dar um golpe de estado. Tal sublevação foi abafada pelo General Carlos Prats, Comandante em Chefe do Exército da época. Esse episódio ficou conhecido como Tancazo, e muitos dizem que o Tancazo foi na verdade uma espécie de teste para ver de onde sairiam os seguranças e soldados de Allende e também para descobrirem quem estaria ao lado das Forças Armadas e quem não, e assim poderem agir de forma mais eficaz no dia do Pronunciamento Militar de fato.

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Nesse dia em particular, o meu pai teve que ir a trabalho para Santiago (minha família é originária de Valparaíso, ironicamente a cidade natal de Allende e Pinochet), e sentiu realmente como a situação estava perigosa para o país e que havia o risco de uma guerra civil. É de conhecimento geral também que a população jogava milho sempre que havia um desfile dos Militares ou quando eles, por algum motivo, estavam na rua. Por que jogavam milho? Porque no Chile costuma-se tratar de gallina (galinha/frango) uma pessoa que seja covarde e a população clamava por uma intervenção militar que não acontecia, eis o motivo.

Houve diversos casos de terroristas (não há outro nome para defini-los) que saiam de bueiros atirando em todas as direções para entrarem em confronto com a polícia, fazendo com que as pessoas tivessem que se jogar no chão para salvarem as próprias vidas. Enfim, são diversas histórias as que poderia contar sobre o que acontecia na época e que me foi contado por pessoas que viveram e que conhecem a verdade, mas tais histórias podem ficar para outros artigos.

Gostaria também de esclarecer uma coisa: Allende não foi morto, comprovou-se através de exames feitos há uns 4, 5 anos em seus restos mortais, que ele cometeu, de fato, suicídio, como sempre, na verdade, foi dito. Devo dizer também, sinto que é meu dever, que Pinochet fez o que fez com o objetivo de salvar o país, aliás, ele não estava só, a esquerda e também muitas outras pessoas levadas a acreditar nas histórias contadas pela própria esquerda, erroneamente atribuem a responsabilidade somente a ele pela liberação do Chile em 73, mas Pinochet fazia parte de uma Junta Militar formada por: Augusto Pinochet, Comandante em Chefe do Exército, Gustavo Leigh Guzmán, Comandante em Chefe da Força Aérea, José Toribio Merino, Almirante da Armada e César Mendoza Durán, Diretor Geral dos Carabineros (Polícia Militar do Chile).

De fato, foi José Toribio Merino quem realmente começou a encabeçar o golpe contra a esquerda, e como Pinochet também não era esquerdista e também estava descontente com o rumo que o país estava tendo, uniram-se e começaram a articular para ver o que podia ser feito. Devo dizer também que as pessoas de bem, com isso me refiro às pessoas que não estavam em grupos paramilitares ou que não estavam na luta armada, não sofreram nada quando a junta militar estava no governo. É claro que houve delações falsas para que simples desafetos fossem presos, mas não foi esse massacre que a esquerda insiste em denunciar.

Aliás, sabe-se que se a Junta Militar não tivesse tomado o poder, haveria um contragolpe de Allende. Cuba havia enviado um verdadeiro arsenal de armas para o país para realizar esse contragolpe, o governo de Allende tinha listas com nomes de pessoas contrárias ao governo, ou seja, teria havido casos de assassinatos em massa no país, mas isso a esquerda não conta.

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Para terminar, traduzo na íntegra uma proclama escrita e dada a conhecer em 11 de setembro de 73 às 8:00 da manhã, por José Toribio Merino, que resumia os motivos para o Pronunciamento:

As Forças Armadas, órgãos essencialmente profissionais, não podem mais permanecer impassíveis diante da destruição de nossa Pátria e do desespero de milhões de chilenos. Este não é um golpe de estado, pois este seria um tipo de esquema que não condiz com nossa maneira de ser e repugna a nossa consciência legalista e profunda convicção cívica. O que desejamos é tão somente o restabelecimento de um estado de direito compatível com as aspirações de todos os chilenos, cuja destruição foi denunciada pela Ilustre Corte Suprema, bem como pela Câmara de Deputados que é o órgão fiscalizador e que também realizou tal denúncia em um extenso documento. O Poder Executivo foi atropelado pelas circunstancias e os elementos extremistas estão destruindo, sem misericórdia, vidas e propriedades. O Executivo não tem tido a autoridade e a firmeza para controlar esta situação alarmante que vem destruindo a convivência pacífica a que estamos acostumados nós, os chilenos. Isto não pode continuar e é nossa firme intenção deter esta situação o mais rápido possível. Não temos, agora nem no futuro, compromissos com nenhum partido político. Somente governarão os mais capazes e honestos. Formados em uma escola de civismo, de respeito pela pessoa humana, de convivência da justiça e do patriotismo, não se tem qualquer outro objetivo a não ser a felicidade de todos os chilenos, sem importar a sua posição, mas que possam viver em paz, tranquilidade e sem medo do futuro, deles, nem do de seus filhos.

Acabou não sendo exatamente assim, e o regime militar durou tempo demais. Mas, justiça seja feita, Pinochet não mergulhou no típico culto à personalidade dos caudilhos latino-americanos, ao contrário de todos os ditadores socialistas. E, vale lembrar, colocou gente competente mesmo, como os “Chicago Boys” na área econômica, o que salvou o país do caos produzido pela esquerda.

Nada disso justifica os abusos de poder, sem dúvida, e é sempre triste ver a democracia ruir. Mas é importante esclarecer tais fatos, colocar a coisa em seu devido contexto, para deixar claro que a esquerda radical muitas vezes acaba empurrando o país para o abismo e para uma situação em que somente uma reação drástica resolve. Se esses “revolucionários” socialistas tivessem mais juízo, e o povo fosse menos ingênuo, nada disso seria necessário. Eis o ponto importante aqui.

Rodrigo Constantino

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