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O ciclo vicioso da Funai
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Em sua coluna de hoje no Estadão, Denis Rosenfield bate, uma vez mais, na tecla do duplo padrão existente na Funai, sempre disposta a vender uma imagem falsa da questão indígena. Nelson Rodrigues costumava dizer que D. Hélder Câmara, o “padre de passeata”, nada seria sem a fome nordestina. A Funai precisa dos índios vistos eternamente como os coitados explorados para justificar seu poder e sua gorda verba estatal.

O caso que ele traz à tona é o do assassinato de 3 moradores do Humaitá (AM) por um grupo de índios, que já comentei aqui. O silêncio da Funai e das ONGs indígenas é ensurdecedor. Não importa que seja um crime comum, com uso de arma de fogo (índio usando arco e flecha em pleno século 21, só na cabeça dos românticos mesmo). Índio precisa ser vítima, sempre. Como diz Rosenfield:

A Secretaria de Direitos Humanos, sempre tão pronta a reagir quando acontece qualquer coisa a um grupo que considera privilegiado do ponto de vista de sua atuação, guarda um silêncio obsequioso. A atitude não deixa de ser paradoxal. Em sua peculiaríssima concepção do humano, exclui todos os que são assassinados por uma questão das mais torpes, tendo como autores seus “humanos” escolhidos. Será que os assassinados não são humanos?

Se um indígena morre num acidente de moto, temos uma comoção nacional e mesmo internacional. Se três não indígenas são assassinados, é como se fosse irrelevante. Há assassinos brancos e indígenas e todos devem ser tratados com o mesmo rigor da lei. Já dizia Darcy Ribeiro que os indígenas não são melhores nem piores que os não indígenas. São simplesmente iguais, humanos nesse sentido. Não pode haver dois pesos e duas medidas.

Os índios brasileiros já contam com 13% do território nacional, possuem motos, internet, televisão, etc. Querem participar do progresso da civilização, como todos os outros. A Funai e companhia, em seu nome, acaba agindo para impedir isso, ou para beneficiar apenas certas lideranças corruptas.

É análogo aos sindicatos que dizem atuar em prol dos trabalhadores e favorece basicamente os sindicalistas do alto escalão, ou como movimentos sociais que alegam lutar pelos desvalidos enquanto prejudicam os mais pobres à custa de suas lideranças.

Quem aponta isso, entretanto, é logo acusado de não se importar com os índios. Monopólio da virtude, a marca registrada da esquerda. Os “ruralistas” são demonizados e a Funai pode posar de defensora dos índios, mas, na prática, é a própria Funai que representa um obstáculo ao progresso dos “índios”, já devidamente aculturados. Rosenfield conclui:

O círculo é totalmente vicioso. Os indígenas responsabilizam a Funai, que, por sua vez, culpa os produtores rurais, que reagem às provocações, que repercutem na mídia como se fossem eles os responsáveis pelos conflitos indígenas. O status quo só favorece os semeadores de conflitos e de violência.

Rodrigo Constantino

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