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Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

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Já testemunhei outrora meu antigo respeito e admiração pelo jornalista Reinaldo Azevedo nos seus bons tempos de combate ao PT. Ele era uma referência, para um jovem estudante de Jornalismo, de um profissional da área que não se curvava ao discurso hegemônico e à mediocridade reinante.

No entanto, também já testemunhei que essa admiração se transformou em decepção. Que fique claro: não se trata aí de alergia à divergência, como se, por meramente passarmos a pensar de maneira oposta em alguns tópicos, eu devesse agora lastimar o caminho que Azevedo seguiu. Não. O problema é que a decadência, em parte aparentemente impulsionada pelas idiossincrasias tucanas do articulista, foi um tanto além disso. O exemplo mais recente, em publicação da última sexta-feira (23) no blog de Azevedo, é a prova mais fácil e escandalosa.

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O professor Ricardo Vélez Rodriguez é um grande nome do pensamento brasileiro, estudioso das diversas correntes sociais, filosóficas e políticas nacionais, não obstante tenha nascido na Colômbia. Mais do que por suas obras elogiadas, como discípulo do grande Antonio Paim e antigo colaborador do Instituto Liberal, que editou algumas de suas obras, admiro o professor e futuro Ministro da Educação porque o conheço pessoalmente, tive a impagável oportunidade de privar de sua companhia em aprazível confabulação e constatei que, não obstante seja um mestre com longa estrada acadêmica, Vélez é atencioso, generoso, jovialmente entusiasmado e jamais olha de cima para um óbvio inferior.

Sendo assim, me incomoda muito mais profundamente constatar o despeito, a insensibilidade e a prepotência com que Reinaldo Azevedo, anos-luz abaixo das dimensões do professor, teceu comentários destrutivos sobre alguém que evidentemente desconhece por completo, tratando-o como apenas mais uma indicação política de um “polemista e prosélito de extrema direita”, qualificativos com que se refere a Olavo de Carvalho. É como se a isso se resumisse toda a farta ficha corrida de realizações intelectuais de Vélez Rodrigues.

Não farei referência a todas as simplificações grosseiras que o pequeno “artigo” de Azevedo faz do pensamento de Vélez. Limito-me a uma: a do conceito de cientificismo. Azevedo simplesmente destacou um trecho de um artigo do professor em seu blog em que mencionou existir no sistema de ensino no Brasil uma “doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista”. Com tom de superioridade, ironizou, insinuando que essa acusação de “cientificismo” não faz sentido algum e questionando se a ideia seria substitui-la por uma doutrinação “de índole misticista”.

Ora, Reinaldo Azevedo, será que não valeria a pena, digamos com a maior delicadeza, ler ao menos uma linha das teses e artigos do professor Vélez sobre o tema do substrato cientificista no pensamento brasileiro, desenvolvido também por Antonio Paim? Não seria difícil e não levaria tempo; antes de escrever bobagens monumentais como essa apenas para alfinetar um desafeto político, Azevedo poderia ler o breve artigo A herança de 64 no contexto do cientificismo brasileiro.

O texto descreve o histórico de entronização nas forças políticas e sociais brasileiras de teses que identificam “a racionalidade com um determinado estágio da ciência (o correspondente à sua dimensão aplicada), que passa a ser considerado como absoluto”. Partindo do Marquês de Pombal e sua absorção da técnica britânica sem a identificação com os artifícios político-institucionais liberais, passando pelo autoritarismo castilhista e varguista e pelo regime militar, Vélez descreve as principais manifestações desse conceito de cientificismo como sendo o inchaço do Estado para desempenhar funções práticas, técnicas, burocráticas e empresariais, bem como seu distanciamento do liberalismo para encampar a tecnocracia.

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No caso específico das universidades atuais, na conclusão do artigo, Vélez explica que “um difuso culto à retórica científica, casado com a “vulgata marxista”, levou a que muitos achassem que faziam ciência ao repetir apenas slogans ditados pelo cientificismo de plantão, tendo sido banida a pesquisa básica e o estudo aprofundado das humanidades”. A proliferação de teses supérfluas e esdrúxulas blindadas pelo “academiquês” barato atesta isso. Esse casamento de cientificismo positivista e marxismo também foi estudado pelo professor Paim. É a isso que Vélez se refere quando se preocupa com o tema.

Se Azevedo estivesse interessado na verdade, jamais se limitaria ao papel patético de ridicularizar de forma tão vazia um intelectual sério da envergadura do professor Vélez, estabelecendo uma antinomia entre cientificismo e misticismo que simplesmente nada tem a ver com a acepção do termo empregada pelo professor. Não creio que caibam mais cautelas em afirmar duramente: quando se comete uma distorção tão, com o perdão da expressão, vagabunda, e se faz isso com ares de afetação, não parece haver esperança de que daí em diante algo se salve no seu trabalho.