O ministro da Transição e futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), disse que “há um certo estardalhaço” sobre caso do ex-assessor do deputado estadual do Rio, senador eleito e filho do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), Flávio Bolsonaro (PSL). A declaração foi dada durante entrevista ao programa Canal Livre, da Band, exibida na madrugada desta segunda-feira (10).
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentação financeira atípica do ex-assessor Fabrício José Carlos de Queiroz, de R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Além disso, há um repasse de R$ 24 mil para a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O relatório foi produzido em desdobramento da Operação Lava Jato do Rio de Janeiro.
Onyx afirmou que essa questão terá de ser “desdobrada na investigação”, mas “acredita que há uma tentativa de desgastar a imagem do presidente eleito”, semelhante, segundo ele, à realizada durante a campanha eleitoral.
De fato, o caso todo parece ter ganhado uma dimensão desproporcional, mas em parte isso é justificável: Bolsonaro foi eleito com um discurso quase purista e jacobino contra a corrupção, vendendo-se como uma espécie de Robespierre tupiniquim. A bandeira da ética e da honestidade foi a mais importante em sua vitória. Qualquer arranhão nessa imagem, qualquer deslize, será obviamente explorado de forma intensa pela mídia, que não nutre muita simpatia pelo presidente eleito e sua família.
As redes sociais já espalham questionamentos sobre a isenção do Coaf. Onde estava a turma do Conselho quando Lulinha comprava apartamento de milhões? Onde estava o Coaf enquanto dona Marisa, falecida esposa de Lula, acumulava fortuna de mais de R$ 10 milhões? Não eram transações suspeitas, muito acima do que seus “empregos” pudessem justificar?
Essas mensagens insinuam que o Coaf estaria perseguindo Bolsonaro porque ele irá transferir a gestão para o ministro Sergio Moro, e petistas com ótimos salários serão provavelmente demitidos. Isso estaria por trás dessa aparente perseguição, ou no mínimo de uma seletividade na hora de investigar movimentações suspeitas.
No mais, como o Estadão divulgou, aliados de Renan Calheiros estariam chantageando Flávio Bolsonaro. Mandaram-lhe o recado de que, se ele continuar minando a candidatura do senador alagoano, o caso de seu assessor – revelado pelo Coaf – pode ir direto para o Conselho de Ética. Tudo muito estranho.
Dito isso, o senador e principalmente seu ex-assessor devem explicações, pois “o lado de cá” não pode passar pano em nada. Não é porque a quadrilha petista aprontou enquanto a imprensa e órgãos de fiscalização dormiam que isso pode servir de desculpa para “malfeitos” agora. Sequer usar como base de comparação a era lulopetista soa muito ruim: ser mais honesto do que essa gente é o mínimo que se espera de qualquer um!
O que se espera do governo Bolsonaro é uma postura republicana, ou seja, que efetivamente trate a coisa pública como… pública, e não privada, muito menos familiar. Essa cobrança virá não só de seus detratores cínicos, que faziam vista grossa para os abusos dos “companheiros”, como também dos próprios apoiadores sérios do ex-capitão. Afinal, votaram nele para mudar as coisas para valer, não para trocar de comando apenas. Que venham, portanto, explicações convincentes para tais movimentações nas contas do ex-assessor…
Rodrigo Constantino