Em artigo publicado hoje na Folha, o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Yoel Barnea, comentou sobre os debates recentes acerca do antissemitismo, que pode ter se adaptado aos tempos modernos, mas não desapareceu. Pelo contrário: continua firme e forte, agora escondido sob o manto dos ataques a Israel. E, pelo incrível que pareça, boa parte desse antissemitismo vem dos “progressistas”, como reconhece o cônsul:
O antissemitismo de hoje não se limita a setores do islã militante nem a alguns elementos xenofóbicos marginais da sociedade europeia. Ele está mascarado no chamado pensamento progressista do Ocidente. Alguns que se consideram campeões da tolerância transformam-se em intolerantes natos quando se trata de judeus e o Estado judeu.
O antissemitismo clássico representava os judeus como a personificação do mal. O antissemita moderno retrata o Estado judeu como a personificação do mal. Esse Estado é tratado hoje no âmbito internacional da mesma maneira que os judeus foram tratados pelas nações ao longo de muitas gerações.
E, é claro, não somos perfeitos e há muito que pode e deve ser melhorado no Estado de Israel. Mas construímos uma sociedade magnífica, que contribui à comunidade internacional com seus logros e experiências. Como é possível que Israel seja caluniado e difamado como nenhum outro país o foi?
Provavelmente porque entre os judeus hábitos, costumes e vícios morrem com muita dificuldade.
Acho que o cônsul-geral está certo. Os judeus, historicamente falando, demonstram maior resistência ao relativismo moral, que tomou conta dos tempos modernos. Por isso, apresentam, na média, costumes mais enraizados, e isso pode colocá-los em confronto com as autoridades estabelecidas ou o Zeitgeist, que nunca foi tão maleável e afeito a modismos.
Explicar o antissemitismo, ou a judeofobia, não é tarefa fácil. Afinal, vem de longa data e quase sempre existiu, em diferentes épocas e lugares. O mais espantoso, porém, é que Israel é difamado e atacado mais por suas virtudes que seus vícios hoje. Claro que o país merece críticas. Não há perfeição neste mundo. Mas a forma com a qual atacam Israel, e o evidente duplo padrão moral de seus ácidos críticos, mostram que há algo para muito além da legítima crítica construtiva.
Com base em ótimo livro de Dennis Prager e Joseph Telushkin, tentei resumir as origens dessa judeofobia aqui. Na resenha, escrevi: “Em resumo, ao se diferenciar como povo e adotar uma postura de ‘escolhido’ que segue um mandamento moral superior de seu Deus, o único existente, os judeus já estariam sujeitos à hostilidade dos demais”. Acho que essa postura de firmeza ou clareza moral por parte de muitos judeus desperta a fúria dos “progressistas” modernos, que às vezes preferem se unir aos reacionários fundamentalistas islâmicos só para destilar esse ódio contra Israel.
O mais importante de se ter em mente, no caso dos ocidentais não-judeus, é que essa postura tem profundos impactos sobre todos nós. É o que coloca Yoel Barnea:
Uma das principais mensagens que o Fórum Global de Combate ao Antissemitismo espera transmitir é que essa forma de ódio não é um problema apenas para o povo judeu. Onde quer que o antissemitismo seja permitido, as violações à liberdade de expressão e dos direitos básicos de outras minorias –das mulheres, dos ciganos, de minorias étnicas e da comunidade LGBT– seguirão ocorrendo.
No final, até mesmo o direito de viver livre do medo, da intolerância na direção de qualquer um com uma opinião diferente, aparência ou crença, será colocado em dúvida.
Foi exatamente o que escrevi aqui também, usando a metáfora do canário da mina. Quando a judeofobia aumenta nessa velocidade que vemos hoje, isso é alarmante para todos, não apenas para os judeus (o que já deveria nos revoltar, por empatia e senso de justiça).
Estou lendo o livro Submissão, de Michel Houellebecq, uma poderosa distopia que se passa num futuro próximo na França, e que deveria servir de alerta para todos nós. Os socialistas se unem aos muçulmanos contra a direita nacionalista, e o resultado não é nada bom. Os “progressistas” podem estar abrindo o caminho para os “moderados” muçulmanos, que carregam consigo um profundo ódio aos judeus. Ninguém estará imune aos estragos causados por esse avanço.
O combate ao antissemitismo, portanto, deve ser uma luta de todos. De todos aqueles que se revoltam contra as injustiças. De todos aqueles que admiram a pluralidade verdadeira, não aquela falsa dos discursos “progressistas” eivados de ódio e intolerância. De todos aqueles que reconhecem em Israel uma democracia próspera que legou ao mundo inúmeras conquistas, especialmente nas áreas de tecnologia e medicina. De todos aqueles, enfim, que prezam a liberdade.
Rodrigo Constantino
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