Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Em seu discurso de ontem no Congresso, Donald Trump invocou mais uma falácia para justificar suas políticas protecionistas: dessa vez, o argumento utilizado foi o famigerado “fair trade” (comércio justo).
A alegação de que haveria um comércio justo nos leva a inferir que exista um comércio injusto, o que é uma contradição em termos, já que, por definição, toda troca livre é voluntária e, consequentemente, vantajosa para todas as partes. Se você entra numa loja e compra uma camisa é porque valoriza mais o produto do que o dinheiro que pagou por ela. O raciocínio inverso vale para o dono da loja. Ninguém obrigou você a comprar em o vendedor a vender.
Se analisada a fundo, essa lengalenga de “comércio justo”, no sentido utilizado por Trump, é, na verdade, uma inversão completa de valores e, na maior parte das vezes em que é utilizada, nada mais é do que uma forma indireta de justificar a interferência dos governos nos mercados.
Ora, como o conceito de justiça é um conceito moral, e não econômico, comércio justo é aquele livremente ajustado entre compradores e vendedores, locadores e locatários, mutuantes e mutuários em qualquer transação. Justa é a troca que, acima de tudo, respeite a propriedade privada e a liberdade dos contratantes. Justo, portanto, é o preço que eu aceito livremente pagar em troca de uma mercadoria ou serviço.
Ao contrário do que sugere o presidente americano, o que determina, em última análise, a justiça de uma transação não é o custo efetivo do vendedor ou a capacidade de pagamento do comprador, mas principalmente as expectativas das partes em relação à transação e as alternativas disponíveis (custo de oportunidade).
O que é realmente injusto e imoral é taxar ou impor outros bloqueios à liberdade de os consumidores tentarem obter os melhores preços possíveis pelos produtos e serviços, enquanto se beneficiam os produtores locais com a possibilidade de cobrar preços que não conseguiriam se o comércio fosse livre. Bastiat ensinava que, sendo os interesses de produtores e consumidores muitas vezes antagônicos, principalmente porque aqueles lucram com a escassez, enquanto esses se beneficiam da abundância, os bons economistas deveriam tratar “todas as questões econômicas a partir do ponto de vista do consumidor, porque os interesses do consumidor são os interesses da raça humana.”
Suponha que, numa estratégia de marketing, os japoneses resolvessem doar um automóvel zero para cada motorista brasileiro. É óbvio que as consequências imediatas para a indústria automobilística local seriam muito ruins. Mas será que o governo deveria proibir tal doação? Se você ficou tentado a responder que sim, pense que todo o dinheiro poupado pelos motoristas com o presente japonês seria utilizado em outras aquisições ou simplesmente poupado, o que alavancaria bastante outros setores da economia. Esses outros setores nada mais são do que aquele personagem oculto de que nos fala Bastiat em seu famoso conto da “janela quebrada”.
Comentário do blog: Fiz meus comentários aqui sobre esse assunto, também mencionando Bastiat, mas com uma postura mais tolerante para com o protecionismo de Trump, caso faça mesmo parte de uma agenda geopolítica maior.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS