Por Erick Silva, publicado pelo Instituto Liberal
“Eu vejo o futuro repetir o passado”- Cazuza (O tempo não para, 1988)
Na história brasileira, um costume que os governantes e a sociedade civil exibem é o de replicarem os erros do passado. Se pararmos para observar, cometemos os mesmos erros de tempos em tempos: Juscelino Kubitschek adotou medidas nacionais-desenvolvimentistas para estimular o crescimento da economia brasileira. O resultado: alta inflação, recessão, dívida externa alta. Anos depois, o regime militar adotou essas mesmas medidas para estimular o crescimento da economia. A curto prazo, até funcionaram: Saltamos para a oitava economia do mundo.
Em compensação, isso gerou uma hiperinflação que levou mais de dez anos para ser derrotada. Mais de vinte anos depois, os governos Lula e Dilma implantaram os mesmos tipos de modelos desenvolvimentistas para estimular a economia. E os milhões de desempregados mostram o quão fracassado esse plano foi.
Mas piores que os erros dos governantes são os erros cometidos pelos setores da sociedade civil. O maior deles é o mal que assola o Brasil há várias gerações: a busca por um “salvador da pátria”, a busca por um líder que resolverá os nossos problemas e que levará o Brasil ao topo do mundo.
O brasileiro projeta um “salvador da pátria” de maneira periódica. Os “salvadores” são políticos populistas, cuja força se dá através de palavras de ordem; apoio popular massivo; suporte intelectual de pensadores, professores e escritores; e carisma (este último, o elemento mais importante para o surgimento de um “salvador da pátria”).
No Brasil, os populistas mais conhecidos foram: Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Lula, e o mais recente deles, Jair Bolsonaro. Esse artigo focará nos dois últimos, pois irei abordar um fato que aconteceu em larga escala na era petista e que está se repetindo no governo Bolsonaro: o governismo cultural.
Primeiramente, a definição. Governismo cultural designa os militantes que defendem o governo de maneira radical, como se ele fosse uma religião: para tal, eles defendem toda e qualquer frase dita pelo governante, não importa o quão bárbara essa frase seja (como a admiração explícita a ditadores, por exemplo); criam uma “esgotosfera” dedicada a publicar notícias, muitas vezes com fontes duvidosas, com o intuito de minar reputações de adversários e favorecer a imagem do governo; criam “milícias virtuais” para intimidar e atacar aqueles que ousam criticar o governo, além do fato deles serem extremamente organizados.
O governismo cultural ganhou força nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. Os governistas culturais atuavam em três “fronts” de batalha: o lado jornalístico, o lado intelectual e o lado militante. Os três lados atuavam em frentes distintas, mas ambos dependiam um do outro para sobreviver: o jornalista precisava do intelectual para obter estofo intelectual para publicar matérias, o intelectual precisava do militante para conseguir expandir suas ideias e o militante precisava de ambos para aplicá-las no jogo político. Juntos, os três lados criavam uma cadeia em que um alimentava o outro, com o intuito de ajudar o governo a empurrar a sua agenda.
O governismo cultural na era petista serviu para intimidar a oposição, blindar o governo de críticas e ocupar quase que inteiramente os espaços acadêmicos e culturais da sociedade brasileira (que já estavam sendo dominados antes da ascensão de Lula, mas isso se intensificou após a eleição dele). Durante esse período, eram poucos os que ousavam combater o petismo, como Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e a revista Veja, e os que combatiam eram fortemente atacados pela turba governista, chegando a receber ameaças de morte (caso de Reinaldo Azevedo, durante as Jornadas de Junho de 2013), ou ter a sede depredada (sede da Abril, editora da Veja, depredada por militantes da UJS em 2014).
Esse período também ficou marcado pelo silêncio ou até mesmo apoio da classe intelectual e artística frente a esses absurdos, bem como a radicalização dos militantes, que eram capazes de agredir não só verbalmente, mas também fisicamente quem criticasse o governo petista, além do uso das salas de aula para aparelhamento ideológico, com o intuito de avançar ainda mais a agenda petista.
Quando Dilma Rousseff foi deposta do cargo em Maio de 2016, a sensação era de que esses tempos difíceis ficariam apenas na história. Infelizmente, observo o governismo cultural ressurgir com força no governo Bolsonaro, impulsionado pela ala olavista. Os indícios estão ficando maiores a cada dia. E os métodos dos governistas em nada se diferenciam dos métodos petistas. Desde a defesa do uso da televisão estatal (rede EBC) para que o presidente possa dar as “verdadeiras” informações, desmoralização da imprensa tradicional, passando pelo culto ao líder, indo para a “esgotosfera” governista, até ao uso de dinheiro público para financiar militantes profissionais, o bolsolavismo se assemelha muito ao lulopetismo.
O grande mal do século é o governismo cultural. Ele é um câncer em metástase, que pode se apresentar de diferentes formas, mas que possui um efeito devastador. O governismo cultural promove ameaças à liberdade de imprensa e de expressão pelo fato de funcionar como uma espiral do medo, já que os militantes utilizam a intimidação como forma de calar os opositores. Uma sociedade só consegue prosperar por completo quando o cidadão consegue se expressar sem medo. E para que isso aconteça, é fundamental que os defensores da liberdade combatam o governismo cultural, e impeçam que esse câncer se espalhe pelo país.
Sobre o autor: Erick Silva é graduando em Administração pela UFRRJ.
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