Em sua coluna de hoje no GLOBO, Guga Chacra mostra como os “progressistas” vivem numa bolha infantil, onde tudo parece se resolver com uma boa conversa num chá das cinco civilizado. São como a personagem de Jodie Foster em “Deus da Carnificina”, de Polansky, que acreditava no conto de fadas confundindo a minúscula vizinhança perto do Central Park em Nova York com o mundo todo. Precisou ser enquadrada pelo pai do garoto que brigou com seu filho, personagem de Christoph Waltz.
Voltando ao texto de Guga, reparem como ele confunde seus companheiros da Columbia University com os habitantes do Oriente Médio:
Não há certo ou errado no conflito entre Israel e Palestina Tampouco existe ser “pró-Israel” ou “pró-Palestina”. Pode ser os dois. A maior parte das duas populações quer viver em paz e segurança e ter uma vida normal. Um soldado israelense talvez fosse amigo de um palestino do outro lado da cerca na Faixa de Gaza caso os dois se conhecessem em uma universidade nos EUA.
Falo porque tive amigos israelenses e palestinos que se davam superbem quando estudei na Universidade Columbia em Nova York. Discordavam, tinham suas narrativas, mas em campo neutro percebiam que tinham muito em comum. Em discurso hoje na formatura da New York University, o premier canadense, Justin Trudeau, corretamente afirmou que as pessoas vivem dentro de suas “tribos” (ou bolhas), nas quais todos compartilham seus pensamentos, em vez de tentar dialogar com quem discorda.
Guga começa já equivocado, ao invocar seu relativismo moral como se não houvesse certo ou errado num conflito em que um lado usa suas crianças como escudo humano e tenta alvejar as crianças do inimigo, enquanto o outro lado tenta proteger suas crianças e chora quando acerta, por engano ou falta de opção, as crianças do lado adversário. Como assim não há certo ou errado aqui? Israel é uma democracia, Hamas é um grupo terrorista.
Mas o ponto central é a ilusão do colunista ao mencionar seus colegas universitários, que discordavam de forma mais civilizada. Citar Trudeau, o ícone dos “progressistas”, chega a ser irônico, ainda mais para falar das bolhas tribais. Guga não é capaz de perceber que ele mesmo está aprisionado numa dessas bolhas, em contato apenas com gente “limpinha”, com as elites “esclarecidas” dos dois lados, não com o povo.
Não é por acaso que foi o mesmo Guga quem disse que Trump não tinha a menor chance de vencer as eleições, dando como evidência o fato de que não conhecia ninguém que votaria nele! Tomar seu próprio mundinho fechado como amostra representativa do universo todo é mesmo o cúmulo, ainda mais para um jornalista. Guga só circula nos meios “progressistas”, mora em Nova York, trabalha na GloboNews, lê NYT e vê CNN. Seu mundo é limitado a quem já pensa como ele, quem é de esquerda.
Claro que ia sobrar para Netanyahu e Trump no artigo, portanto: “Netanyahu nunca foi um homem da paz e pouco se importa com os palestinos. Abbas não tem legitimidade após declarações antissemitas. O Hamas, por sua vez, usa táticas terroristas. Trump, ao adotar a agenda de Netanyahu, abandonou qualquer possibilidade de ser um mediador neutro para o conflito. Israelenses e palestinos apenas terão chance de voltar a sonhar com a paz quando uma outra geração de líderes surgir e estes tenham empatia pelo adversário, como Rabin teve”.
O que Guga chama de “mediador neutro” tem que ser alguém que se mostra indiferente ou equidistante entre Hamas e o primeiro-ministro democraticamente eleito de Israel? Será que Guga não percebe que o convívio pacífico e civilizado entre israelenses e palestinos já existe, e não só em Columbia, mas no próprio Oriente Médio, mas apenas dentro de Israel? Se um palestino entrar legalmente em Israel, poderá conversar com judeus. O que acontece se judeus entrarem na Faixa de Gaza do lado palestino, dominado pelo Hamas?
Pois é. Essa “equivalência moral” é típica de quem quer posar de “isentão” e ganhar elogios das elites palestina e israelense, provando como é esclarecido, tolerante e pacifista. Mas no mundo real não são essas pessoas que garantem alguma paz possível no mundo, um lugar em que fanáticos e terroristas existem, infelizmente. E não é chamando um fanático ou um terrorista para uma conversa na cafeteria da universidade que esse problema será evitado…
Rodrigo Constantino
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