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Por Ianker Zimmer, publicado pelo Instituto Liberal

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Você já assistiu ao filme Repórteres de Guerra? Ele é baseado em fatos reais e sua trama envolve um grupo de fotojornalistas chamado “BangBang”, que cobria o fim do apartheid na África do Sul, em momentos de guerra civil extrema e violenta no local. Entre os fotojornalistas, estava o jovem Kevin Carter.

Os fatos reais: em 1993, Kevin partiu para o Sudão do Sul (nordeste africano). Seu trabalho no país rendeu a ele, em 1994, o Prêmio Pulitzer (mais importante do jornalismo mundial) por uma fotografia que tirou de uma criança desnutrida, retratando a fome que assolava o país naquele período.

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O sonho de quase todo jornalista no mundo é receber um Pulitzer; aqui no Brasil um Esso; no Rio Grande, um Prêmio Press. Tais reconhecimentos indicam que o profissional está realizando um bom trabalho. E Kevin chegou lá. Teve seu trabalho aplaudido… mas por pouco tempo.

Após ser vendida ao The New York Times e ser repassada a jornais de todo o mundo, a imagem chocante retratada por Carter repercutiu e gerou muita polêmica; e a partir disso, o papel do jornalista foi colocado em cheque: afinal, o que Kevin deveria ter feito – registrado a foto ou ajudado a criança?

Hoje, sem presenciar e vivenciar o calor (ou a frieza) daquele momento, penso que faria o registro da foto para mostrar ao mundo a situação terrível pela qual passava o país, mas principalmente o flagelo da criança desnutrida.

Apesar de Kevin ter oferecido indícios de que tinha essa intenção – a de ajudar -, foi repudiado por muitos na época, pois classificaram esse tipo de jornalismo como “sensacionalista”.

É importante salientar que a criança estava em uma zona monitorada pela ONU (é possível ver na foto uma pulseira de identificação no pulso direito do menino, inclusive). Naquele momento – do registro da foto -, de acordo com o colega de Kevin, João Silva, um avião da ONU chegara para trazer comida e, quando isso ocorria, normalmente os pais das crianças saiam para buscar os alimentos, deixando, inevitavelmente, as crianças sozinhas. Uma delas era o menino da foto, que se chamava Kong Nyong e que, como observamos na foto, estava em um estado de desnutrição crítico.

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Apesar da gravidade da situação, da extrema miséria e das precárias condições de saúde do menino, ele sobreviveu àquela grave desnutrição. No entanto, segundo seu pai, Kong morreu já adulto, em 2006, devido a complicações de uma febre.

E Kevin?

Infelizmente, Carter cometeu suicídio aos 33 anos de idade. O jovem fotojornalista foi contemplado com o maior prêmio do jornalismo mundial, mas isso não bastou para suprir a dor e o vazio que aquela imagem deixara em sua alma. Vencer o Pulitzer agravou sua situação, pois foi exposto.

O jornalismo existe para servir à sociedade e Kevin tentou cumprir essa missão: servir. Se ele acertou ou errou, não sabemos. Quem pode julgar? De fato, é importante mencionar, os olhos do mundo se voltaram para aquele país – pelo menos naquele momento – depois do conhecimento do caso do menino sul-sudanês. No entanto, o Sudão do Sul ainda é um país extremamente pobre e conta com zonas de conflito.

Dilema: mas e você, o que faria no lugar de Kevin?

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É o que muitos se perguntam até hoje, sendo jornalistas ou não. O certo é que ser jornalista não é tão fácil nem tão simples como parece ser, especialmente em zonas de conflito como aquela.

Reflexão profissional: ao ver o abutre fitando a pobre criança, é impossível não sentir dor ou algum desconforto. Nada perto do que o menino deveria estar sentindo naquele momento, é verdade.

Kevin Carter foi um herói incompreendido por muitos, que o acusaram de fazer jornalismo sensacionalista. Isso ele não fez. O que ele fez foi mostrar ao mundo o que o mundo não queria ver (metonímia que uso para me referir ao seu humano). Esse foi seu erro. O mundo não quer ver algumas coisas. E o mundo não queria ver a realidade do menino Kong.

A analogia: coincidência – ou não – chama-se o jornalismo sensacionalista de jornalismo “abutre”. Há um filme, inclusive, com esse título e que trata sobre o tema, ou seja, sobre os abutres que vendem a alma em troca de sensacionalismo barato em notícias.

Agir como abutre sensacionalista é, mais ou menos, como o tal The Interceptagiu. Enquanto Kevin tentou ajudar a resolver uma situação de drama humano com sua ferramenta, a câmera fotográfica, os abutres do Intercept violaram leis, regras e normas para destruir uma operação que salvou o Brasil de abutres políticos e colocou ladrões e corruptos na cadeia. Lógico que não se trata apenas de sensacionalismo, claramente há interesses no meio disso. Seriam apenas ideológicos?

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Falando em abutre, agora ouvi dizer que um jornalista se fez passar por cliente de uma psicóloga, que é nora de presidente da República, para tentar extrair alguma informação que, certamente, seria usada de forma sensacionalista. Entrar disfarçado no ambiente de uma profissional que está em pleno exercício da profissão e focada em ajudar pessoas, com a finalidade de buscar conteúdo para coluninha de fococa é, me desculpem, coisa de abutre.

Assim como o abutre (animal) do Sudão do Sul observava o menino Kong Nyong esperando o momento certo de rendê-lo como sua presa para obter sua refeição do dia, os novos abutres, como o Intercept, anseiam por sua caça diária. E o cardápio dos sonhos é tentar imobilizar a Lava Jato, desmoralizá-la e dar fim nela.

Violar e roubar dados, espionar, agir com má fé em falsa consulta (no caso do jornalista que enganou a psicóloga)… tudo é válido para o abutre que está em busca de sua refeição. Às vezes, a refeição é ver o oponente ideológico sendo esfaqueado em campanha eleitoral e, nos casos mais graves, o abutre pode ser um(a) ex-candidato(a) à vice presidência da República que saliva por uma refeição toda especial: ver a Lava Jato interrompida e ver solto o maior abutre de todos: aquele que idealizou e permitiu o desvio de bilhões de reais oriundos dos suados impostos pagos pelos trabalhadores brasileiros. Dinheiro, esse, que mataria a fome de muitas crianças em situação vulnerável no país, aliás.

Sim, Bolsonaro errou ao afirmar que não há mais fome no Brasil (embora já tenha se retratado de tal impropério), até porque essa sempre foi uma mentira contada pela propaganda petista, que se apropriou do discurso de partido defensor dos pobres e criou a falácia de ter findado a fome.

A humanidade e a dignidade de Kevin não o permitiram suportar tamanha dor pela qual passara ao se deparar com a fragilidade de uma criança desnutrida e desprotegida diante de um feroz abutre – e aqui não faço qualquer apologia ao suicídio.

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Enquanto isso, o Brasil está infestado por abutres que – sem escrúpulos – buscam, a cada dia, fazer da desgraça alheia sua refeição. Como escrevi acima, tudo por desmoralizar a mais importante operação já realizada no Brasil e tentar voltar ao poder para ter, mais uma vez em mãos, a chave do cofre.

Para findar: Kevin Carter foi um incompreendido, o Sudão do Sul ainda precisa de ajuda e a Lava Jato deve ser protegida dos abutres que a tentam devorar.

*Ianker Zimmer é jornalista.