Bolsonaro joga xadrez. Ao menos melhoramos nas analogias: enquanto Lula falava só usando metáforas futebolísticas, Bolsonaro deu um upgrade e agora faz analogias com o jogo da inteligência, dos Kasparov da vida. O presidente comparou nesta terça-feira o governo a um jogo de xadrez e afirmou que a dama (ou rainha) corresponde à Procuradoria-Geral da República:
Pessoal, vamos imaginar um jogo de xadrez no governo, vamos imaginar? Jogo de xadrez. Os peões seriam, em grande parte, quem? Os ministros. Lá para trás, um pouquinho, o Moro, da Justiça, é uma torre. Paulo Guedes, um cavalo. E a dama, seria quem? Alguém tem ideia? Quero ver se vocês são inteligentes. Quem seria a dama? Qual autoridade seria a dama? Que pode ser um homem, obviamente. Não, o presidente é o rei. A dama é a PGR. Tá legal?
Como lembra a reportagem do GLOBO, apesar de Bolsonaro tratar a PGR como parte do governo, o Ministério Público tem independência. O procurador-geral é indicado pelo presidente e precisa ser aprovado pelo Senado, e tem um mandato de dois anos.
Na semana passada, Bolsonaro havia dito que está em dúvida entre três nomes para decidir sua indicação para a PGR. O prazo do mandato da atual procuradora-geral, Raquel Dodge, termina no dia 17 de setembro. O presidente já disse que não tem data para escolher o nome e que pode manter o subprocurador-geral Alcides Martins como interino no cargo.
Essa indefinição na escolha do próximo PGR foi o tema do comentário de hoje no Jornal da Manhã da Vera Magalhães. A jornalista alega que essa postura de indecisão do presidente está gerando tensão no Ministério Público. A página “penso estranho” levantou uma hipótese interessante, na mesma linha, de que tipo de jogo de xadrez o presidente estaria jogando:
Já um bolsonarista, que tem mais de 80 mil seguidores no Twitter, celebrou que o Coaf não acabou, mas continua operante, sem se dar conta de que estava justamente corroborando as suspeitas de que ele poderia ser aparelhado pelo governo para fins pessoais ou políticos do presidente:
O republicanismo está em falta no Brasil. Aliás, sempre esteve, e na América Latina como um todo. O PT, por exemplo, fazia total confusão entre partido, governo e estado, achando que os dois últimos existiam para atender aos interesses do primeiro. Bolsonaro não tem um partido, apenas usa o PSL. Mas vem dando preocupantes sinais de que encara órgãos de estado como uma extensão do seu governo, o que é rasgar o conceito de república.
O PGR deveria ser escolhido por critérios estritamente técnicos, com base em sua capacidade e independência para liderar essa fundamental peça no tabuleiro político, que tem nos pesos e contrapesos o melhor mecanismo para impedir excessivo avanço de uma das esferas de poder. Espero que Bolsonaro não dê um xeque-mate no republicanismo!
Rodrigo Constantino