O que marca o “progressismo” é uma crença infantil na natureza humana, como se a diplomacia fosse sempre viável e desejável, e o confronto direto ou mesmo uma guerra nunca fossem parte da solução. O caso mais evidente disso está na “crise” venezuelana. Sejamos francos: uma quadrilha socialista tomou o poder com Chávez e até hoje está no comando do país, com mão de ferro e muita repressão, mantendo o povo como refém. Mas há quem pense, ainda, que a saída é o diálogo.
Em seu editorial de hoje, o GLOBO sugeriu exatamente este caminho, como se há anos não pregasse a mesma receita, cujo resultado está aí para quem quiser ver. O “diálogo” nos trouxe aonde até agora? Numa ditadura cada vez mais sanguinária, numa destruição total da economia da nação, numa miséria sem precedentes, enquanto o ditador vai degustar dos melhores e mais caros restaurantes do mundo. Não obstante, eis o que diz o editorial do jornal carioca:
As declarações do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmando que uma intervenção militar na Venezuela não pode ser descartada, causaram compreensível mal-estar e indignação na região. Onze dos 14 países que formam o Grupo de Lima, órgão multilateral criado no ano passado a fim de negociar uma saída para a crise venezuelana, expressaram ontem preocupação e rechaçaram qualquer ação militar contra Caracas, em comunicado assinado por Brasil, Argentina, Costa Rica, Chile, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia.
Para estas nações, a experiência de intervenções externas no continente nas últimas décadas do século passado resultou em golpes militares e regimes ditatoriais de triste memória. Não se trata de apoiar o presidente Nicolás Maduro, herdeiro de Hugo Chávez, que afastou a Venezuela da democracia, com todos os seus defeitos, e mergulhou o país numa crise econômica e social sem precedentes, a ponto de gerar um êxodo de refugiados para países vizinhos, exportando os efeitos negativos da sua péssima gestão. Mas isso não autoriza a quem quer que seja rasgar a Constituição.
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A solução para a crise venezuelana passa necessariamente pelo diálogo e a diplomacia. E, para isso, é necessário que a oposição atue de forma organizada e unida, buscando restituir pela via da participação política a normalidade.
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Não faz sentido apoiar um golpe militar, se a meta é devolver o país à normalidade democrática. Nesse sentido, em vez de boicotar as eleições e agir de forma fragmentada, é preciso que a oposição venezuelana ocupe seu espaço na vida política do país, colocando-se como opção viável para a população. Maduro, porém, precisa continuar a ser pressionado.
Maduro, o ditador cada vez mais absoluto do país, será pressionado com palavras, com retórica, com diplomacia? E onde isso funcionou? Em Cuba? A crença do jornal nessa via diplomática chega a ser constrangedora, de tão inocente e ingênua.
Isso remete ao filme “Deus da Carnificina”, em que a personagem de Judie Foster acredita que a conversa resolve sempre tudo, como se o mundo fosse o Central Park. É preciso que o personagem de Christoph Waltz “toque a real” para ela, lembrando como vivem os africanos, como resolvem seus problemas na prática.
Será que não aprenderam nada com o fracasso de Chamberlain? Alguém acha mesmo, em sã consciência, que é possível derrubar Maduro com pressão diplomática? E mesmo para a diplomacia funcionar, sempre é preciso existir a ameaça concreta da ação militar por trás. Não entender isso é viver no mundo do faz de conta, das ilusões, como se bastasse “conversar” com um tirano para que ele agisse em prol dos interesses de seu povo, aceitando o peso dos argumentos racionais.
Alguém precisa dizer o óbvio: Maduro só cai se houver pressão ou ação militar, armada, revolucionária. Qualquer outra saída é utópica e romântica. E os milhões de venezuelanos jogados no completo caos não têm tempo a perder com ilusões da elite “progressista” no conforto de suas casas.
Rodrigo Constantino
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