Por Antonio Pinho, publicado pelo Instituto Liberal
A proposta do Ciência Sem Fronteiras era simples: enviar estudantes para universidades de ponta no exterior para que voltassem ao Brasil, desenvolvendo aqui a ciência e a tecnologia, o que traria ganhos econômicos. Em tese este era o argumento. Contudo, o argumento é falacioso e ocultava um interesse populista bem claro. A intenção real do PT era usar este programa para fins eleitoreiros, para propaganda. A intenção era comprar a adesão da futura elite intelectual para o projeto petista de perpetuação no poder. De fato, quem ganhou uma bolsa do governo terá muita possibilidade de, no futuro, continuar defendendo os políticos que usaram a máquina estatal para financiar seu turismo no exterior. É a mesma lógica do funcionário público: que funcionário público defende, de coração, um estado mínimo e a privatização da estatal em que trabalha? Ou seja, creio que o Ciência Sem Fronteiras, muito provavelmente, tenha sido uma forma legalizada de propina, com o PT usando bolsas para comprar a obediência das almas dos jovens para o seu projeto de poder. Temos bons motivos para nisso acreditar, porque com o Bolsa Família o PT quis justamente comprar a obediência e o voto dos pobres.
Na prática, o Ciência Sem Fronteiras virou um verdadeiro turismo sem fronteiras. Qualquer um que tem amigos universitários ouviu relatos de jovens que foram para o exterior mais para viajar e se divertir do que para estudar. A maioria caiu na gandaia mesmo, e apenas uma minoria levou o estudo a sério. Montanhas de dinheiro dos pagadores de impostos foram gastas para bancar a farra, mais especificamente R$ 3,7 bilhões em 2015. E o retorno para o Brasil? Aparentemente nenhum.
O PT, na sua maldade eleitoreira, inverteu a lógica. Se há a necessidade de se desenvolver a ciência e tecnologia no país, o caminho seria contratar os maiores cientistas do mundo para que se mudassem para cá, formando a nova geração de acadêmicos. Um professor pode dar aula para centenas de alunos, e se gastaria com apenas uma pessoa. Os custos seriam muito menores e o resultado mais eficiente. Mas fizeram o contrário, no lugar de trazer o professor do exterior, levaram os alunos para lá.
A USP iniciou com uma “importação de cérebros”. Como na época de sua fundação poucos eram os acadêmicos brasileiros qualificados, houve a necessidade da contratação de professores no exterior. Este foi o caso de Lévi-Strauss, talvez o maior antropólogo do século XX, que veio ao Brasil para ajudar a fundar uma das primeiras universidades nacionais. Algo semelhante poderia ser feito no presente, com a seleção de cientistas de qualquer parte do mundo que tenham elevado saber. Mas duvido que os professores das universidades federais aceitarão algo assim. O que eles querem é reserva de mercado.
As universidades federais raramente se abrem para acadêmicos do exterior e para a inovação. Geralmente os concursos são feitos apenas em português, o que impossibilita a vinda de estrangeiros. Há, portanto, uma burocracia universitária que, propositalmente ou não, conspira para que as faculdades continuem medíocres ad aeternum. A estabilidade no emprego é garantia de ensino péssimo. O professor pode ser um total incompetente, fazendo pesquisas irrelevantes, mas nunca será demitido. Necessitamos sim é de universidades sem fronteiras, abertas e atrativas para os melhores cérebros do mundo. Mas até lá há uma luta gigantesca contra o bairrismo que reina na cultura acadêmica nacional.
Sobre o autor: Antonio Pinho é mestre, bacharel e licenciado em Letras pela UFSC. É professor e escritor.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS